sexta-feira, 23 de novembro de 2007

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO IV


*Do Provincianismo português:

Depois de muito calcorrear a pé o vosso Reino rectângular, arquitectei uma tipologia do vosso provincianismo. A título de exemplo, irei relatar-vos algumas conversas que ouvi nas mais variadas e distantes terreolas do vosso território imperial:


a) Na vossa Província, ainda existem três grandes tipos de provincianismo:

1º Tipo: um provincianismo de ressentimento que brota de um intenso e injustificado complexo de inferioridade em relação a Lisboa. Este género de mentalidade é típico dos vossos régulos locais e da sua respectiva classe social.

Eis uma conversa que ouvi a dois caciques locais:

--Ó Mendes, que me dizes a isto?

--Quê? Não vês que estou ocupado a enviar cheques-galinha aos nossos eleitores?

--Caga lá nesses frangos depenados que passam o tempo todo a votar na gente. Tenho uma proposta indecente a fazer-te: que tal irmos a Lisboa visitar umas meninas muito simpáticas que trabalham no Elefante Branco?

--Não vou!

--Anda daí. Vais ver que não te vai faltar nada.

--Não vou, porque os elefantes nascidos em Lisboa julgam-se superiores aos nossos.


2º Tipo: um provincianismo patrioteiro que admira tudo o que é estrangeiro mas que, ao contrário do vosso provincianismo lisboeta, não o idolatra. Esta forma de pensar é típica de uma certa classe média baixa.

Eis uma conversa que ouvi a dois rapazolas num bar:

--Eh pá, arranjei agora uma alemã de se lhe tirar o chapéu!

--Ai sim? Conta, conta! A gaja é boa?

--Boa? Tás parvo ou fazes-te? A gaja é um avião! Não queiras tu saber…

--Que tal é a gaja nas aterragens?

--Pá, ela aterra com a mesma facilidade com que descola da pista. Aquilo é material de primeira, que é que tu julgas?

--Não gosto da Lufthansa, prefiro a TAP.


3ºTipo: um provincianismo de bairro que brota de uma profunda baixa auto-estima e desemboca muitas vezes num bairrismo parvalhão e bacoco. Esta “concepção do mundo” é característica da pequena burguesia e, curiosamente, de uma certa classe média alta.

Aqui vai uma conversa que ouvi a dois velhotes:

--A nossa terra é a maióri!

--É sim senhôri!

--O nosso clúbi é o maióri!

--E sim senhôri!

--O pádri da nossa igreja é o mais rico de Portugáli!

--É sim senhôri!

--As nossos campos são as mais bonitos de Portugáli!

--São sim senhôri!

--A tua mulher tem um furúnculo na nádega esquerda que é o mais bonito melhóri di Portugáli!

-- É sim senhôri!


No que toca a Lisboa, deparei-me com dois tipos de provincianismo:

1ºTipo: um provincianismo de poder relativamente à Província, que encerra dois matizes básicos, a saber:

1º Subtipo: a Província ainda é muito antiquada e é um lugar perfeito para passar férias ou ter uma casa de campo que se pode e deve ostentar junto dos amigos. Este modelo de provincianismo, no qual me incluiria se fosse português, é característico de uma certa classe média que imigrou para a capital do vosso Reino há uma ou duas duas gerações.

Eis uma conversa entre dois rastas da Moita:

--Pá, e foi então que o gajo começou a mandar vir comigo….

--Que foi que ele te disse?

--Eh pá, o gajo não abriu a boca, mas tal atitude obrigou-me a manifestar o meu vivo repúdio por tudo o que o gajo parecia que ia dizer mas não disse, não te parece que fiz bem?

--Fizeste bem. E o gajo?

--O gajo acenava que sim com a cabeça, como se pretendesse mandar-me àquela parte, tás a perceber?

--Que é que uma coisa tem a ver com a outra?

-- Não tem nada a ver, mas podia ter tido a ver. Repara, o gajo era da Província e com esses gajos todo o cuidado é pouco.

--Mas que foi que ele te disse?

--Nada, o gajo não disse nada. Mas podia ter dito.

--E tu? Que foi que lhe disseste?

--Pá, foi então que me lembrei daquele episódio d`Os Lusíadas, o do Gigante Amesterdão.

--O Gigante Adamastor, queres tu dizer

--Sim, o do Gigante Amesterdão. Pá, assim que comecei a declamar o episódio, o gajo, que só por ser da Província era muito ignorante, foi-se logo embora…E foi assim que me livrei de uma discussão que podia ter acabado mal, muito mal.

--…Que podia ter começado mal, queres tu dizer…

--Sim, pá, que podia ter acabado mal, muito mal…



2º Subtipo: a Província mudou muito, está mais desenvolvida, mas nós é que somos a Capital e não lhes devemos ceder os nossos pergaminhos. Este tipo de tacanhez é característico de uma certa classe média-alta lisboeta que já perdeu a sua oriundez provinciana e se assume como uma espécie de “aristocracia”


2º Tipo: um provincianismo de submissão parva ao estrangeiro. Este género de provincianismo, característico das vossas “classes dirigentes”, nutre um desprezo total pelo vosso país real, e tem o condão de fazer figuras tristíssimas num mero contacto com alguém de fora.


Esta conversa entre dois lisboetas ilustra grosso modo o tipo e o subtipo anteriores:

--Padre Ambrósio, a Povíncia é muito atrasada, não é?

--Quem me chama? Quem me vê?

--Sou eu, o Alípio Figueira, o seu acólito, padre Ambrósio.

--Dize, meu filho, dize.

--A Povíncia é muito atrasada, não é?

--Dize, meu filho, dize.

--Nós somos muito aristocratas, padre Ambrósio, não é verdade?

-- Dize, meu filho, dize.

-- Padre Ambrósio, as pessoas da Província cheiram todas mal dos pés, não é verdade? E isso é o máximo, não é?

--Cheiram, meu filho, ui se cheiram! Sim, isso é o máximo!

--Padre Ambrósio, é na nossa classe social que é recrutada a elite dirigente, não é verdade?

-- Cheira, meu filho, ui se cheira mal dos pés!

-- Padre Ambrósio, é a nossa classe social que fornece os imbecis que ocupam cargos em Lisboa que não servem para nada, não é verdade?

Eis senão quando se aproxima um estrangeiro qualquer:

--Can you speak English?

--Oh yes, yes, yes, yes yes yessssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

--How may we help you, Sir?

--Pá, cocem-me as costas, nowwwwww!

--Oh yes, yesssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss yes,sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

--Pá, cocem-me aí quelque choseeeeeeeeeee…

Sim! oui! oui! oui! ouiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

--Caramba, tu és mais que nós! Tu és estrangeeeeeiro!

--Sinhe, suou um gaijo de Nanterre nascido no Puerto, carago!



Sarja Akhmani, repórter iraniano

terça-feira, 20 de novembro de 2007

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO III


*Dos paranóicos

Dois amigos conversam animadamente:

--“Pá, sabes como é que as coisas são. Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré!”

De cada vez que vou na rua e ouço alguém a usar esta expressão, fico com a estranha sensação que é de mim que estão a falar.


*Dos slogans sobre o tabagismo:

Ter cancro provoca o tabagismo

Fuma ganza e serás de pedra

Fuma muito e serás pouco

Há fumar e fumar, há ganza e voltar

Quem bem me fuma, meu amigo é

Fuma, fuma, rabbit, fuma!

Finalmente, fumemos Papam!

Cigarrus és, beatus serás!

Fume bem para morrer melhor

A Carmen era o cigarro, o dom José uma beata de fumo

Viver deita fumo

Se tudo é fumo, então deus é a tabaqueira

Meus Irmãos, fumemo-nos uns aos outros!


*Da hipocrisia dos portugueses:

O português é tal modo hipócrita que sempre que diz bem de alguém julga que é de si próprio que está a falar.


*dos deveres das fortezinhas

As mulheres muito fortes, com muitos pneus e que passam o tempo todo a conduzir deveriam pagar imposto multi-pneus.


*Da lucidez matinal

Acordar lúcido é abrir os olhos na firme convicção de que o Pedro Santana Lopes é a última reencarnação do conde Saint-Germain.


Sarja Akhmani, repórter iraniano

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO II


*Da gratidão

A camelo dado não se olha a prótese.

*Da traição amorosa

Faz sempre as enxadas com a mulher que te trocou por outro. Relativiza a tua dor e alegra-te com a felicidade deles. Que diabo, temos que ser uns para os outros! Portanto, continua com a tua vida e deixa para trás o ressentimento.

P. S. Uma vez feitas as enxadas com ela, pensa que a cabeça dele é um mundo que merece ser escavado.

*Da incontinência urinária:

Sofrer de incontinência urinária será o mesmo que fazer a continência a um urinol?

*Da discriminação racial

Confesso que fico em estado de choque tecnológico com a discriminação de que têm sido alvo os africanos, os ciganos, os palestinianos, os judeus, os homossexuais, e as lésbicas. Combater os preconceitos contra as minorias não é só um imperativo ético nacional, mas também um ditame estético artur bual.

Acresce a tudo isto uma nova forma de racismo que tem vindo ultimamente a assumir proporções gravíssimas, a saber: a fortíssima discriminação de que têm sido vítimas as formigas rabequistas.De rabeca aos ombros e bigodes lacrimejantes, aí estão elas, magras de dor e aos tombos do desgosto, ignoradas das grandes orquestras da Europa.

Em noites de lua cheia, aos bandos e entre frestas e frinchas e prantos, choramingam as suas patitas nas batutas das patitas de maestros encrespados de preconceitos anti-rabeca.A desoras da vida e da engenharia de Bach, entregam-se umas quantas ao prazer ilusório e traiçoeiro do álcool, enquanto outras tantas se deixam beber pelo real e efectivo prazer do álcool.

Arlequins na tristeza circense da sua pequenez, estes seres diminutos são hoje em dia autênticos anjos de abdicação insecticidal. Ao cabo de muita angústia e ostracismo acabam sempre por sucumbir, inevitáveis e mortas, nas ruas sem música das grandes cidades europeias, sob o silêncio das botas e dos pneus da discriminação racial.

Declaro iranianamente a minha impotência perante tamanha injustiça social. Vítimas de uma sociedade pela qual não são minimamente responsáveis, as formigas rabequistas são, afinal de contas, minúsculas barcaças carregadas de uma dureza rude e preta de vida que poucos conseguem imaginar. Europeus, despertai! As formigas rabequistas são os índios da vossa América!

Sarja Akhmani, repórter iraniano

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO I



*Das reuniões:

Assistir a uma reunião chata será o mesmo que viver no interior do intestino grosso do Pedro Santana Lopes?

*Do Ensino Secundário:

Não, os Liceus portugueses não são um inferno. A ministra da educação é que sofre de um acentuado défice de celestialidade.

*Do consumismo:

Uma vez comprei um gato que fazia muuuuu. Dei-lhe um rato a comer. O rato, português esperto, comeu o rato que o gato tinha devorado antes dele. Foi então que o gato se pôs a miar, já com o primeiro rato dentro do bucho do segundo rato.No entanto, o que mais me fez espécie nesta estória foi o facto de o manual de instruções do gato vir em estrangeiro. Acho que fui enganado. Pergunta: a que instituição deverei apresentar queixa?

