terça-feira, 25 de dezembro de 2007

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO V

*Das estratégias de comunicação no vosso Reino Rectângular:

No vosso Reino, quando um indígena quer tratar de um assunto junto de uma qualquer instituição, não pode nem deve ter uma conversa normal com o funcionário, sob pena de a sua queixa/ reclamação/direito não serem tomados a sério. Não! O estratagema tem de ser outro: ou o indígena se arma em “coitadinho” (A estratégia do coitadinho) e regateia, se for caso disso, os seus direitos, como se de um bazar afegão se tratasse; ou ergue bem alto a voz (a estratégia do filho-da-putin) de forma a fazer-se ouvir num raio de quinhentos quilómetros.

A Mosca Lizandra Suzuki, omnipresente amiga que tudo vê e tudo escuta, assistiu há dias no BCP (Banco Coelho Português) a duas conversas que ilustram à exaustão as estratégias acima mencionadas. Ei-las:

1) A estratégia do coitadinho:

--Boa tarde. Preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem.

--Que é que o Banco Coelho Português tem a ver com isso?

--Bem…Como você é funcionário do Banco onde tenho o meu dinheiro depositado, pensei que…

--Engano seu. Meio cêntimo!? Não acha que devia ter um pouco mais de vergonha na cara e deixar-se de exigências absurdas?

--Mas meio cêntimo não é nada! Além disso, o dinheiro é meu e preciso dele para…

-- Raios partam o homem! Só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja…Você só se lembra de vir cá levantar o seu dinheiro quando precisa dele, não é verdade?

--Tem toda a razão…No entanto….

--Pois é! E quando não precisa dele? Quando você não precisa do seu rico dinheirinho, deixa-o aqui na sua conta à ordem, vai à sua vidinha e não lhe liga nenhuma! É sempre a mesma coisa! Ó Varela, que é que pensas disto? Não achas que tenho razão?

--Penso que sim, mas acho que não.

--Vê? O meu colega Varela também acha tenho razão...

--Por favor, dê-me o meu dinheiro! Sabe, a minha mulher, que é uma santa, está em risco de morrer em cheiro de santidade…Por outro lado, o meu irmão está farto de apanhar carraspanas devido a problemas financeiros, e quanto ao meu filho mais novo, coitadinho, pecisa de fazer uma operação plástica ao narizito...Como vê, preciso mesmo do meio cêntimo...Caso contrário, estarei perdido!

--Ó Varela, que é que pensas disto?

--Tu vê lá no que te metes. Olha que o tipo não joga com o baralho todo.

--Por favor! Imploro-lhe! Dê-me o meu meio cêntimo! Além do mais, tenho o síndrome de Down.

-- Ó Varela, que é que pensas disto?

--Eh pá, se o gajo tem o síndrome de Down é porque anda a fazer muitos downloads na Net, pá!

-- Por favor! Estou desempregado, a minha prima Maria do Amparo enviuvou recentemente e, para cúmulo do azar, a minha cunhada foi atropelada a semana passada por um camião Sócrates.

--Ó Varela, ele há gente para tudo, não te parece?

-- Afirmativo. Cambada de indigentes. É preciso ter lata! Pensam que isto aqui é um Banco e depois abusam. O que o tipo quer é levantar o seu dinheiro, pá!



2) A estratégia do filho-da-putin:

--Boa tarde. Preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem.

--Importa-se…Bom, importa-se de vir aqui para trás do balcão decidir a quantia que pretende levantar da sua conta à ordem. Sabe, hoje não trouxe cuecas e, por isso…

--O quê!? Julga que nasci ontem? Ou pensa que não me lembro do diálogo anterior? O que você quer é que eu não levante o dinheiro!

-- Nada disso! Assim que o senhor entrou nesta dependência, pensei com os meus botões:” Ei-lo! É mesmo ele! Finalmente, chegou o eleito do meu coração...Finalmente, chegou aquele que me há-de levar para bem longe desta espelunca...

--Perdão?

-- Finalmente, chegou aquele que há-de tirar-me a roupa toda num jacuzzi a transbordar de leite de burra...

--Homem, já estou a perder a paciência! Vá lá! Quero o meu meio cêntimo e é JÁ!

