terça-feira, 25 de dezembro de 2007

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO V

*Das estratégias de comunicação no vosso Reino Rectângular:

No vosso Reino, quando um indígena quer tratar de um assunto junto de uma qualquer instituição, não pode nem deve ter uma conversa normal com o funcionário, sob pena de a sua queixa/ reclamação/direito não serem tomados a sério. Não! O estratagema tem de ser outro: ou o indígena se arma em “coitadinho” (A estratégia do coitadinho) e regateia, se for caso disso, os seus direitos, como se de um bazar afegão se tratasse; ou ergue bem alto a voz (a estratégia do filho-da-putin) de forma a fazer-se ouvir num raio de quinhentos quilómetros.

A Mosca Lizandra Suzuki, omnipresente amiga que tudo vê e tudo escuta, assistiu há dias no BCP (Banco Coelho Português) a duas conversas que ilustram à exaustão as estratégias acima mencionadas. Ei-las:

1) A estratégia do coitadinho:

--Boa tarde. Preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem.

--Que é que o Banco Coelho Português tem a ver com isso?

--Bem…Como você é funcionário do Banco onde tenho o meu dinheiro depositado, pensei que…

--Engano seu. Meio cêntimo!? Não acha que devia ter um pouco mais de vergonha na cara e deixar-se de exigências absurdas?

--Mas meio cêntimo não é nada! Além disso, o dinheiro é meu e preciso dele para…

-- Raios partam o homem! Só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja…Você só se lembra de vir cá levantar o seu dinheiro quando precisa dele, não é verdade?

--Tem toda a razão…No entanto….

--Pois é! E quando não precisa dele? Quando você não precisa do seu rico dinheirinho, deixa-o aqui na sua conta à ordem, vai à sua vidinha e não lhe liga nenhuma! É sempre a mesma coisa! Ó Varela, que é que pensas disto? Não achas que tenho razão?

--Penso que sim, mas acho que não.

--Vê? O meu colega Varela também acha tenho razão...

--Por favor, dê-me o meu dinheiro! Sabe, a minha mulher, que é uma santa, está em risco de morrer em cheiro de santidade…Por outro lado, o meu irmão está farto de apanhar carraspanas devido a problemas financeiros, e quanto ao meu filho mais novo, coitadinho, pecisa de fazer uma operação plástica ao narizito...Como vê, preciso mesmo do meio cêntimo...Caso contrário, estarei perdido!

--Ó Varela, que é que pensas disto?

--Tu vê lá no que te metes. Olha que o tipo não joga com o baralho todo.

--Por favor! Imploro-lhe! Dê-me o meu meio cêntimo! Além do mais, tenho o síndrome de Down.

-- Ó Varela, que é que pensas disto?

--Eh pá, se o gajo tem o síndrome de Down é porque anda a fazer muitos downloads na Net, pá!

-- Por favor! Estou desempregado, a minha prima Maria do Amparo enviuvou recentemente e, para cúmulo do azar, a minha cunhada foi atropelada a semana passada por um camião Sócrates.

--Ó Varela, ele há gente para tudo, não te parece?

-- Afirmativo. Cambada de indigentes. É preciso ter lata! Pensam que isto aqui é um Banco e depois abusam. O que o tipo quer é levantar o seu dinheiro, pá!



2) A estratégia do filho-da-putin:

--Boa tarde. Preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem.

--Importa-se…Bom, importa-se de vir aqui para trás do balcão decidir a quantia que pretende levantar da sua conta à ordem. Sabe, hoje não trouxe cuecas e, por isso…

--O quê!? Julga que nasci ontem? Ou pensa que não me lembro do diálogo anterior? O que você quer é que eu não levante o dinheiro!

-- Nada disso! Assim que o senhor entrou nesta dependência, pensei com os meus botões:” Ei-lo! É mesmo ele! Finalmente, chegou o eleito do meu coração...Finalmente, chegou aquele que me há-de levar para bem longe desta espelunca...

--Perdão?

-- Finalmente, chegou aquele que há-de tirar-me a roupa toda num jacuzzi a transbordar de leite de burra...

--Homem, já estou a perder a paciência! Vá lá! Quero o meu meio cêntimo e é JÁ!

--Está bem! Vamos já desbloquear a situação, não se preocupe. Ó Varela, que me dizes a isto?

--Eh pá, o gajo é o mesmo que esteve no diálogo anterior, não é? Que maçada! Olha, leva-o à Ermelinda.

--O meu colega Varela diz que não há problema nenhum. O senhor esteja descansado que vai já receber o seu dinheirinho.

--Caramba! Estava a ver que nunca mais se resolvia isto! Afinal de contas, vocês têm um excelente serviço de atendimento aos clientes e...

-- Bem, vamos lá então à Ermelinda? Garanto-lhe que é muito boa moça e cobra juros acessíveis em todos os servicinhos que faz.

--PORRA! Homem, já lhe disse que preciso urgentemente do dinheiro!

--Ó Varela, o gajo é mais esperto do que eu julgava. E agora?

--Olha, conta-lhe a estória dos economistas.

--Fico feliz por saber que vou receber o meu dinheiro.Até que enfim. Porra!

--Caro senhor! Tudo o que for possível no Inferno é possível no Banco Coelho Português e fique desde já a saber que a pobreza é o preço que o Homo Sapiens tem de pagar pela existência de economistas. Além disso, a Ermelinda também hoje não trouxe cuecas e adora jacuzzis de leite de burra.

--Mau maria! Temos o caldo entornado! A-M-I-G-O, preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem senão PARTO ISTO TUDO! PORRA!

--Tenha calma. Não vale a pena perder as estribeiras. Aliás, o nosso banco também aceita depósitos de estribeiras. Quantas estribeiras pretende então depositar na sua conta?

--OIÇA, VOCÊS ESTÃO A MANGAR COMIGO!? Sou um tipo pacífico, mas quando me sobem os azeites sou capaz de tudo! VÁ,DÊ-ME JÁ O MEU MEIO CÊNTIMO, SENÃO PARTO ESTA MERDA TODA!

--Te-tenha cal-calma! Pronto! Aqui tem o seu meio cêntimo.

--Porra, estava a ver que nunca mais via o meu dinheiro. PORRA!

--Está a ver este coelhinho amoroso que o meu colega Varela me passou para as mãos? Pois fique a saber que é uma oferta do Banco Coelho Português.

--Hã? Um coelho? Um coelho de borla?

--ExactO! E se você carregar com jeitinho no nariz do coelho, accionará um mecanismo que lhe permitirá ouvir as Carmina Burana do Carl Orff. Como vê, não queremos que falte nada aos nossos clientes!

--Sinceramente, nunca pensei que este Banco fosse tão simpático! Olhe, pensando melhor, acho que vou voltar a depositar o meio cêntimo e levar o coelho para casa. E...Quanto...Quanto à sua proposta? A de não ter trazido as cuecas...Ainda se mantém de pé?

--Mas é claro que sim! Não queremos que falte nada aos nossos clientes!

--Caramba! Ainda há bancários simpáticos neste Reino!



Sarja Akmani, repórter iraniano

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