*Sobre Portugal:

Portugal é um país de brancos costumes ou de brandos curtumes?

*Dos ricos e da riqueza:

Gostaria de ser rico para poder desabafar em privado: “Ah, quem me dera a mim ter os problemas dos pobres para poder sonhar que um dia serei rico”

Sarja Akhmani

DUAS FARSAS DE SARJA AKHMANI:

OS CHIMPAZÉS




DRAMATIS PERSONAE:

Primo Bisconde, chefe do bando e primo de todos os chimpazés.

Correia Chimarrão, um general do exército chimpazé.

Firmino, tio de Correia Chimarrão.




Algures, na selva….


Primo Bisconde

Fala mais baixo, Correia Chimarrão. Olha que levas! Que é que se passa contigo? Pareces stressado...Sabes, passei a noite toda a arranjar o GPS do teu tio Firmino e preciso de ir descansar.

Correia Chimarrão

Primo Bisconde, Primo Bisconde, eles já sabem de tudo, carago, Primo Bisconde! Morcounhes duma figa, carago, Primo Bisconde! Eles já sabem de tudo, carago, Primo Bisconde! Mooouros duma figa, carago, Primo Bisconde!

Primo Bisconde

Cala-te, tás bêbado! Eles já sabem de tudo…Ó Correia Chimarrão, tem mas é tino nessa cabeça! Essa agora! Eles, quem? Os Dreads?

Correia Chimarrão

De maneira nenhuma, Primo Bisconde! Nomhe! Nom son os Dreads, carago, Primo Bisconde! Son os…

Primo Bisconde

…Os Metálicos?





Correia Chimarrão

Nomhe! Primo Bisconde, nom som os Metálicos, Primo Bisconde! Son os…

Primo Bisconde

Correia Chimarrão, temos de arranjar um bode expiatório. Se assim não for, como poderei justificar o meu poder sobre a nossa tribo? Hum…Aposto que foram os Góticos, esses irresponsáveis que andam pelos nossos cemitérios a ler aquele tipo americano…Ai como é que ele se chama?

Correia Chimarrão

O Ulisses no País das Marabilhas, Primo Bisconde?

Primo Bisconde

Arre! Não sejas parvo, homem! É o…Tenho o nome dele debaixo da lingua…Ajuda-me, Correia Chimarão…É o…

Correia Chimarrão

A Alice no País das Mil e uma Noites, primo Bisconde?

Primo Bisconde
Não digas disparates, Correia Chimarrão! É um escritor, homem, de quem os Góticos gostam muito…É o…Ai esqueci-me do nome dele…

Correia Chimarrão

Ah! Já sei: é o Edgar Allan Poenhe.

Primo Bisconde

É esse mesmo, Correia Chimarrão. Achas que terão sido eles os culpados de algo que ainda desconheço mas que tu me vais contar?

Correia Chimarrão

Nom sei…Só sei que eles já sabem de tudo, carago. Sabes o que li no "Público" da passada sexta-feira, carago, Primo Bisconde? Ora dá lá uma espreitadela, carago, Primo Bisconde.



CHIMPAZÉS VISTOS A CAÇAR COM LANÇAS DE MADEIRA

Fabricam ferramentas, já sabíamos. Agora vimos que tambem caçam com armas. Fazem lembrar alguém?


Primo Bisconde

Que fazes aí ao pulos, Correia Chimarrão? Até parece que és tão macaco como eles. Hum…Pensando melhor, parece-me que tens razão, Correia Chimarrão. Isto é gravíssimo. Há um traidor entre nós... Repara, o "Público" até traz uma fotografia de um deles com uma lança na mão. Donde diabo conheço eu este bicho?

Correia Chimarrão

Isto é o fim do mundo, Primo Bisconde! Às armas, Primo Bisconde! Estamos perdidos, Primo Bisconde! É a guerra, Primo Bisconde! Eles já sabem que nós também somos chimpazés como eles, Primo Bisconde! Às trincheiras, Primo Bisconde! Isto está bonito está, Primo Bisconde! Sabes, isto cheira-me a esturro, Primo Bisconde! Isto anda aqui marosca e da grossa, Primo Bisconde! Primo Bisconde, achas que isto é o fim da macacada, Primo Bisconde?

Primo Bisconde

Homem, vai morrer longe, Correia Chimarrão. Não comeces a stressar. Chama aí o teu tio Firmino. Estou em crer que ele sabe o que se passa.

Correia Chimarrão

Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino anda cá que o Primo Bisconde quer falar contigo, carago.

Firmino

Sobrinho Correia Chimarromnhe, diz lá ao Primo Bisconde que agora nom posso ir, porque estou a curtir um filme com uma gaija bua como o milho, carago.

Correia Chimarrão

Qual gaija bua, tio Firmino?

Firmino

Aqueja gaija bua que dá porrada nos outros gaijos, carago.

Correia Chimarrão

Mas quale gaija bua, tio Firmino?

Firmino

Homem, aquela gaija…o Silbestre Stalonenhe.

Primo Bisconde

Que foi que te disse o teu tio Firmino, Correia Chimarrão?

Correia Chimarrão
Hum...O tio Firmino pergunta se queires ir ali ao café da Jorgelina comer um napuleonhe…


Primo Bisconde

O médico proibiu-me de comer bolos. Chama lá novamente o teu tio Firmino e diz-lhe que tenho um assunto urgente a tratar com ele.


Correia Chimarrão

Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino anda cá que o Primo Bisconde quer falar contigo, carago.

Firmino

Sobrinho Correia Chimarromhe, diz aí a esse morcounhe duma figa que se ele nom me deixa ver o filme da gaija bua que bou aí e lhe parto o piano tuodo, carago.


Primo Bisconde

Que foi que te disse o teu tio Firmino, Correia Chimarrão?


Correia Chimarrão

Hum…Nom disse nada, carago, Primo Bisconde…O tio Firmino diz que está a precisar do GPS, carago, porque o quer ligar ao telemóvel de quinta geraçonhe, Primo Bisconde.

Primo Bisconde

Está bem, deixa-o lá estar sossegado, Correia Chimarão. Não o incomodes mais. Toma lá o GPS do teu tio Firmino. Agora que os chimpazés sabem que somos tão humanos como eles, que é que achas que devemos fazer, Correia Chimarrão?

Correia Chimarrão

Nomhe sei, Primo Bisconde, nomhe sei. Desconheço.

Primo Bisconde

Não te ponhas aos pulos, homem! Até parece impossível, Correia Chimarrão! E logo tu que tens teorias para tudo…Um general sem ideias...Onde é que já se viu isto? Sinceramente estou a ficar desiludido contigo…


Correia Chimarrão

Primo Bisconde, o que se está a passar nom tem explicaçomhe, carago, Primo Bisconde! Só sei é que isto é o fim do moooundo, carago, Primo Bisconde! Estamos perdidos, carago, Primo Bisconde! Eles já sabem que nós também somos chimpazés cuomo eles, Primo Bisconde! Isto está bonito está, carago, Primo Bisconde! Sabes, isto cheira-me a estooourro, carago, Primo Bisconde… Isto anda aqui marosca e da gruossa, carago, Primo Bisconde! Primo Bisconde, achas que eles também concluiron o processo de hominizaçonhe, Primo Bisconde?


Primo Bisconde

Nada de espalhafato! Olha, vem aí o teu tio Firmino. Vou fazer-lhe uma recepção e peras. Bico calado, Correia Chimarrão!


Correia Chimarrão

Já só faltava que esse morcounhe nos viesse chatear, carago, Primo Bisconde. Tá bemnhe, vou calar o bico.

Firmino

Chamaste-me, Primo Bisconde? Os teus desejos são ordens.

Primo Bisconde

Ora viva, Firmino! Com que então por aqui?

Correia Chimarrão
Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino, num podes abrir o bico…O Primo Bisconde disse que agora não podias falar.

Primo Bisconde

Não sejas trapalhão, Correia Chimarrão! Agora nós, Firmino…Por quem és, levante-te, Firmino. Não precisas de ficar ajoelhado o tempo todo. Foste tu quem andou a prestar depoimentos ao "Público"?

Firmino

Nom senhor, Primo Bisconde, essa agora! Já non leio jornais nem dou conferências de imprensa, Primo Bisconde. Actualmente limito-me a ler o blogue http://obloguedosarja.blogspot.com/ e a ber o “Fiel ou Infiel” na TVI, Primo Bisconde. Son tão bons que até parece que son feitos pela mesma pessuoa, Primo Bisconde.

Correia Chimarrão
Apoiado! O meu tio Firmino é um senhor!

Primo Bisconde

Cala-te, Correia Chimarrão. Bem visto, Firmino. Correia Chimarrão, mostra lá ao teu tio o que vem no Público da passada sexta-feira.
Firmino
Primo Bisconde...Mas isto nom puede ser, carago, está tudo gruosso? Eu só lhes contei que usábamos pistuelas de calibre…
Primo Bisconde
Como assim!? Por que é que fizeste isso, Firmino? Logo vi que alguém tinha dado com a lingua nos dentes. Estás bêbedo, Firmino?
Firmino
Eu não estou bêbedo, palavra de honra que não estou! E juro que nom fui eu, Primo Bisconde! Eu só lhes disse que tinhamos telemóbeis de quinta geraçomnhe e que a Jorgelina do café tinha inventado um GPS de madeiiira.
Primo Bisconde
Firmino, tu estás a passar das marcas…Queres que a nossa raça ande toda à bulha com aqueles macacos selvagens? É isso que tu queres, Firmino?
Firmino
Nomhe, claro que nomhe, carago!
Primo Bisconde
Porventura contaste-lhes que a nossa selva não passa de um artifício tecnológico que tem como função provocar a confusão geral entre eles?

Firmino
Nom, senhor, carago, nom lhes contei nada, carago. Só lhes disse que tínhamos Internet, impressuoras, computadores, abiões, misseis, bombas atómicas, estações orbitais, e o Correia Chimarrão. Quanto ao facto de a nossa selba ser um mundo birtual que a Jorgelina inbentou lá na cozinha dela com o intuito de os confundir ainda mais, nom senhor, carago, nom lhes disse nada, Primo Bisconde!
Correia Chimarrão
Hum, Primo Bisconde… Só de pensar no salpicom, no presunto, na bitela, na galinha e na coube lombarda que ela mistura na sopa apetece-me dar pulos de apetite, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
Não digas disparates, Correia Chimarrão.
Correia Chimarrão
Por outro lado, Primo Bisconde, posso comprovar tudo o que o meu tio Firmino está a dizer, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
Não me digas que também estás metido nisto, Correia Chimarrão?

Correia Chimarrão
Isso é que nomhe, Primo Bisconde…Eu nonca estou metido em nada, Primo Bisconde…

Primo Bisconde
Firmino, decididamente tu és um irresponsável! Há coisas que nem as pedras devem ouvir. Bom, confessa lá que lhes foste contar que usamos lanças para caçar!
Firmino
Eu nom lhes disse nada! Juro pelo grande Símio que muora nas núbens!
Primo Bisconde
Julgas que nasci ontem, Firmino? Vá lá, conta toda a verdade!

Firmino
P-Primo Bisconde... Tá bemhe…Disse-lhes apenas que usábamos pontinhas de lança, mai nada!