--Está bem! Vamos já desbloquear a situação, não se preocupe. Ó Varela, que me dizes a isto?

--Eh pá, o gajo é o mesmo que esteve no diálogo anterior, não é? Que maçada! Olha, leva-o à Ermelinda.

--O meu colega Varela diz que não há problema nenhum. O senhor esteja descansado que vai já receber o seu dinheirinho.

--Caramba! Estava a ver que nunca mais se resolvia isto! Afinal de contas, vocês têm um excelente serviço de atendimento aos clientes e...

-- Bem, vamos lá então à Ermelinda? Garanto-lhe que é muito boa moça e cobra juros acessíveis em todos os servicinhos que faz.

--PORRA! Homem, já lhe disse que preciso urgentemente do dinheiro!

--Ó Varela, o gajo é mais esperto do que eu julgava. E agora?

--Olha, conta-lhe a estória dos economistas.

--Fico feliz por saber que vou receber o meu dinheiro.Até que enfim. Porra!

--Caro senhor! Tudo o que for possível no Inferno é possível no Banco Coelho Português e fique desde já a saber que a pobreza é o preço que o Homo Sapiens tem de pagar pela existência de economistas. Além disso, a Ermelinda também hoje não trouxe cuecas e adora jacuzzis de leite de burra.

--Mau maria! Temos o caldo entornado! A-M-I-G-O, preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem senão PARTO ISTO TUDO! PORRA!

--Tenha calma. Não vale a pena perder as estribeiras. Aliás, o nosso banco também aceita depósitos de estribeiras. Quantas estribeiras pretende então depositar na sua conta?

--OIÇA, VOCÊS ESTÃO A MANGAR COMIGO!? Sou um tipo pacífico, mas quando me sobem os azeites sou capaz de tudo! VÁ,DÊ-ME JÁ O MEU MEIO CÊNTIMO, SENÃO PARTO ESTA MERDA TODA!

--Te-tenha cal-calma! Pronto! Aqui tem o seu meio cêntimo.

--Porra, estava a ver que nunca mais via o meu dinheiro. PORRA!

--Está a ver este coelhinho amoroso que o meu colega Varela me passou para as mãos? Pois fique a saber que é uma oferta do Banco Coelho Português.

--Hã? Um coelho? Um coelho de borla?

--ExactO! E se você carregar com jeitinho no nariz do coelho, accionará um mecanismo que lhe permitirá ouvir as Carmina Burana do Carl Orff. Como vê, não queremos que falte nada aos nossos clientes!

--Sinceramente, nunca pensei que este Banco fosse tão simpático! Olhe, pensando melhor, acho que vou voltar a depositar o meio cêntimo e levar o coelho para casa. E...Quanto...Quanto à sua proposta? A de não ter trazido as cuecas...Ainda se mantém de pé?

--Mas é claro que sim! Não queremos que falte nada aos nossos clientes!

--Caramba! Ainda há bancários simpáticos neste Reino!



Sarja Akmani, repórter iraniano

Só para quem a mania do zapping...O autor deste blogue também está

aqui


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO IV


*Do Provincianismo português:

Depois de muito calcorrear a pé o vosso Reino rectângular, arquitectei uma tipologia do vosso provincianismo. A título de exemplo, irei relatar-vos algumas conversas que ouvi nas mais variadas e distantes terreolas do vosso território imperial:


a) Na vossa Província, ainda existem três grandes tipos de provincianismo:

1º Tipo: um provincianismo de ressentimento que brota de um intenso e injustificado complexo de inferioridade em relação a Lisboa. Este género de mentalidade é típico dos vossos régulos locais e da sua respectiva classe social.

Eis uma conversa que ouvi a dois caciques locais:

--Ó Mendes, que me dizes a isto?

--Quê? Não vês que estou ocupado a enviar cheques-galinha aos nossos eleitores?

--Caga lá nesses frangos depenados que passam o tempo todo a votar na gente. Tenho uma proposta indecente a fazer-te: que tal irmos a Lisboa visitar umas meninas muito simpáticas que trabalham no Elefante Branco?

--Não vou!

--Anda daí. Vais ver que não te vai faltar nada.

--Não vou, porque os elefantes nascidos em Lisboa julgam-se superiores aos nossos.


2º Tipo: um provincianismo patrioteiro que admira tudo o que é estrangeiro mas que, ao contrário do vosso provincianismo lisboeta, não o idolatra. Esta forma de pensar é típica de uma certa classe média baixa.

Eis uma conversa que ouvi a dois rapazolas num bar:

--Eh pá, arranjei agora uma alemã de se lhe tirar o chapéu!

--Ai sim? Conta, conta! A gaja é boa?

--Boa? Tás parvo ou fazes-te? A gaja é um avião! Não queiras tu saber…

--Que tal é a gaja nas aterragens?

--Pá, ela aterra com a mesma facilidade com que descola da pista. Aquilo é material de primeira, que é que tu julgas?

--Não gosto da Lufthansa, prefiro a TAP.


3ºTipo: um provincianismo de bairro que brota de uma profunda baixa auto-estima e desemboca muitas vezes num bairrismo parvalhão e bacoco. Esta “concepção do mundo” é característica da pequena burguesia e, curiosamente, de uma certa classe média alta.

Aqui vai uma conversa que ouvi a dois velhotes:

--A nossa terra é a maióri!

--É sim senhôri!

--O nosso clúbi é o maióri!

--E sim senhôri!

--O pádri da nossa igreja é o mais rico de Portugáli!

--É sim senhôri!

--As nossos campos são as mais bonitos de Portugáli!

--São sim senhôri!

--A tua mulher tem um furúnculo na nádega esquerda que é o mais bonito melhóri di Portugáli!

-- É sim senhôri!


No que toca a Lisboa, deparei-me com dois tipos de provincianismo:

1ºTipo: um provincianismo de poder relativamente à Província, que encerra dois matizes básicos, a saber:

1º Subtipo: a Província ainda é muito antiquada e é um lugar perfeito para passar férias ou ter uma casa de campo que se pode e deve ostentar junto dos amigos. Este modelo de provincianismo, no qual me incluiria se fosse português, é característico de uma certa classe média que imigrou para a capital do vosso Reino há uma ou duas duas gerações.

Eis uma conversa entre dois rastas da Moita:

--Pá, e foi então que o gajo começou a mandar vir comigo….

--Que foi que ele te disse?

--Eh pá, o gajo não abriu a boca, mas tal atitude obrigou-me a manifestar o meu vivo repúdio por tudo o que o gajo parecia que ia dizer mas não disse, não te parece que fiz bem?

--Fizeste bem. E o gajo?

--O gajo acenava que sim com a cabeça, como se pretendesse mandar-me àquela parte, tás a perceber?

--Que é que uma coisa tem a ver com a outra?

-- Não tem nada a ver, mas podia ter tido a ver. Repara, o gajo era da Província e com esses gajos todo o cuidado é pouco.

--Mas que foi que ele te disse?

--Nada, o gajo não disse nada. Mas podia ter dito.

--E tu? Que foi que lhe disseste?

--Pá, foi então que me lembrei daquele episódio d`Os Lusíadas, o do Gigante Amesterdão.

--O Gigante Adamastor, queres tu dizer

--Sim, o do Gigante Amesterdão. Pá, assim que comecei a declamar o episódio, o gajo, que só por ser da Província era muito ignorante, foi-se logo embora…E foi assim que me livrei de uma discussão que podia ter acabado mal, muito mal.

--…Que podia ter começado mal, queres tu dizer…

--Sim, pá, que podia ter acabado mal, muito mal…



2º Subtipo: a Província mudou muito, está mais desenvolvida, mas nós é que somos a Capital e não lhes devemos ceder os nossos pergaminhos. Este tipo de tacanhez é característico de uma certa classe média-alta lisboeta que já perdeu a sua oriundez provinciana e se assume como uma espécie de “aristocracia”


2º Tipo: um provincianismo de submissão parva ao estrangeiro. Este género de provincianismo, característico das vossas “classes dirigentes”, nutre um desprezo total pelo vosso país real, e tem o condão de fazer figuras tristíssimas num mero contacto com alguém de fora.


Esta conversa entre dois lisboetas ilustra grosso modo o tipo e o subtipo anteriores:

--Padre Ambrósio, a Povíncia é muito atrasada, não é?

--Quem me chama? Quem me vê?

--Sou eu, o Alípio Figueira, o seu acólito, padre Ambrósio.