Primo Bisconde
Detesto ser enganado, Firmino! Bem sabes que quando tal acontece, perco a cabeça e sou capaz de tudo…

Firmino
P-P-Primo Bisconde...Tem toda razomhe…Condescendo...Rebelei-lhes que temos por hábito usar metade de uma lança, mai nada!

Primo Bisconde
Abreviando razões: Firmino, tu abriste o bico, foi ou não foi?
Firmino
S-S-S-Sim senhor, Primo Bisconde, tens toda a razomhe. Vou confessar-te toda a berdade: estou apaixonado.

Primo Bisconde
Céus, estás apaixonado, Firmino? Tu dás comigo em doido, homem…Já agora pode saber-se quem é a infeliz comtemplada?
Firmino
Quer dizer…Estava apaixonado por uma rapariga muito interessante e muito bonita, carago. Quando a conheci julguei que estava a biber dentro de um conto-de-fadas, carago. Ela era bonita, inteligente, culta, viajada, enfim uma pérola do carago. Mais tarde a realidade falou mais alto e apercebi-me que era tudo poustiço, carago.
Primo Bisconde
E agora já não estás apaixonado? Que é que se passa contigo, Firmino? Era tudo postiço? Explica-te melhor, Firmino. Quem era ela?

Firmino
Era a actriz dos filmes que dava porrada nuns gaijos, carago.

Primo Bisconde

Está bem! Mas quem é ela? Como se chama?
Firmino

É o Silbestre Stalonenhe.
Primo Bisconde

E agora dizes que já não estás apaixonado? Homem, que foi que aconteceu?

Firmino

Aquilo é tudo poustiço, Primo Bisconde…Aquilo é tudo feito de siliconenhe.

Correia Chimarrão

Primo Bisconde, bou contar-te as coisas tal como se passaram. Os chimpazés do "Público" fizeram um contrato com o tio Firmino que consistiu no seguinte, carago: se o tio Firmino lhes revelasse todos os nuossos segredos tecnuluógicos, carago, eles comprometiam-se a convencer o Silvestre Stalonhe a apaixonar-se pelo tio Firmino…E foi o que aconteceu, Primo Bisconde…

Firmino
Tal qual, Primo Bisconde. Sem tirar nem pôr!

Primo Bisconde
Irra! É demais! Isto não pode ser, tu abusas, Firmino! Tu és parvo ou fazes-te? Eu não me chame Primo Bisconde e não seja primo de toda a gente se não te castigar. Já estou pelos cabelos. A sorte é os outros chimpazés não saberem ler. Imagina o que aconteceria se soubessem a verdade…Passa para cá o GPS!

Firmino
Primo Bisconde, num sejas duro cumigo. Foi um descuido da mimha parte, carago. Prometo nunca mais rebelar os nossos segredos tecnuluógicos. Essa ficou-me de liçonhe. Macacos me mordam se volto a fazer o mesmo, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
A estória não acaba aqui. Certamente conheces as nossas leis, Firmino. És obrigada a casar com a tua namorada, o Silvestre Stalone.

Firmino
Nomhe, nomhe, nomhe, Primo Bisconde! Aquilo é tudo siliconenhe, Primo Biconde. Já num gosto dela, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
Estás a pensar mal, Firmino. Tens consciência de que tudo o que te mando fazer é para teu bem, Firmino? Casa com ela e não se fala mais no assunto!

Correia Chimarrão
Apoiado, Primo Biconde! Será que puosso ser o padrinho, Primo Bisconde?

PS. Este texto nunca teria sido possível sem as preciosas dicas linguísticas de dois amigos que bibem ou biberam no Puerto: o Pedro Sousa e o Luis Santos. Bem hajam, carago!
Sarja Akhmani, repórter iraniano

O NEGÓCIO DO SÉCULO

Jaime Goucha está desempregado, tem 29 anos e vive com e da Maria do Amparo, 45 anos, divorciada. A cena que passamos a relatar ocorreu justamente ontem à noite, durante o serão televisivo:


Jaime Goucha (J. G.) — Que é que tens, querida? Passa-se alguma coisa?


Maria do Amparo (M. A)— Não se passa nada. Está tudo bem.Parvalhão!


J. G. – Que é que estás a fazer? Desligaste a televisão para quê? Que é que te passou pela cabeça, Maria do Amparo? Se tens algo a dizer, diz. Va lá. Desembucha. Fala de uma vez.


M. A.--Depois de tudo o que fiz por ti ainda te atreves a perguntar o que se passa? O que acha o senhor que eu sou? Uma parva? Fora daqui. Fora da minha casa, já!


J. G. – O senhor!? Desde quando é que me tratas por senhor? Maria do Amparo, querida, tem calma…


M. A. – Que foi que fizeste ao dinheiro que recebeste do Japão?


J. G. – Ah, sim...Já suspeitava que fosse isso. Vai dar tudo certo, acredita em mim. Os japoneses atrasaram-se no pagamento. Telefonaram-me ontem de Hong-Kong, que é uma cidade lá do Japão, a dizer que não sei quê e tal…Olha, não entendi nada porque o homem falava muito depressa.


M. A. – Não sejas asno. Se nunca estudaste japonês, como é que haverias de entender o que dizia o raio do homem?


J. G. – Estudar propriamente o japonês nunca estudei, mas compreendo tudo o que dizem desde que falem pausadamente.


M. A. – Poupa-me, Jaime. Tu e as tuas teorias linguísticas. Estou farta das tuas mentiras e dos teus negócios da China. Fora da minha casa!


J. G. – Co-como assim!? Até parece que és bruxa. Aposto que andaste a espiar os meus negócios da China com os japoneses…Quem foi que te disse que fiz o negócio do século?


M. A. – O negócio do século!? Não sejas ridículo, Jaime. Só sei que andaste a negociar com os japoneses, esses sovinas. Detesto-os. Têm a mania de que podem invadir tudo o que lhes apetece. Além do mais sabes tão bem como eu que nunca receberás um euro que seja daquela gente.


J. G. – Está bem, vou contar-te tudo: vendi a China ao Japão, e fiz um dinheirão. Em suma: fiz o negócio do século. Vamos ser ricos, Maria do Amparo. Uma vez na vida escuta o que tenho para te dizer: vamos ser ricos, ouviste? Em breve, poderemos comprar a casa com que sempre sonhaste: uma mansão em Inglaterra com jacuzzis nos jardins, quartos para os teus cinquenta e cinco filhos, repuxos nas casas de banho, écrãs de plasma por tudo quanto é sítio…Ouve, vem cá, não fiques assim…


M. A. – Lá estás tu a mentir outra vez. Tu vives na lua, Jaime. Raios te partam. Larga-me. Não me toques. Deixa-me em paz. Desaparece desta casa, ouviste?


J. G. – Maria do Amparo…Tu-tu nunca acreditaste cá no rapaz, diga-se em abono da verdade. Passaste a vida a ridicularizar a minha colecção de chineses. Destruíste a minha auto-estima porque me achincalhavas sempre que me vias a frequentar restaurantes chineses com o inocente objectivo de apanhar um deles, recortá-lo bem recortadinho e colá-lo nas cadernetas do Dragon Ball Z...


M. A. – Cadernetas que tu roubavas aos meus cinquenta e cinco filhos.Vou contar tudo aos meus vinte e cinco ex-maridos e pedir-lhes que te tratem da saúde.


J. G. – Os teus ex-maridos? Ora, não me faças rir. Todos os teus ex-maridos eram chineses, não te esqueças disso. Sendo assim, podes estar certa e segura que esses também já estão coladinhos e postos em sossego nas minhas cadernetas…Ora toma!


M. A. – Como te atreves!? Como te atreveste a coleccionar todos os meus ex-maridos? Deves pensar que tens muita graça. Vá, sai da minha vida. Vai-te embora.


J. G. – Maria do Amparo…Fi-lo por nós, entendes? Olha para mim: tenho as mãos aleijadas de tantas tesouradas que dei no diacho dos chinocas. Só assim poderia alguma vez vir a completar as cadernetas e ser dono da China, compreendes?


M. A. – Parker, tu não passas de um merdas de um Parker!


J. G. – Maria do Amparo…Tu por amor de Deus não me chames nomes! Detesto que me confundas com esse actor de meia tijela…Bem sabes que sempre que me chamas Parker, perco a cabeça e desato a falar em estrangeiro…


M. A. – Que raio se passa, Parker? Vá lá, Parker, mostra lá o parvalhão que és. Foste enganado pelos japoneses, essa é que é a verdade. Parker! Parker! Parker!


J. G. – Maria do Amparo…Não queiras pôr à prova os conhecimentos que adquiri no Instituto Jean Piagette…


M. A. – Parker! Parker! Parker!


J. G. – Como está, chinês? Como está usted, chinó? Come stà lei, chinuca? Comment vous portez-vous, chinulu? How do you do, chainote? Wie geht es Ihnen, chinulas? Estou bem, obrigado, chinês, estoy bien, gracias, chinó, sto bene, grazie, chinuca, je me porte bien, merci, chinulu, very well, thank you, chainote, ich befinde mich wohl, danke, chinulas. Pára com isso, Maria do Amparo! Não me tortures mais, por favor.


M. A. – Parker! Parker! Parker!


J. G. – Como não somos marido e mulher, marido y mujer, marito e moglie, mari et femme, husband and wife, Mann und Frau, terei, yo tendré, io avrò, j`aurai, i shall have, ich werde haben todo o dinheiro para mim...Só para mim…E então, entonces, allora, alors, then, dann, adeus, não terás direito a nada, a rien, a nothing…


M. A. – Parker! Parker! Parker da fava! Larga-me!


J. G. – Pára com isso, Maria do Amparo. Não imaginas quanto me custa ir buscar todos estes conhecimentos ao Piagette.


M. A. – Megalómano, parvalhão, chinês filho da mãe! Fora da minha casa!


J. G. – Meio galão, eu!? Eu até nem gosto...


M. A. - Megalómano! Megalómano! Megalómano! Não sabes o que é que isso quer dizer?


J. G.- Meio galómano, eu? Minha, mia, ma, my, meine, lá por seres mais velha que eu, ainda tens muito que aprender. O facto é que a China é minha e vendi-a ontem ao Japão, essa é que é a verdade.


M. A. – Chinês filho da mãe. Como te atreveste a coleccionar compatriotas nossos e a vender o nosso país ao nosso arqui-inimgo? És parvo ou fazes-te? Então já te esqueceste que nós também somos chineses? Parvalhão é o que tu és, chinês de feira. Fora da minha casa, Jaimung Gouchung!


J. G. --Deve haver alguma coisa que me está a escapar...


M. A. – Nunca vi homem tão estúpido como tu. Afinal de contas, como te chamavas antes de emigrarmos para Portugal?


J. G. – Antes de emigrarmos para Portugal? Hum…Bem…O meu verdadeiro nome era Jaimung Gouchung…Mas isso não significa que…


M. A. – Então não sabes que és tão chinês como os chineses, Jaimung Parvalhung?


J. G. – Marong do Amparong, querida, tens toda a razung. 您是母狗的儿子?Xu Li Zong Ma, Yong Ma Jong. Perdoa-mung, por favung. Acho que fiz disparatung. Xu Li Zong Ma…


M. A. – Escusas de falar chinês. 我爱你 Xu Li Zong Ma, Yong Ma Jong parvalhung. Forung da minha casung! Maldito o diung em que te conheçung. Forung da minha casung, forung!