--Dize, meu filho, dize.

--A Povíncia é muito atrasada, não é?

--Dize, meu filho, dize.

--Nós somos muito aristocratas, padre Ambrósio, não é verdade?

-- Dize, meu filho, dize.

-- Padre Ambrósio, as pessoas da Província cheiram todas mal dos pés, não é verdade? E isso é o máximo, não é?

--Cheiram, meu filho, ui se cheiram! Sim, isso é o máximo!

--Padre Ambrósio, é na nossa classe social que é recrutada a elite dirigente, não é verdade?

-- Cheira, meu filho, ui se cheira mal dos pés!

-- Padre Ambrósio, é a nossa classe social que fornece os imbecis que ocupam cargos em Lisboa que não servem para nada, não é verdade?

Eis senão quando se aproxima um estrangeiro qualquer:

--Can you speak English?

--Oh yes, yes, yes, yes yes yessssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

--How may we help you, Sir?

--Pá, cocem-me as costas, nowwwwww!

--Oh yes, yesssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss yes,sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

--Pá, cocem-me aí quelque choseeeeeeeeeee…

Sim! oui! oui! oui! ouiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

--Caramba, tu és mais que nós! Tu és estrangeeeeeiro!

--Sinhe, suou um gaijo de Nanterre nascido no Puerto, carago!



Sarja Akhmani, repórter iraniano

terça-feira, 20 de novembro de 2007

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO III


*Dos paranóicos

Dois amigos conversam animadamente:

--“Pá, sabes como é que as coisas são. Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré!”

De cada vez que vou na rua e ouço alguém a usar esta expressão, fico com a estranha sensação que é de mim que estão a falar.


*Dos slogans sobre o tabagismo:

Ter cancro provoca o tabagismo

Fuma ganza e serás de pedra

Fuma muito e serás pouco

Há fumar e fumar, há ganza e voltar

Quem bem me fuma, meu amigo é

Fuma, fuma, rabbit, fuma!

Finalmente, fumemos Papam!

Cigarrus és, beatus serás!

Fume bem para morrer melhor

A Carmen era o cigarro, o dom José uma beata de fumo

Viver deita fumo

Se tudo é fumo, então deus é a tabaqueira

Meus Irmãos, fumemo-nos uns aos outros!


*Da hipocrisia dos portugueses:

O português é tal modo hipócrita que sempre que diz bem de alguém julga que é de si próprio que está a falar.


*dos deveres das fortezinhas

As mulheres muito fortes, com muitos pneus e que passam o tempo todo a conduzir deveriam pagar imposto multi-pneus.


*Da lucidez matinal

Acordar lúcido é abrir os olhos na firme convicção de que o Pedro Santana Lopes é a última reencarnação do conde Saint-Germain.


Sarja Akhmani, repórter iraniano

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO II


*Da gratidão

A camelo dado não se olha a prótese.

*Da traição amorosa

Faz sempre as enxadas com a mulher que te trocou por outro. Relativiza a tua dor e alegra-te com a felicidade deles. Que diabo, temos que ser uns para os outros! Portanto, continua com a tua vida e deixa para trás o ressentimento.

P. S. Uma vez feitas as enxadas com ela, pensa que a cabeça dele é um mundo que merece ser escavado.

*Da incontinência urinária:

Sofrer de incontinência urinária será o mesmo que fazer a continência a um urinol?

*Da discriminação racial

Confesso que fico em estado de choque tecnológico com a discriminação de que têm sido alvo os africanos, os ciganos, os palestinianos, os judeus, os homossexuais, e as lésbicas. Combater os preconceitos contra as minorias não é só um imperativo ético nacional, mas também um ditame estético artur bual.

Acresce a tudo isto uma nova forma de racismo que tem vindo ultimamente a assumir proporções gravíssimas, a saber: a fortíssima discriminação de que têm sido vítimas as formigas rabequistas.De rabeca aos ombros e bigodes lacrimejantes, aí estão elas, magras de dor e aos tombos do desgosto, ignoradas das grandes orquestras da Europa.

Em noites de lua cheia, aos bandos e entre frestas e frinchas e prantos, choramingam as suas patitas nas batutas das patitas de maestros encrespados de preconceitos anti-rabeca.A desoras da vida e da engenharia de Bach, entregam-se umas quantas ao prazer ilusório e traiçoeiro do álcool, enquanto outras tantas se deixam beber pelo real e efectivo prazer do álcool.

Arlequins na tristeza circense da sua pequenez, estes seres diminutos são hoje em dia autênticos anjos de abdicação insecticidal. Ao cabo de muita angústia e ostracismo acabam sempre por sucumbir, inevitáveis e mortas, nas ruas sem música das grandes cidades europeias, sob o silêncio das botas e dos pneus da discriminação racial.

Declaro iranianamente a minha impotência perante tamanha injustiça social. Vítimas de uma sociedade pela qual não são minimamente responsáveis, as formigas rabequistas são, afinal de contas, minúsculas barcaças carregadas de uma dureza rude e preta de vida que poucos conseguem imaginar. Europeus, despertai! As formigas rabequistas são os índios da vossa América!

Sarja Akhmani, repórter iraniano

DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO I



*Das reuniões:

Assistir a uma reunião chata será o mesmo que viver no interior do intestino grosso do Pedro Santana Lopes?

*Do Ensino Secundário:

Não, os Liceus portugueses não são um inferno. A ministra da educação é que sofre de um acentuado défice de celestialidade.

*Do consumismo:

Uma vez comprei um gato que fazia muuuuu. Dei-lhe um rato a comer. O rato, português esperto, comeu o rato que o gato tinha devorado antes dele. Foi então que o gato se pôs a miar, já com o primeiro rato dentro do bucho do segundo rato.No entanto, o que mais me fez espécie nesta estória foi o facto de o manual de instruções do gato vir em estrangeiro. Acho que fui enganado. Pergunta: a que instituição deverei apresentar queixa?

*Sobre Portugal:

Portugal é um país de brancos costumes ou de brandos curtumes?

*Dos ricos e da riqueza:

Gostaria de ser rico para poder desabafar em privado: “Ah, quem me dera a mim ter os problemas dos pobres para poder sonhar que um dia serei rico”

Sarja Akhmani

DUAS FARSAS DE SARJA AKHMANI:

OS CHIMPAZÉS




DRAMATIS PERSONAE:

Primo Bisconde, chefe do bando e primo de todos os chimpazés.

Correia Chimarrão, um general do exército chimpazé.

Firmino, tio de Correia Chimarrão.




Algures, na selva….


Primo Bisconde

Fala mais baixo, Correia Chimarrão. Olha que levas! Que é que se passa contigo? Pareces stressado...Sabes, passei a noite toda a arranjar o GPS do teu tio Firmino e preciso de ir descansar.

Correia Chimarrão

Primo Bisconde, Primo Bisconde, eles já sabem de tudo, carago, Primo Bisconde! Morcounhes duma figa, carago, Primo Bisconde! Eles já sabem de tudo, carago, Primo Bisconde! Mooouros duma figa, carago, Primo Bisconde!

Primo Bisconde

Cala-te, tás bêbado! Eles já sabem de tudo…Ó Correia Chimarrão, tem mas é tino nessa cabeça! Essa agora! Eles, quem? Os Dreads?

Correia Chimarrão

De maneira nenhuma, Primo Bisconde! Nomhe! Nom son os Dreads, carago, Primo Bisconde! Son os…

Primo Bisconde

…Os Metálicos?





Correia Chimarrão

Nomhe! Primo Bisconde, nom som os Metálicos, Primo Bisconde! Son os…

Primo Bisconde

Correia Chimarrão, temos de arranjar um bode expiatório. Se assim não for, como poderei justificar o meu poder sobre a nossa tribo? Hum…Aposto que foram os Góticos, esses irresponsáveis que andam pelos nossos cemitérios a ler aquele tipo americano…Ai como é que ele se chama?

Correia Chimarrão

O Ulisses no País das Marabilhas, Primo Bisconde?

Primo Bisconde

Arre! Não sejas parvo, homem! É o…Tenho o nome dele debaixo da lingua…Ajuda-me, Correia Chimarão…É o…

Correia Chimarrão

A Alice no País das Mil e uma Noites, primo Bisconde?