Sarja Akhmani, repórter iraniano

AS ENTREVISTAS DO SARJA:

ENTREVISTAS A GEORGE BUSH-I--À PROCURA DE BUSH






-- Porra, wake up, man!

--Acorda, Sarja!

--Vá lá acorda, Sarja!

--Wake up, Mr. Sarja Akhmani!

-- Akhmani Sarja, acooooooooooooorda, pá!

--Vá, desperta lá da boçalidade que te é habitual.

--Wahalad Ibib adid, Sarja!

--Wake up, man. There´s lot of work to be done!

--Acoooorda, Sarja!

--Es gibt viel Arbeit fur dir.

--Acor, Sarja, da!

--Sar, Acor, ja, da!

--Aco, Sa, r, da, JÁ!

--Não me chateiem…Quem me chama?

--Os teus patrões.

--Não sabia que tinha tanta gente a trabalhar para mim.

--Foste incumbido de uma missão arriscada.

--Qual? Salvar o planeta do Valentim Loureiro?

--Nada disso. É bem menos arriscada. Vais entrevistar o Presidente dos Estados Unidos.

--Qual deles?

--Qualquer um serve. Excepção feita a um ou a dois, têm sido todos muito parecidos.

--Posso optar pelo George W. Bush?

--Já repararam que o gajo de parvo não tem nada? A ideia é excelente. De mais a mais, o Bush está vivo e as viagens no tempo ainda estão muito caras. Tudo por culpa da Portugal Telecom.

-- Allah Al-akbar! Pois que seja o Bush! Allah Al-akbar!

--Tá bem, então que seja esse tipo!

--Sabes? Também vou entrar nesta coboiada.

--Irra que não ganhei para o susto. Quem és tu, afinal?







--Sou o Alcabideche José, o operador de câmera da TVI que te vai acompanhar nesta grande reportagem.


--Alguém que eu conheça?


--Vá lá, não sejas assim. Sabes tão bem como eu que sou o lado negro da tua alma…


--Ir contigo!? Nem pensar. Antes só que mal acompanhado. Além disso, não dizes coisa com coisa…Não, tu não vais comigo e não se fala mais nisso!


--Mas eu sou o teu pior amigo.


--Meu amigo!? Tu ires comigo? Só por cima do meu cadáver, Alcabideche José, animal.


--Está bem, sou um dos teus melhores inimigos, qual é o problema?


--Nenhum, claro está. O menino dorme com a Celina do Kuwait, que por acaso é minha namorada, e acha que está tudo bem.


--Ora, quem tem boca vai a Roma…


--Que é que estás para aí a dizer?


--Hum, nada que valha a pena ser pensado. Ala que se faz tarde, Sarja. Vamos?


-- E ele a dar-lhe. Já te disse que não vou. Detesto-te com quantas forças tenho na minha alma de reporter iraniano.


--Seja! Não faz mal. Sendo assim, não tenho outro remédio senão telefonar ao José Eduardo Moniz da TVI, ao Abib de Jesus Anwar de Macedo do Jerusalem Post, ao John Fernandes Frost do New York Times, ao José Rilke do die Welt e ao Borges da Time…


--Os meus patrões…Serias capaz de denunciar-me?


-- Claro que sim!


--Tens toda a razão. É sempre bom cumprir ordens dos nossos superiores hierárquicos. Vamos a isso?


Assim que chegámos à Casa Branca, fomos imediatamente recebidos pelo Presidente dos Estados Unidos. Simpático como poucos, George W. Bush desfez-se em cumprimentos. Depois acrescentou que sendo a pontualidade imprópria de um presidente americano, só nos restava esperar por ele. Foi então que se sentou num cadeirão verde, acendeu um charuto que lhe fora oferecido pelo Fidel de Castro, sorriu com a inteligência duns dentes muito brancos, afagou a ponta esquerda do bigode, cruzou e descruzou as pernas, e pôs-se a esperar por nós. E assim se passaram muitos anos. Entretanto, o fumo do charuto do mundo, sempre a subir em espiral, sofrera dolorosas mutações: enquanto a China tentava impor a Democracia e o Capitalismo ao Ocidente, a Europa e os Estados Unidos tinham adoptado um regime ferozmente comunista. Por outro lado, o nosso sistema solar havia sido colonizado não só por capitalistas ultra-liberais, como também por comunistas ortodoxos, que se guerreavam entre si. Enfim, dois perigos ameaçavam outra vez os mundos— a ausência de Utopia e os excessos dela.

--Valha-me Deus, Alcadideche José. Será que que estamos condenados a isto?


--Acorda, Sarja. A isto? A que te referes?


--A “isto”, Alcabideche José. Ao facto de, em 2050, estarmos a cometer novamente os mesmos erros do passado…


--Acorda, Sarja. Tu e a tua sonolência. Estamos em 2007. Olha, o sr. Presidente dos Estados Unidos está a chamar por ti…


--Sarja, sou eu, o Presidente Bush. Recebi o seu email, Sarja. Uma curiosidade, Sarja: como foi que me encontrou, Sarja?


--That´s a long story, Majestade, Mr. President. Calcorreámos a pé a América Latina…Brasil, Argentina, México, Malásia, Peru…foi ou não foi, Alcabideche José?


--Pois foi. E até conhecemos umas peruas de se lhes tirar o chapéu. Sarja...O lado direito do bigode do presidente trocou de lugar com o lado esquerdo do bigo...


--Não digas disparates, Alcabideche.


--Hum…Foi então que se lembraram que eu podia estar na América do Norte, certo?


--Pois foi. O Sarja é que disse que se calhar o sr. Presidente podia estar a viver mais a norte do continente europeu.


--Americano, Alcabideche. Sr. Presidente, Majestade…O caso é o seguinte: viemos cá fazer uma reportagem a mando dos nossos patrões.


--Whom do you work for?


-- Majestade, Mr. President…Sou jornalista do Expresso, da Bola, do Correio da Manhã, da TVI, do New York Times, do Jornal de Letras, do Chade Review of Books e de uma certa rapariga do Kuwait.


--Sarja, muito bem, Sarja. E você…Sarja, como se chama o seu amigo, Sarja?


--Alcabideche José, Mr. President.


--Que é que está ele a fazer aqui?


--É operador de câmera da TVI.


--Muito bem. Posso tratá-lo por Al?


--Claro que sim! Sarja...Já reparaste que o lado esquerdo do bigode do presidente trocou de lugar com o lado diteito do bigo…


--Cala-te. Vamos então ao trabalho, Majestade, Mr. President?


--Sarja, vamos a isso, Sarja. Faça as perguntas que quiser que eu reponderei se quiser, Sarja.


--Com certeza. Mr. President….Parece-lhe justo que morram tantas crianças no Iraque?


--Sabe, Sarja… Antes de responder, Sarja, tente acompanhar o meu raciocíonio e verá que tenho razão, Sarja…A questão é a seguinte: ou todas as crianças islâmicas são terroristas ou então só algumas crianças islâmicas são terroristas, certo, Sarja?


--Certíssimo. Não concordas, Alcabideche?


– Anh? Não me chateies com essa conversa. Não vês que estou a filmar o gato do Presidente?


--Continuando: se todas as crianças islâmicas são terroristas, Abdulah é de certeza terrorista.


--Mas isso é mais que evidente, Mr. President!


--Mas se, pelo contrário, Sarja, nem todas as crianças islâmicas são terroristas, então existe pelo menos uma não terrorista a quem podemos chamar Zeca Abib, Sarja. Logo, se Zeca Abib não é terrorista, todas as crianças islâmicas se chamam Abdulah e são terroristas.


--Bem visto, sim senhor.


--Além disso, sendo o Iraque um país europeu...Veja lá que eles até votaram contra a Constituição Europeia, baluarte dos princípios do Neoliberalismo económico na Europa. Sacanas! Don´t you agree?

--Sarja, o presidente tem toda a razão. Aliás, o Jacques Chirac, o presidente do Iraque, ficou decepcionadíssimo com os resultados do referendo… Sarja, o lado direito do bigode...


--Alcabideche…Cala-te e filma!


--Sarja, o presidente tem toda a razão: os iraquianos são uns ingratos. Uns pulhas. Esqueceram-se do desembarque na Normandia, do resgate do soldado Ryan e de todo o esforço criativo do Spielberg para filmar aquela maravilhoso plano-sequência…


--Sarja, estou a ver que o que o seu amigo Al “got the point”…


--Majestade, Mr. President…Estou em crer que o Alcabideche compreendeu tudo o que foi dito nesta conversa. A minha alma está parva.


--Sarja, a seu tempo o saberá, Sarja.


--Tem toda a razão, Mr. President, Majestade.

Sarja Akhmani, repórter iraniano

ENTREVISTAS A GEORGE BUSH-II--CAPRICHOS DE GATO


--Mas que merda é esta? Tem calma, pá. O homem ainda não chegou. Parece que és míope….

--Bem sabes que sou míope.

--Vai ver se estou ali na esquina, Alcabideche José. Não sabes o que estás a fazer. Ainda assim, podias muito bem ter escolhido outra profissão, não achas?

-- Eh, que mau feitio o teu. Piriri pipi…Só sei que vou fazer uns planos lindos.

--Isto não é cinema, pá. É televisão!

-- Com mil diabos, Sarja! Se a raça humana à qual pertences não tivesse irrompido neste nosso pequeno mundo, tal evento seria certamente um bem inestimável para a toda a Humanidade.


Eram exactamente oito horas e sessenta minutos quando entrei pela segunda vez na grande Sala Ovale-Tudo, na Casa Branca. Até aqui, tudo normal. No entanto, de tão comovido que estava, mal sentia o corpo e a alma. Como descrever a vasta complexidade de sentimentos que me acometiam nesse ensejo glorioso? Bem, vejam lá se compreendem esta comparação, porque eu não a entendo: como uma ave a fugir da boca suja de um leão que a não persegue, assim me sentia eu, leão sem corpo e sem asas, a não ser devorado pelo bico limpo de uma corpulenta ave sem juba. C’est pas rigolo?

--Vou começar com um grande plano da sala Ovale-Tudo. Que te parece?

--Não sejas inoportuno, pá. Deixa-me pensar.

Ainda hoje tenho bem presente essa notável manhã de luz e imbecilidade. Enquanto o Bush não chegava, o meu espírito pôs-se então a divagar em inconsciência pura pelo mistério sem destino da vida. Instintivamente, ocorreu ao outro eu que então havia em mim um aforismo por que sempre pautara a minha conduta de eterno-anarquista-sabujo-do-poder. “Bem vistas as coisas, a Vida é a vidinha”--escreveu certa vez o filósofo austríaco – (amigo e confidente de Wittgenstein) --Chico von Ratzinger Barata “e quem não pensa assim é uma bestazinha-quadradinha”. Confesso que levei exactamente oitenta e nove minutos a compreender a dimensão em luz viva deste aforismo. Por outras palavras: passei os últimos dez anos da minha druídica e fabulosa vidinha de anarquista sabujo a folhear com metódica satisfação, aos sábados à tarde, o livro mais conhecido deste inútil e obscuríssimo autor:”Bem vistas as coisas, a Vida é a vidinha”. De qualquer modo, os capítulos que li e reli com especial avidez e acuidade foram “E Quem Não Pensa”; (o Jacques Derrida quê se cuide!); “Assim” (um capítulo que examina a influência de Sartre em Zenão de Eleia) e, por fim, “É uma bestazinha-quadradinha” (o meu favorito).


--Gostava de filmar esse tal de Senão da Ilíada. Que tal começar com um contra-picado em braille?

--Lá estás tu a adivinhar-me os pensamentos. Tu e as tuas telepatias de fancaria míope… Não vês que estou a refectir sobre o sentido da vida?

-- Olha, enquanto o Bush não chega, vou ali ao Kuwait e volto já.

--Que a terra te seja leve, filho das Arábias. Não te esqueças, pois, de levar contigo o camelo de borracha que a TVI pôs à nossa disposição.

--Meu, Já voltei. O camelo era bué de rápido. Estive com a Celina Abdullah Ramallah Infante, a tua namorada…

-- Não acho graça nenhuma a essas brincadeiras. Bem sabes que gosto muito dela, embora já esteja a ficar farto de distâncias. Então, como é que ela está?

--Desde que dormi com ela que está bem melhor.


PAUSA PARA O CAFÉ




Daí a três semanas, chegou o Presidente dos Estados Unidos. Naquele dia memórável de intensa tertúlia, George W. Bush entrou mais alto que o costume. Trazia duas tranças louras coladas às têmporas, um bigode de cetim preto, e um gato aninhado ao pescoço. Só mais tarde é que viria a saber que se tratava de um bicho famosissimo na Casa Branca— o Gato-De-Longo-Alcance.Antes de se sentar num cadeirão verde que pedira emprestado ao José Eduardo dos Santos, Bush solicitou aos seguranças que o revistassem, pois tinha medo de estar armado e de correr perigo de vida.

--Ora viva, Mr. Sarja Akhmani. Bons olhos o vejam. Que é que o traz aqui?

--Sr. Presidente…Excelência…Como bem sabe, sou um eterno-anarquista-sabujo- do-poder. Não resisto a lamber as botas a quem quer que detenha o poder, é mais forte que eu. Pode ser um barbeiro, um porteiro, um alcoviteiro. Pode ser a abelha-mestra de uma numerosa colmeia perdida nos arrebaldes da Amazónia. Olhe, até pode ser a filha de um banqueiro. Qualquer poder serve, está a ver?

--Minúcias, meu caro, minúcias. O poder é o poder, tenha ele a dimensão que tiver. Todo o poder é grande, na medida em que é um ponto de vista que pode ser sempre ampliado até à cegueira total, está a compreender?

--Compreendo tudo, Excelência, vindo de si compreendo tudo. Posso apresentar-lhe o Alcabideche José, actual namorado da minha namorada e operador de câmera da TVI?

--Mas é claro que sim. Muito prazer, sr. Alcabideche. Posso tratá-lo por Al?

--Com certeza, sr. Presidente.O prazer é todo meu. Então, gostou do meu filme?

--De que é que o Al está a falar, Sarja?

--Sr. Presidente, Excelência…Lembra-se da última conversa que tivemos?

--Hum. Vagamente. Deixe-me lá pensar. Ah, sim, estávamos a falar de Steven Spielberg, não é verdade?

--Exactamente.

--What about him?

--O meu amigo e actual namorado da Celina do Kuwait, está convencido que é o Spielberg…

--Ora, minúcias, meu caro, minúcias. Eu também estou convencido de que sou o presidente dos Estados Unidos…

--E não é?!

--Vês? Tu és um parvo, Sarja. Afinal, foste chatear o José Eduardo Moniz para nada. Este gajo não é o presidente!

--Tem calma, Alcabideche José. Sr. Presidente dos Estados Unidos…Afinal, quem é o senhor?

--Ora, meu caro, não me vê aqui aninhado ao pescoço do Gato- De-Longo-Alcance?

--…

--Pois. Como vê, o gato é o presidente e o presidente é o gato.

--Quer então dizer que a pessoa que está sentada no cadeirão verde é o gato e não o senhor?

--Exactamente. Você é perspicaz, Sarja. Quanto a si, Al, que é que tem a dizer de tudo isto?

--Acho muito bem que o presidente dos Estados Unidos esteja disfarçado de Gato-De-Longo Alcance. Assim, já posso fazer um travelling para a frente, tirar os olhos ao gato e usá-los como lentes.

--Cala o bico. Sr. Presidente, o Alcabideche José não é o Spielberg, essa é que é a verdade.

--Então quem é o Al?

--É um operador de câmera gordo e míope que se parece muito com algumas personagens do Edgar Pêra.

--Sendo assim, o Gato-De-Longo-Alcance cessa imediatamente as funções presidenciais e passa a ser o Bush que já foi gato, entende?

--Mas é claro que sim. O óbvio e o obtuso.

--Perdão?

--Nada. Falava com os meus botões. Sr. Pesidente, será que podíamos retomar a conversa que tivemos há dias?

--Sim, claro que sim. Falávamos do Spielberg, o cineasta. O autor de “Encontros Imediatos do Terceiro Grau”, de “Amistad”, “Relatório Minoritário” e desse fabulso filme que o é “Inteligência Artificial”, certo?

--Sim, Excelência. Pelos vistos, gosta muito do Spielberg…

--Hum. Spielberg? Deixe-me pensar melhor. Tem graça. Nunca ouvi falar desse tipo. É famoso?

--Sim, Excelência. Famosíssimo.

--Sarja, já reparaste que as tranças louras do presidente reapareceram nas têmporas do Gato-De-Longo-Alcance?

--Alcabideche José, não interrompas, por favor. Excelência…Quer que lhe fale do Spielberg?

--Hum. Seria interessante. Afinal de contas, como não vou aprender nada consigo, é caso para dizer que a ignorância também não ocupa lugar, certo?

--Tem toda a razão, Excelência. Importa-se que lhe leia uns apontamentos que trago no meu notebook?

--Faça o favor, Sarja.É para isso que servem os jornalistas, não é verdade?

--Ah, claro que sim. Pois então aqui vai:”De origem alemã, Estevão Antunes de Spielberg foi presidente de Israel desde o dia 18 Maio de 1986 até 18 de Maio à tarde do mesmo ano”.

--Sarja, tu topa-me esta cena: reparaste que o bigode de cetim do presidente reapareceu no focinho do Gato-De-Longo-Alcance? Não te parece que o José Eduardo Moniz vai adorar esta reportagem? Afinal, tenho imagens absolutamente inéditas, e não creio…

-- Datze enuff, Alcabideche José! Estou farto das tuas impertinências, sugestões, críticas, alusões, desilusões, queixas, auto-elogios velados, e ingratidões… Estou farto dessas tuas manias, ouviste?

--Bem dizia o presidente que a ignorância não ocupava lugar…

--Com a breca, Alcabideque, deixa-me trabalhar.Além disso, importas-te, por um momento, de descolar da cara do sr. Presidente dos Estados Unidos os teus olhos ramelosos e gorduchos de operador de câmera da TVI?

--No problem, Sarja.O seu amigo míope não constitui uma ameaça séria. Aliás, desde que tomei posse como presidente do mundo que a América está mais segura. Vamos ao Spielberg?


SEGUNDA PAUSA PARA BOMBARDEAR UM PAÍS QUALQUER À ESCOLHA DO GATO-DE-LONGO-ALCANCE




--Com certeza. Acho que me perdi…Ah, já sei onde íamos:” De mais a mais, Spielberg mandou construir um muro em torno das aldeias palestinianas, bombardeou com afecto e simpatia muitas delas, construiu honestos colonatos em território palestiniano, e como se isso não bastasse, aproveitou-se das circunstâncias para os pôr a trabalhar numa fábrica. Foi assim que filmou a “Lista de Schindler”.

--He was a smart guy!

--Claro que era esperto! Acha que o josé Eduardo Moniz me contratou por gostar dos meus lindos olhos?

--Alcabideche, pára com isso!

--Vê lá tu que apesar de míope, consegui ver a boca da Manuela Moura Guedes.

--Essa foi fraca, Alcabideche. Olha, vai lá fora ver se chove.

--Está bem. Acho que vou aproveitar o ensejo para ir até ao Kuwait ver a Celina Ramallah Infante. Olha, já voltei. Este camelo é mesmo bué de rápido.

--Então, que tal está a Celina?

--Está tudo mal... Diz que está arrependida de ter dormido comigo e que continua a gostar do outro que há em ti.

--Ah, óptimo! Sabes, a vida é uma carta fechada para quem tem os olhos bem abertos como ela, e uma carta aberta para aqueles são míopes de espírito como tu, Alcabideche.

--IRRA! Caluda! Datze enuff! Eu, o Gato-De-Longo-Alcance, filho de Isaías e de Jacob, declaro encerradas as tuas conversas com o presidente dos Estados Unidos.

--Chi! Tu… falas como nós?

--Caluda, Alcabideche José! E quanto a ti-mim Bush, bora daqui. Estou cansado de estar parado sem ter país nenhum para bombardear.
Sarja Akhmani

domingo, 18 de novembro de 2007

TLEBS DO AMARAL, ÓRFÃO DE PAI AOS 65 ANOS



Professor jubilado da Universidade de Lisboa, Mário Carvalho Tlebs do Amaral é um dos maiores filósofos e linguístas europeus. É autor de obras como “As Origens Sociais dos Disjuntores Mentais--para uma teoria geral dos Gigantes Magnéticos”, e desse inclassificável livro que dá pelo nome de “Introdução Crítica à Teoria dos Incompatíveis Bifurcantes”. Mais recentemente ganhou alguma notoriedade ao criar a Nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário.

Sarja Akhmani (S.A.) – Professor, obrigado por nos receber em sua casa. Talvez seja interessante saber qual foi o motivo que despoletou a criação da Nova Terminologia Linguística (Tlebs).

Tlebs do Amaral (T.A.) – Sabe, vivemos numa época em que os paradigmas mudam todos os dias. O mundo está cheio de paradigmas, é a superstição da novidade. A Austrália, por exemplo, é um paradigma, sabia disso? E a minha vizinha também. O pior é que toda a gente está confusa com os paradigmas da Austrália e esquece os da vizinha. Há uma velhinha que tropeça numa casca de banana e vai-se a ver e é um paradigma.

S.A. -- A sorte dela foi ter escorregado num paradigma.

T.A.--Há coisa de dois ou três meses os paradigmas do meu carro eram redondos e verde-garrafa. A semana passada, porém, o meu filho deu-lhes umas valentes marteladas e pintou-os de azul-bebé. Agora, não só mudaram de cor como são quadrados. Como vê, os paradigmas mudam da noite para o dia, Sarja.

S.A. – O professor deve estar a referir-se aos pára...

T.A. – Não, tanto num caso como no outro os significantes “tropeça/não tropeça na casca de banana” opõem-se estruturalmente a “verde-garrafa/azul-bebé”. O real desliza, está a ver? E tanto assim é que não só deslizou sob os pés da velhinha como não resistiu às marteladas do meu filho…

S.A. – O professor deve estar a referir-se aos pára-lamas do seu carro…

T.A.--O real flutua, essa é que é a verdade. É como se fosse um ídolo de muitos braços, um polvo escorregadio que não só muda de cor quando lhe apraz, como não resiste a umas boas marteladas….