Primo Bisconde
Não digas disparates, Correia Chimarrão! É um escritor, homem, de quem os Góticos gostam muito…É o…Ai esqueci-me do nome dele…

Correia Chimarrão

Ah! Já sei: é o Edgar Allan Poenhe.

Primo Bisconde

É esse mesmo, Correia Chimarrão. Achas que terão sido eles os culpados de algo que ainda desconheço mas que tu me vais contar?

Correia Chimarrão

Nom sei…Só sei que eles já sabem de tudo, carago. Sabes o que li no "Público" da passada sexta-feira, carago, Primo Bisconde? Ora dá lá uma espreitadela, carago, Primo Bisconde.



CHIMPAZÉS VISTOS A CAÇAR COM LANÇAS DE MADEIRA

Fabricam ferramentas, já sabíamos. Agora vimos que tambem caçam com armas. Fazem lembrar alguém?


Primo Bisconde

Que fazes aí ao pulos, Correia Chimarrão? Até parece que és tão macaco como eles. Hum…Pensando melhor, parece-me que tens razão, Correia Chimarrão. Isto é gravíssimo. Há um traidor entre nós... Repara, o "Público" até traz uma fotografia de um deles com uma lança na mão. Donde diabo conheço eu este bicho?

Correia Chimarrão

Isto é o fim do mundo, Primo Bisconde! Às armas, Primo Bisconde! Estamos perdidos, Primo Bisconde! É a guerra, Primo Bisconde! Eles já sabem que nós também somos chimpazés como eles, Primo Bisconde! Às trincheiras, Primo Bisconde! Isto está bonito está, Primo Bisconde! Sabes, isto cheira-me a esturro, Primo Bisconde! Isto anda aqui marosca e da grossa, Primo Bisconde! Primo Bisconde, achas que isto é o fim da macacada, Primo Bisconde?

Primo Bisconde

Homem, vai morrer longe, Correia Chimarrão. Não comeces a stressar. Chama aí o teu tio Firmino. Estou em crer que ele sabe o que se passa.

Correia Chimarrão

Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino anda cá que o Primo Bisconde quer falar contigo, carago.

Firmino

Sobrinho Correia Chimarromnhe, diz lá ao Primo Bisconde que agora nom posso ir, porque estou a curtir um filme com uma gaija bua como o milho, carago.

Correia Chimarrão

Qual gaija bua, tio Firmino?

Firmino

Aqueja gaija bua que dá porrada nos outros gaijos, carago.

Correia Chimarrão

Mas quale gaija bua, tio Firmino?

Firmino

Homem, aquela gaija…o Silbestre Stalonenhe.

Primo Bisconde

Que foi que te disse o teu tio Firmino, Correia Chimarrão?

Correia Chimarrão
Hum...O tio Firmino pergunta se queires ir ali ao café da Jorgelina comer um napuleonhe…


Primo Bisconde

O médico proibiu-me de comer bolos. Chama lá novamente o teu tio Firmino e diz-lhe que tenho um assunto urgente a tratar com ele.


Correia Chimarrão

Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino anda cá que o Primo Bisconde quer falar contigo, carago.

Firmino

Sobrinho Correia Chimarromhe, diz aí a esse morcounhe duma figa que se ele nom me deixa ver o filme da gaija bua que bou aí e lhe parto o piano tuodo, carago.


Primo Bisconde

Que foi que te disse o teu tio Firmino, Correia Chimarrão?


Correia Chimarrão

Hum…Nom disse nada, carago, Primo Bisconde…O tio Firmino diz que está a precisar do GPS, carago, porque o quer ligar ao telemóvel de quinta geraçonhe, Primo Bisconde.

Primo Bisconde

Está bem, deixa-o lá estar sossegado, Correia Chimarão. Não o incomodes mais. Toma lá o GPS do teu tio Firmino. Agora que os chimpazés sabem que somos tão humanos como eles, que é que achas que devemos fazer, Correia Chimarrão?

Correia Chimarrão

Nomhe sei, Primo Bisconde, nomhe sei. Desconheço.