S.A. – Repito: o professor deve estar a referir-se aos pára-lamas do seu carro.

T.A.--Tem toda a razão, Sarja. Normalmente confundo “pára-lamas” com “paradigma”, é um velho hábito meu.

S.A. – Professor Tlebs do Amaral, mesmo assim talvez não seja de todo desinteressante indagar as razões de uma terminologia que tanta celeuma tem provocado nos meios académicos e não só.

T.A.--Sarja, quando se chega a uma certa idade é importante mudar a nossa atitude para com as pessoas e as coisas em geral.

S.A. – A maturidade a tal nos obriga…

T.A.--E não só, Sarja, os paradigmas também. Os paradigmas estão por toda a parte. A Nova Zelândia também é um paradigma, sabia? E a irmã da minha vizinha também. Abre-se o olho esquerdo, e vê-se imediatamente um paradigma. Abre-se o olho direito e lá está outro paradigma a querer espreitar cá para dentro.

S.A.— E a Nova Terminologia, professor?

T.A.--Bom, a criação desta nova terminologia assenta num acontecimento que ocorreu a semana passada. Finalmente fiquei órfão de pai aos sessenta e cinco anos. A verdade é que sempre nos demos mal. Tínhamos discussões brutais. O meu pai estava constantemente a dizer que vivíamos rodeados de parasitas. Para ele, os tipos que não trabalhavam e viviam às custas dos outros eram parasitas, veja-me a cabeça daquele homem. Ele nunca entendeu que era um novo paradigma que estava a emergir. Vai daí, disse de mim para mim: bom, agora que estás morto é que a gente se vai entender….

S.A. – Quer então dizer que criou a Nova Terminologia com o intuito de comunicar com os mortos?

T.A.--Exacto!

S.A. – Com mil diabos! Mas isso é éxtra ór dnário!

T.A.--Na realidade, é um nadinha-ínha espantoso!

S.A. – Daí o facto de aparecerem termos que não lembram ao diabo…

T.A.--Sabe, os mortos falam línguas que não lhe passa pela cabeça. Línguas esquisitíssimas, você nem imagina. Isto é só para lhe dar um exemplo: ainda há dias estava eu todo descansadinho a gozar uma sessão espírita e de repente apareceu-me um fantasma que falava…português.

S.A. – Mas isso é éxtra ór dnário! Para que serve o Espiritismo, Professor?

T.A.--O Espiritismo serve simultaneamente para libertar e retirar. Passo a explicar: se você estiver interessado em progredir espiritualmente, poderá ajudá-lo a libertar a mente do espírito e o corpo da matéria. Por outro lado, se quiser progredir ainda mais, não só o ajudará a libertar a matéria da vizinha, como a retirar o juízo ao marido dela.

S.A. – Mas isso é éxtra ór dnário!

T.A.--Na realidade, o Espiritismo é um nadinha-ínha espantoso.

S.A. – Professor, há quem diga que uma terminologia não tem necessariamente de resolver problemas de descrição de uma língua, na medida em que não é uma gramática. No entanto, não lhe parece que a toda a taxinomia está sempre subjacente uma concepção do objecto que pretende classificar? Sendo assim, não faz muito sentido pôr de parte uma terminologia que deixa muita coisa de fora e substituí-la por outra que também não resolve nada e que ainda se dá ao luxo de complicar o que não explica….

T.A.--Na realidade, a Nova Terminologia é um nadinha-ínha espantosa.

S.A. – O problema é que os professores se deparam a cada passo com incongruências que depois não sabem explicar aos alunos, sobretudo quando estes se lembram de exercer o seu espírito crítico.

T.A.--Engana-se, Sarja. Tal como o meu pai, os professores também já estão mortos. Daí achar que esta Nova Terminologia está perfeitamente adequada a tão afável classe.

S.A. – Professor Tlebs do Amaral, é capaz de especificar melhor a utilidade da Nova Terminologia?

T.A.--Com todo o gosto, Sarja. Veja-se o nome “chaminé.” Dantes dizia-se que era uma nome concreto e mais não sei quê. Ora, que é faz uma chaminé? Expele fumo. Vai daí o ter incluído essa palavra na subclasse dos “tubos de escape das casas”. É bem mais simples, está a ver?

S.A. – Estou a ver…

T.A.--O mesmo ocorre com os clássicos “substantivos colectivos”. As abelhas, por exemplo. A irmã da minha cunhada (que por acaso também é minha mulher) tem uma abelha de estimação que come três quilos de erva por dia. Ora, se a abelha dela está gordíssima e come que nem um alarve, é caso para dizer que o nome que designa um conjunto de abelhas pertence à subclasse dos “Estábulos de vacas de mel”, está a ver. É muito mais simples.

S.A. – E os portugueses, Professor Tlebs do Amaral?

T.A.--Já reparou que ao contrário dos agora entre nós tão propalados nórdicos, os portugueses esqueceram-se do direito à desobediência civil? Veja-se os dinamarqueses. Acha que são atrasados? Que dizer de um povo que vai para a rua manifestar o seu inalienável direito à indignação quando sente que foi enganado?

S.A. –O Fernando Pessoa escreveu algures que os portugueses gostam de governos fortes…

T.A.--Os Portugueses, esses cobardolas ordeiros que se deixam manipular por galos com tiques autoritários? Enquanto os dinamarqueses ainda são vikings, nós não passamos de um nome não animado e nada contável. Por isso, decidi encaixar o substantivo que designa um conjunto de portugueses na subclasse da “Capoeira dos cavalos que comem e calam”. Está a ver? Assim, tudo se torna mais claro.
Sarja Akhmani, repórter iraniano

CONFISSÕES DE UM XIITA DA PAREDE




Parede, 1972. Nasce o Conde Mamute Brancaamp Sobral y Sandwich, exactamente no dia seguinte a um mês qualquer de Março. Aos dois anos de idade, entre ratos e falta de higiene, este filho de mãe incógnita e de pai ainda-por-nascer, foi surpreendida pelo 25 de Abril, pois que só sabia contar até 24.
Em vista da situação extremamente precária dos seus aristocráticos progenitores e eternos parentes da Casa de Bragança, o Conde foi viver com a avó paterna que acabara de dar à luz o pai. Durante três longuíssimos segundos, ensinou-lhe a avó tudo quanto hoje sabe— a inocência mansa de umas mãozinhas infantis a esganar o pescoço a um ganso, a destreza que há num arroto de um sheik islâmico, o esplendor de lixo dos produtos Planeta Agostini, e a largueza barata de um arco-íris a rodopiar na boca da Teresa Guilherme.
Entretanto, a bisavó de Mamute, a condessa Maria Bizantina Brancamp Sobral y Sandwich, uma velhota decrépita de 27 anos, deixara-se seduzir por um cigano ciborgue de baixo custo que abundava na praia de Carcavelos, e horrorizada com a Revolução dos Cravos, foi viver com o amante numa grande capital europeia, mais precisamente ali para os lados do Alto do Pina.
Mais tarde, já homem feito, o Conde Mamute comprou em segunda mão quatro pneus Goodyear e, à força de muita pancada, transformou a avó num branco carro de gelados. Posto que o negócio lhe tenha corrido de feição todos estes anos, ainda hoje tem saudades daquela que o educou, arborizou, acarinhou, capou, adorou, cascabulhou, baptizou, catalogou, banhou, cavalgou, celebrizou, chafurdou, carregou, afagou, chateou, cheirou, chicoteou, chorou, ajudou, e dele cuidou e chupou durante três segundos a fio—o cigano ciborgue da praia de Carcavelos.

Sempre de atalaia, este blogue decidiu enviar ao local o repórter em loop permanente Sarja Akhmani, o das mil faces, desta feita sob a opaca identidade de Norberto Chuang Faria, com a finalidade de entrevistar este Brancamp Sobral formado no colégio alemão dos dejectos domingueiros deixados pelos veraneantes.
Chuang Faria (C.F.) — Muito boas tardes, Sr. Conde Mamute Brancaamp Sobral y Sandwich. A sua cara não me é de todo estranha. Tudo bem consigo e com a vossa excelentíssima família?
Conde Mamute (C. M.) — Bem-haja eu! Com mil raios, cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas…
C.F — Essa expressão aparece numa canção do Sérgio Godinho. Gosta de Sérgio Godinho?
C. M. — C´os diabos, cá na vizinhança nunca ouvi falar de Absorção Interstelar, nem de Aristarco de Samos…Aqui não há nada disso, o pessoal dá-se todo muito bem, graças a Deus. De mais a mais, nunca vi esse tal de Sérgio Gordinho nem mais gordo nem mais magro. No entanto, posso mudar repentinamente de ideias e dizer-lhe que já o vi aqui deitado na praia com uma gaja boa ao lado. Nunca se sabe…Tem piada, as suas fuças também não me são de todo estranhas….
C.F.— Muda muito facilmente de ideias?
C.M. — Nada disso! Está muito enganado! Deixe-me dizer-lhe que sou mais teimoso que o mais casmurro dos burros. Você faz-me lembrar alguém que em tempos conheci…Não importa…Ainda há três minutos, teimei com o Ti Manel da Redoma Verde que a terra era redonda e acabei agora mesmo de chegar à conclusão que isto anda tudo muito quadrado dos cornos…
C.F — Mesmo assim, continuo a pensar que o Sr. Conde muda muito rapidamente de opinião…
C.M. – Mas isso é um absurdo! AH! AH! AH! Eu mudar facilmente de opinião…Você dá comigo em doido…Que disparate! Não, sim, não, sim, mudo muito rapidamente de ideias. Porquê?
C.F. – Por nada. Apenas curiosidade. Como vai o negócio dos gelados?
C. M. --Quanto aos gelados, a coisa vai de avó em popa.
C.F — A propósito de avó: já alguma vez a condessa sua avó se queixou de a ter transformado num carro de gelados?
C.M. — Nuuuunca! Bom, certa vez a gaja levantou alto a cabeçorra loura dos Sandwich da Parede, abeirou-se dos intelectuais cá da zona, atestou o depósito cerebral com meio litro de conceitos, afiou as unhas brancas de nobre animalidade e travou, a súbitas, várias polémicas nos jornais com o José Gil, o Eduardo Prado Coelho, o Eduardo Lourenço e a Teresa Guilherme…O diabo! Essa ficou-me de lição…
C. F.—A sério?
C.M.— Palavra!
C.F.— Que maçada…
C.M.— Que parva!
C.F.— Que mulher!
C.M.— Que Minerva!
C. F.— Que Eva!
C.M.— Uma questão de lana-caprina, afinal. Ela dizia que sim e o José Gil que não, que não era nada daquilo, e ela “ora toma que daqui não levas nada”, e o José Gil “dá-me cá aquela palha que não sabes com quem é que estás a falar”, e eu “mas que é que se passa com vocês? e eles, em uníssono, “não se passa nada, não metas o bedelho onde não és chamado, raios partam o teu bedelho, raios partam aqueles que disseram raios partam o teu bedelho"...Enfim, uma interminável discussão em torno do conceito de “bedelho em si e para si” em Kant, Hegel e Meinong…