Primo Bisconde

Não te ponhas aos pulos, homem! Até parece impossível, Correia Chimarrão! E logo tu que tens teorias para tudo…Um general sem ideias...Onde é que já se viu isto? Sinceramente estou a ficar desiludido contigo…


Correia Chimarrão

Primo Bisconde, o que se está a passar nom tem explicaçomhe, carago, Primo Bisconde! Só sei é que isto é o fim do moooundo, carago, Primo Bisconde! Estamos perdidos, carago, Primo Bisconde! Eles já sabem que nós também somos chimpazés cuomo eles, Primo Bisconde! Isto está bonito está, carago, Primo Bisconde! Sabes, isto cheira-me a estooourro, carago, Primo Bisconde… Isto anda aqui marosca e da gruossa, carago, Primo Bisconde! Primo Bisconde, achas que eles também concluiron o processo de hominizaçonhe, Primo Bisconde?


Primo Bisconde

Nada de espalhafato! Olha, vem aí o teu tio Firmino. Vou fazer-lhe uma recepção e peras. Bico calado, Correia Chimarrão!


Correia Chimarrão

Já só faltava que esse morcounhe nos viesse chatear, carago, Primo Bisconde. Tá bemnhe, vou calar o bico.

Firmino

Chamaste-me, Primo Bisconde? Os teus desejos são ordens.

Primo Bisconde

Ora viva, Firmino! Com que então por aqui?

Correia Chimarrão
Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino, num podes abrir o bico…O Primo Bisconde disse que agora não podias falar.

Primo Bisconde

Não sejas trapalhão, Correia Chimarrão! Agora nós, Firmino…Por quem és, levante-te, Firmino. Não precisas de ficar ajoelhado o tempo todo. Foste tu quem andou a prestar depoimentos ao "Público"?

Firmino

Nom senhor, Primo Bisconde, essa agora! Já non leio jornais nem dou conferências de imprensa, Primo Bisconde. Actualmente limito-me a ler o blogue http://obloguedosarja.blogspot.com/ e a ber o “Fiel ou Infiel” na TVI, Primo Bisconde. Son tão bons que até parece que son feitos pela mesma pessuoa, Primo Bisconde.

Correia Chimarrão
Apoiado! O meu tio Firmino é um senhor!

Primo Bisconde

Cala-te, Correia Chimarrão. Bem visto, Firmino. Correia Chimarrão, mostra lá ao teu tio o que vem no Público da passada sexta-feira.
Firmino
Primo Bisconde...Mas isto nom puede ser, carago, está tudo gruosso? Eu só lhes contei que usábamos pistuelas de calibre…
Primo Bisconde
Como assim!? Por que é que fizeste isso, Firmino? Logo vi que alguém tinha dado com a lingua nos dentes. Estás bêbedo, Firmino?
Firmino
Eu não estou bêbedo, palavra de honra que não estou! E juro que nom fui eu, Primo Bisconde! Eu só lhes disse que tinhamos telemóbeis de quinta geraçomnhe e que a Jorgelina do café tinha inventado um GPS de madeiiira.
Primo Bisconde
Firmino, tu estás a passar das marcas…Queres que a nossa raça ande toda à bulha com aqueles macacos selvagens? É isso que tu queres, Firmino?
Firmino
Nomhe, claro que nomhe, carago!
Primo Bisconde
Porventura contaste-lhes que a nossa selva não passa de um artifício tecnológico que tem como função provocar a confusão geral entre eles?

Firmino
Nom, senhor, carago, nom lhes contei nada, carago. Só lhes disse que tínhamos Internet, impressuoras, computadores, abiões, misseis, bombas atómicas, estações orbitais, e o Correia Chimarrão. Quanto ao facto de a nossa selba ser um mundo birtual que a Jorgelina inbentou lá na cozinha dela com o intuito de os confundir ainda mais, nom senhor, carago, nom lhes disse nada, Primo Bisconde!
Correia Chimarrão
Hum, Primo Bisconde… Só de pensar no salpicom, no presunto, na bitela, na galinha e na coube lombarda que ela mistura na sopa apetece-me dar pulos de apetite, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
Não digas disparates, Correia Chimarrão.
Correia Chimarrão
Por outro lado, Primo Bisconde, posso comprovar tudo o que o meu tio Firmino está a dizer, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
Não me digas que também estás metido nisto, Correia Chimarrão?