C. F.—A sua fisionomia não me é de todo estranha…Como é que tudo isso acabou?
C.M.— Eu cá não estive com meias medidas e enfiei-lhe imediatamente nas fuças malcheirosas um par de estalos em dolby surround, um pontapé na boca e um rabanete no rabo. Daí para cá, nunca mais abriu o bico.
C.F.— Humano, como sempre. Como se enquadra Vossa Excelência no actual panorama de oferta de rabanetes religiosos?
C.M.— Olhe, ainda há dias comprei uma garrafita de Catolicismo ao Ti Manel da Redoma Verde, mas aquilo vinha tudo furado por dentro e por fora...
C.F.— Acha que terão sido os ratos que abundam na habitação de Vossa Excelência quem roeu a rolha da garrafa?
C.M.— Nada disso! Que disparate! As coisas não são assim tão simples…Por quem me toma você, afinal? Pensa que sou parvo e deixo os ratos à solta? Aquilo está tudo sob controlo, ouviu? Hum...Pensando melhor, tem toda a razão: foram os ratos lá de casa.
C.F.— Posso então concluir que Vossa Excelência ainda é católico?
C.M.— Claro que sim! Vou todos os domingos à missa trocar gelados por calos de padres. Aliás, já há muitos anos que faço colecção de qualquer coisa. Espere…Acabei agora mesmo de sentir uns pechisbeques nos tomates…Uma tontura esquisita...Cheguei a pensar que ia cair para cima, em direcção às nuvens…mas não foi nada que.
C.F.--Como?
C.M.— As coisas são assim mesmo. Ainda que. A não ser que. Vocês estão sempre a. Às vezes ponho-me a pensar que. Afinal, anda aqui um homem a. Raios partam o Ti Manel, o tal que. Por outro lado, que sabem vocês, os? Ouvi dizer que vocês estão sempre a. E quando não. Está a ver como é que?
C.F.— Sim, estou a ver…
C.M— Além dixo, se voxi soubexi o que eu xinto quando.
C.F.— Que se passa? Sente-se bem, senhor Conde Mamute?
C.M.— Não se paxa nada. Chiça! Parece que o Ti Manel da Redoma Verde se enganou no diacho da garrafa…Afinal, o palhaxo vendeu-me a garrafa do Xiismo…Agora sou xiita…
C.F.— Que tem um xiita da Parede que os xiitas do mundo inteiro não tenham?
C.M.— Chiu! Caluda! Todo aquele que manda calar ox outrox é um xiita da Parede. Chiu um xiita, perxebe? Além disso, falamos axim. Chiu, agora xou xiita, perxebe? Me xiita xou, perxebe? Chiu, xiita, me xiita sou. Ou seja: xiita xou-me, perxebe?
C.F.— …
C.M— Outra característica dos xiitas: fazer dos xilenxiados inimigos por tudo quanto é xítio…

C.F.— Inimigos!?
C.M.— Xim, chiu, caluda, agora sou xiita, ouviu? Inimigos? Felixmente temo-los em muitox xítios. Quer exemplos? Os hititas da Buraca, os albigenses do Alto do Pina, o efeito Doppler na boca da Teresa Guilherme, os índios Hopi de Odivelas, os artrópodes e os branquiópodes que escrevem sonetos monossilábicos na Amadora, o sistema hexadecimal do caranguejo fónix da silva, os sunitas do Estoril e os ahamaricanos que se não foxe o Buxe xeriam xertamente muito mais, tá a ver?
C.F.— Estou a ver…
C.M.— Xim, não, nim, não, xim, talvez, ouviu?div>
C.F— Sr. Conde…
C.M.— Caluda, pá, estou a penxar!
C.F--…
C.M-- Axo que vou fazer como esse tal de Sérgio Gordinho e fundar uma banda de gordinhos que divulgue os ideais xiitas…Uma banda gástrica que dê nas vistas e vá à televixão…Uma coisa digna de se ver. Que te parece, ó filho da luz?
C.F.— Já posso falar, Sr. Conde?
C.M.— Abre lá a torneira…
C.F.—A sua cara….
C.M— Xim, já sei! Deixa-me em paz. Que pretendes de mim?
C.F.— Qual é o seu verdadeiro nome?
C.M— Já disse e repito: xou o Conde Mamute Brancaamp…
C.F.— Qual conde, qual carapuça! Tu és a Maria Clara Varas Verdes de Miguéis, a minha rica filha!
C.M.— Como!? Parece que é parvo...
C.F.— Sim, tu és a Maria Clara, a minha filha…
C.M.— Olha, vai chamar pai a outro…
C.F.— Lembras-te das intermináveis discussões que tínhamos cá na praia, entre os dejectos dos domingos e a dejecção das segundas-feiras, em torno das contradições da Teoria da Relatividade do Einstein?
C.M.— Einstein? Tás maluco, pá! Desse gajo nunca falámos. O que sempre constituiu o pomo das nossas discórdias foi a Teoria Quântica do Eisenstein…
C.F— Ma-Mamute Brancamp Sobral y Sandwich, aliás, Maria Clara…Tens toda a razão, minha filha…Era do Eisenstein de quem falávamos…
C.M— Em todo o caso, também nos fartávamo de gozar com a fuga do Eisenstein para os Estados Unidos, como se os nazis lhe quisessem fazer algum mal…Aliás, está provado que o Holocráustico nunca existitu....
C.F.— Tens toda a razão, Maria Clara…
C.M.— Espera lá…Não és tu o tal idiota que julga ter criado uma teoria do Euromilhões com base nas teses do Edward de Bono e que ainda para mais diz ser a minha mãe piano ciborgue?
C.F.— Xim, não, xim, não, xim, não!
C.M— Que queres dizer com isso?
C.F.— Piano ciborgue!? Cigano, filha, sou a tua mãe cigano ciborgue.
C.M— Sim, o tal cigano ciborgue…
C.F.— Sim, sou o Norberto Chuang Faria, tua mãe…
C.M.— Sendo assim, vem a meus braços, Norberto Chuang Faria, minha mãe!

C.F.— Vem a meus braços, Mamute, aliás, Maria Clara, minha rica filha….
Sarja Akhmani, repórter iraniano

ALEXANDRA SOLNADO LIDERA CRUZADA CONTRA O IRLÃO





Alexandra Solnado, a conhecida vedeta do misticismo lisboeta e caricatura de seu pai, vai liderar uma Cruzada contra o Irlão. Para tal, irá reunir já amanhã no Largo do Rato um exército de bonecas insufláveis opus dei.
De Bíblia em riste e caras feias no rosto, as bonecas de Alexandra planeiam destruir magnificamente todo o léxico português de origem árabe, assim como todos os apelidos mouriscos tais como "Souto Moura" e "Pirilampo Mágico". Mais tarde, porém, quando tudo o que houver a fazer neste pequeno mundo já lhes tiver acudido ao espírito, voltar-se-ão acto contínuo para o pai meteorito da Cidade Santa de Meca. Em seguida, tencionam arranjar rapidamente um equívoco qualquer para que possam andar à bulha umas com as outras.

Entretanto, Sarja Akhmani, o mais-que-perfeito incompetente repórter iraniano a viver actualmente em Portugal, deslocou-se ao local muito antes de tudo isto ter sido concebido:
--Alex, minha, parabéns por seres filha de quem és!
--Obrigada, simpático! Pareces um boneco todo feito de sarja…
--Tem graça! Chamo-me precisamente Sarja Akhmani, e sou solteiro.
--Tou-me nas tintas pra isso, pá!
--Além disso, sou simpático e bom rapaz…
--Sorte a tua, sarja de solteiro, filho da luz e das trevas de todos os repórteres!
--Hum...Hum…
--Sim, que queres tu, ó meandro de um qualquer escaravelho?
--Bem, em primeiro lugar, gostaria de felicitar-te pela ruptura que estás a instituir no panorama da nossa contemporaneidade pós-moderna….
--Bolas para ti e para os fedelhos dos teus Derridas!
--Alex, ouvimos dizer lá no blogue do Sarja que pretendes organizar uma Cruzada contra o Irlão, essa região autónoma tão longínqua quanto problemática. Que tens tu a dizer de tudo isto?
--Bem, como deves saber, eles são tão perigosos quanto nojentos e como se isso não bastasse, julgam que se bastam a si próprios, tal como nós pensamos que nos bastamos a eles.
--Com efeito!

A CRUZADA DA ALEXANDRA SOLNADO TEM O PATROCÍNIO OFICIAL DO BANCO TOTTA E SATANDER. QUEM É SIMPÁTICO, QUEM É?

--Depois, kiss my pussy, a coisa está feia, pois Jess Cristo tem-me dito amiúde que sim, que vá, que veja, que seja, que intervenha, que reponha, que componha e recomponha aqueles trastes de barba de cereja, herbívoros do haxixe e muleques do deserto, caricaturistas do meu Salvador Peter Pan.
--Pera lá, Alex! Quem caricaturou as santas barbas do Salvador foram os Irlanianos do Norte, os europeus, vulgo dinamarqueses…
-- E depois?
--O teu pai sabe o que estás a fazer?
--Mas é claro que sim! Ele até diz que tenho mais graça do que ele!
--Alex, sejamos pragmáticos: nem tu nem as tuas amigas insufláveis opus dei têm condições para derrotar um país como o Irlão, armado até aos dentes, rico em petróleo e gente pobre, coeso em torno de uma forte causa comum….

--Nós somos as Solnadas de Cristo! Além disso, dispomos de uma falange, “os Remediados do Tomate”, que irá dar cabo em três tempos dos “Acanhados da Pélvis”, a elite do exército do Irlão….
--Estou a ver…
--E temos a razão do nosso lado, a razão dos oprimidos da caricatura, a razão que se explica a si mesma, a razão suficiente, a razão que põe e dispõe as razões conforme lhe dá na gana.
--Que é para ti o Irlão, Alex?
--Pá, é basicamente um estado de espírito, uma coisa, uma coisa que está dentro e fora de nós, tás a ver? Quando olhas para bem longe, pões uns óculos e passas a ver as coisas mais de perto, isso é Irlão, percebes?
--Compreendo. Alex, planos para o futuro?
--Bem, para já vamos descer a rua de S. Bento e apanhar o cacilheiro no Cais do Sodré. Depois, far-me-ei explodir na cidade santa de Al-mada. Uma vez aniquiliado o exército inimigo, voltamos para casa, pois tenho de estar na Fnac do Colombo às 19 h.
Sarja Akhmani, repórter iraniano

OS TRÊS CÍRCULOS PERFEITOS





A POLÍCIA CONSOME DROGA QUE CONSOME A POLÍCIA QUE CONSOME DROGA QUE CONSOME A POLÍCIA QUE CONSOME DROGA.


A POLÍCIA CONSOME CONSUMIDORES QUE CONSOMEM A POLÍCIA QUE CONSOME OS CONSUMIDORES QUE CONSOMEM, PORQUE A POLÍCIA CONSOME A POLÍCIA QUE CONSOME.


A POLÍCIA DROGA OS DROGADOS QUE DROGAM A POLÍCIA QUE DROGA OS DROGADOS POLÍCIAS QUE DROGAM OS POLÍCIAS DROGADOS QUE SE DROGAM COM OS DROGADOS DOS POLÍCIAS.


MORAL DA HISTÓRIA: DE BAFO EM BAFO SE CONSOME UM POLÍCIA.
Sarja Akhmani, repórter iraniano

sábado, 17 de novembro de 2007

GOVERNO DÁ PODER À ERC PARA CENSURAR TELEVISÕES




De acordo com a última edição do Expresso, "a nova lei da TV permite ao regulador interromper programas em directo". Dito isto, o censor-mor deste blogue, Zezé Fernandes-Censor-Mor-deste-blogue, entrou imediatamente em contacto com o melhor de entre os piores repórteres da História do Jornalismo português, Sarja Akhmani de seu nome, pedindo-lhe que entrevistasse o Secretário de Estado da Censura.

Como é por de mais sabido, Sarja Akhmani encontra-se actualmente nos Estados Unidos numa missão que tem tanto de pioneira quanto de piolheira: estudar o fenómeno George W. Bush.

Uma vez chegado a Portugal, Sarja Akhmani dirigiu-se à Secretaria de Estado da Censura onde foi prontamente informado da ausência do governante. No entanto, a recepcionista, simpática, apressou-se a arranjar-lhe Um Qualquer Senhor Secretário de Estado da Censura:

"Temos cá muito disso. Veja lá, ainda ontem estive a limpar os armários e deitei no lixo alguns secretários de estado da censura. O problema é que eles contaminam de tal maneira os caixotes do lixo onde são depositados que os detritos deixam de poder ser reciclados. Olhe, você está cheio de sorte. Acabei agora mesmo de encontrar um deles no caixote do lixo. Vá, experimente este Um-Qualquer-Senhor-Secretário- de-Estado-da-Censura e vai ver que não se irá arrepender…

"Sarja Akhmani (S.A.) — Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado-da- Censura, qual é o verdadeiro intuito desta lei?

Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado-da-Censura (U.Q.S.S.E.C.) — Repare, esta lei tem o intuito de um dia ter um intuito qualquer.

S.A.— Não lhe parece perigoso atribuir poderes censórios a órgãos presumivelmente independentes, mas que um dia podem ganhar asas e voar?

U.Q.S.S.E.C.-- Como seria de esperar, não poderia estar menos de acordo consigo. A ERC não tem qualquer parceria com a Boeing, nem com a Airbus, pelo que a curto prazo é humanamente impossível que venha a ganhar asas.

S.A— Um dos atributos da ERC é evitar "o incitamento ao ódio político". Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado-da Censura, não lhe parece demasiado ambíguo este tipo de formulação?

U.Q.S.S.E.C. – Repare, nos tempos que correm, só governa quem souber produzir discursos ambíguos. Só assim é que a Direita se moderniza em Esquerda moderna, percebe?

S.A— Posso lembrar-lhe que na RTP já existe para o efeito um Provedor do Espectador?

U.Q.S.S.E.C. -- Sim, já existe, mas ainda não foi criado.Vê? Você também está a ser ambíguo. Além do mais, esta lei visa interromper emissões em directo em que estejam ministros do governo português a produzir discursos pouco claros e enganosos…

S.A— Como!? Terei compreendido bem as suas palavras?

U.Q.S.S.E.C. -- Compreendeu, meu amigo. Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que todos os nossos governantes tomam ou tomaram Prozac com alguma regularidade, pelo que...

S.A.— A minha alma está parva!!! Ainda bem que a simpática da recepcionista me indicou o senhor…

U.Q.S.S.E.C—Em segundo lugar, é preciso proclamar bem alto o que só pode ser dito em voz baixa. Fiz-me entender?

S.A.— Perfeitissimamente, Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado- da-Censura. No entanto, continuo sem compreender a sua atitude. Afinal de contas, o Sr. é Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de Estado-da- Censura e supostamente deveria defender a ERC…

U.S.S.E.C— Sabe, vou ser sincero consigo. Eu não sou Um-Qualquer- Senhor-Secretário-de-Estado-da-Censura….

S.A.— Que estranho…Afinal, quem é o senhor?

U.S.S.E.C— Sou o marido da recepcionista. Este desfecho foi brilhante, não foi?
Sarja Akhmani, repórter iraniano

SUA SANTIDADE EL DEPUTADO RAMON CAVALO





Ramon Cavalo é, sem dúvida, um dos mais notáveis e desconcertantes El deputados da nossa praça. Homem de Cultura e de princípios inabaláveis, foi desovado aqui há anos por “Eco-na-erva”, uma égua comanche nada e criada no Alto do Pina.


Criança precoce, cedo se evidenciou pela retórica luzidia dos seus muito cavalares silêncios. De registar que já aos sete anos de idade espairecia todos os dias pelas ruas daquela belíssima aldeia, o cachimbo de cavalo encravado na cultíssima boquinha cor-de-rosa, o narizito de relincho de muito hábil cavalgar, um cravo de Abril a pender-lhe da humana orelhinha direita.


Volvidos alguns anos, o “cachimbo do Alto do Pina” (como era então vulgarmente conhecido) encostou-se às pintinhas cor de laranja do PPD/PSD de José Sócrates.


Como não podia deixar de ser, o pior de entre os piores repórteres iranianos a viver actualmente em Portugal, Sarja Akhmani de seu nome, foi encontrar El deputado Ramon Cavalo nos Passos Perdidos. Desse pouco recomendável encontro resultou a conversa que ora passamos a relatar:


Sarja Akhmani (S.A) — Ora viva, sr. Ramon Cavalo. Bons olhos o vejam!

Ramon Cavalo (R.C.) — Sarja, meu amigo. Já de regresso a Portugal? Espero que desta vez tenha vindo para ficar…Nem sei como consegue conviver com tipos tão incultos como os americanos…

S.A— Amigo Ramon, já alguma vez teve amigos americanos?

R.C. — Ora, toda a gente sabe que os americanos são incultos. Um país provinciano, uma literatura paupérrima. Para tal, basta ler alguns autores americanos actuais: o Paul Auster, o Philip Roth e o Don Delillo, por exemplo…Absolutamente execráveis…Isto para já não falar do Walter Whiteman

S.A—Walt Whitman…

R.C. — Exacto. Não era esse que gostava de engatar marinheiros?

S.A— A sexualidade equídea é muito complexa e todo o cavalo tem direito a escolher o tipo de cavalariça onde deseja dormir.

R.C. — Apesar de ser uma espécie em vias de extinção, prefiro ir pescar baleias ali para as bandas do Cabo Espichel, e depois levá-las a jantar ao Tavares Rico…Coisas de cavalos, não é verdade?

S.A— De qualquer das formas, não é o Whitman que me traz hoje aqui, mas as políticas do governo PPP/PSD de José Sócrates.

R.C. — E lembrou-se de mim, não é verdade? Pois fez muito bem. Venham daí as perguntas que tanto eu como o meu cachimbo teremos muito gosto em responder.

S.A— Amigo Ramon Cavalo, posso saber se já debitaram o subsídio de natal na sua conta bancária?

R.C. — Mas é claro que sim! Os compromissos são para cumprir, não é verdade?
S.A—Sabia que o seu governo achou por bem privar os professores universitários de receber o respectivo subsídio?

R.C. — Sabe, o meu governo tem vindo a desenvolver políticas sociais que visam retirar privilégios a três poderosíssimos lobbies do nosso país: os deficientes, os reformados, e os professores universitários.

S.A— Sempre tive uma visão bastante negativa do academismo balofo de certos “mestres”. No entanto, há excepções, e não se pode negar que, de um modo geral, os professores universitários têm dado um contributo importantíssimo ao nosso país, não lhe parece?

R.C. — Não seja ingénuo, Sarja! O que eles querem é estudar gajos mariconços como o tal de Walter Whiteman.

S.A—Além de fraca, a sua resposta é a prova provada que de nada vale estudar livros sobre o Humor e a escrita humorística de autores como Freud, Henri Bergson e Mel Helitzer…

R.C. — Ahn? Está a falar de escritores americanos, não é verdade? Era o que eu dizia: não prestam para nada.

S.A—E quanto aos reformados, Ramon Cavalo? Parece-lhe bem que o seu PPD/PSD lhes faça a vida negra?

R.C. — Francamente, Sarja, você é básico. Afinal de contas, para que é que precisamos de reformados se somos reformistas? Será que você não se apercebe da contradição?

S.A— Mais uma resposta sem piada nenhuma. Isto vai de mal a pior. Adiante. E os deficientes?

R.C. — Bem, esses são uma questão àparte. Os deficientes constituem uma espécie de síntese social dos reformados e dos professores universitários.

S.A— Como assim!?

R.C. — Repare, se os deficientes não estudarem muito bem a sua deficência não se tornam deficientes, mas reformados, não é verdade? Entretanto, aqueles que concluíram a tese gastaram rios de dinheiro do erário público. Sendo assim, é justo que percam algumas regalias, não acha?

S.A— Já não acho nada. Bom, será que poderíamos mudar de assunto? Podemos falar, por exemplo, das duas vertentes do El deputado Ramon, a do homem e a do cavalo?

R.C. — Com certeza. Venham daí as perguntas que tanto eu como o meu cachimbo teremos muito gosto em responder.

S.A— Qual tem sido a sua actividade equidea e humana na Assembleia da República?

R.C. —Como deve ter tido conhecimento através dos jornais, faço parte de uma comissão que fundou o OPCTS (Observatório Parlamentar das Comissões que Trabalham a Sério). Isto é duro de roer, amigo. Há tipos como o Manuel Alegre, e gajos do PCP e do Bloco de Esquerda que levam isto mesmo muito a sério. Enfim, uma trabalheira dos diabos. Para eles, como é óbvio.

S.A— Um El deputado como você deve ter muito tempo de sobra, não é verdade?

R.C. — Sabe, ver os outros bastante atarefados é uma função duríssima. Vou dar-lhe um exemplo: quando me apercebo que alguns tipos vão ficar aqui a estudar dossiers até tarde, pego em mim, vou até ao cabo Espichel, pesco uma baleia, janto com ela no Tavares Rico, e depois venho até cá observar melhor esses cavalos que mais não fazem senão trabalhar.

S.A.— Já ouvimos essa história. No entanto, noto em si uma diferença assinalável: parece-me um pouco mais calmo, um pouco mais mais adulto, mais compenetrado. Estarei enganado?

R.C.— Tem toda a razão. Sabe, de tanto observar quem trabalha no duro, tornei-me monge budista. A história resume-se a muito pouco. Anteontem, ouvi dizer que o Budismo estava na moda e esta manhã acordei budista. Foi uma coisa bastante rápida, nem sei explicar como é que aconteceu. Por isso, agradeço que me passe a tratar não só por Cavalo, mas também por Sua Santidade. Sua Santidade Ramon Cavalo.

S.A.— Sua Santidade Ramon Cavalo, posso então concluir que você é contra todo o tipo de violência, certo?

S.S.R.C..— Com efeito, o meu cachimbo é visceralmente contra todo e qualquer tipo de violência.

S.A.— Não será, portanto, difícil de inferir que, em caso de agressão, você até iria agradecer…

S.S.R.C.— Exacto.

S.A.— Sendo assim, permita-me, Sua Santidade Ramon Cavalo, que lhe dê uma sova budista por todos os disparates que produziu ao longo desta conversa?

S.S.R.C.— Faça o favor. A sova é sua. Cavalo budista que se preze tem tempo de sobra e lombo onde leve.


Sarja Akhmani, repórter iraniano