Correia Chimarrão
Isso é que nomhe, Primo Bisconde…Eu nonca estou metido em nada, Primo Bisconde…

Primo Bisconde
Firmino, decididamente tu és um irresponsável! Há coisas que nem as pedras devem ouvir. Bom, confessa lá que lhes foste contar que usamos lanças para caçar!
Firmino
Eu nom lhes disse nada! Juro pelo grande Símio que muora nas núbens!
Primo Bisconde
Julgas que nasci ontem, Firmino? Vá lá, conta toda a verdade!

Firmino
P-Primo Bisconde... Tá bemhe…Disse-lhes apenas que usábamos pontinhas de lança, mai nada!

Primo Bisconde
Detesto ser enganado, Firmino! Bem sabes que quando tal acontece, perco a cabeça e sou capaz de tudo…

Firmino
P-P-Primo Bisconde...Tem toda razomhe…Condescendo...Rebelei-lhes que temos por hábito usar metade de uma lança, mai nada!

Primo Bisconde
Abreviando razões: Firmino, tu abriste o bico, foi ou não foi?
Firmino
S-S-S-Sim senhor, Primo Bisconde, tens toda a razomhe. Vou confessar-te toda a berdade: estou apaixonado.

Primo Bisconde
Céus, estás apaixonado, Firmino? Tu dás comigo em doido, homem…Já agora pode saber-se quem é a infeliz comtemplada?
Firmino
Quer dizer…Estava apaixonado por uma rapariga muito interessante e muito bonita, carago. Quando a conheci julguei que estava a biber dentro de um conto-de-fadas, carago. Ela era bonita, inteligente, culta, viajada, enfim uma pérola do carago. Mais tarde a realidade falou mais alto e apercebi-me que era tudo poustiço, carago.
Primo Bisconde
E agora já não estás apaixonado? Que é que se passa contigo, Firmino? Era tudo postiço? Explica-te melhor, Firmino. Quem era ela?

Firmino
Era a actriz dos filmes que dava porrada nuns gaijos, carago.

Primo Bisconde

Está bem! Mas quem é ela? Como se chama?
Firmino

É o Silbestre Stalonenhe.
Primo Bisconde

E agora dizes que já não estás apaixonado? Homem, que foi que aconteceu?

Firmino

Aquilo é tudo poustiço, Primo Bisconde…Aquilo é tudo feito de siliconenhe.

Correia Chimarrão

Primo Bisconde, bou contar-te as coisas tal como se passaram. Os chimpazés do "Público" fizeram um contrato com o tio Firmino que consistiu no seguinte, carago: se o tio Firmino lhes revelasse todos os nuossos segredos tecnuluógicos, carago, eles comprometiam-se a convencer o Silvestre Stalonhe a apaixonar-se pelo tio Firmino…E foi o que aconteceu, Primo Bisconde…

Firmino
Tal qual, Primo Bisconde. Sem tirar nem pôr!

Primo Bisconde
Irra! É demais! Isto não pode ser, tu abusas, Firmino! Tu és parvo ou fazes-te? Eu não me chame Primo Bisconde e não seja primo de toda a gente se não te castigar. Já estou pelos cabelos. A sorte é os outros chimpazés não saberem ler. Imagina o que aconteceria se soubessem a verdade…Passa para cá o GPS!

Firmino
Primo Bisconde, num sejas duro cumigo. Foi um descuido da mimha parte, carago. Prometo nunca mais rebelar os nossos segredos tecnuluógicos. Essa ficou-me de liçonhe. Macacos me mordam se volto a fazer o mesmo, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
A estória não acaba aqui. Certamente conheces as nossas leis, Firmino. És obrigada a casar com a tua namorada, o Silvestre Stalone.

Firmino
Nomhe, nomhe, nomhe, Primo Bisconde! Aquilo é tudo siliconenhe, Primo Biconde. Já num gosto dela, Primo Bisconde.

Primo Bisconde
Estás a pensar mal, Firmino. Tens consciência de que tudo o que te mando fazer é para teu bem, Firmino? Casa com ela e não se fala mais no assunto!

Correia Chimarrão
Apoiado, Primo Biconde! Será que puosso ser o padrinho, Primo Bisconde?

PS. Este texto nunca teria sido possível sem as preciosas dicas linguísticas de dois amigos que bibem ou biberam no Puerto: o Pedro Sousa e o Luis Santos. Bem hajam, carago!
Sarja Akhmani, repórter iraniano