Jaime Goucha está desempregado, tem 29 anos e vive com e da Maria do Amparo, 45 anos, divorciada. A cena que passamos a relatar ocorreu justamente ontem à noite, durante o serão televisivo:
Jaime Goucha (J. G.) — Que é que tens, querida? Passa-se alguma coisa?
Maria do Amparo (M. A)— Não se passa nada. Está tudo bem.Parvalhão!
J. G. – Que é que estás a fazer? Desligaste a televisão para quê? Que é que te passou pela cabeça, Maria do Amparo? Se tens algo a dizer, diz. Va lá. Desembucha. Fala de uma vez.
M. A.--Depois de tudo o que fiz por ti ainda te atreves a perguntar o que se passa? O que acha o senhor que eu sou? Uma parva? Fora daqui. Fora da minha casa, já!
J. G. – O senhor!? Desde quando é que me tratas por senhor? Maria do Amparo, querida, tem calma…
M. A. – Que foi que fizeste ao dinheiro que recebeste do Japão?
J. G. – Ah, sim...Já suspeitava que fosse isso. Vai dar tudo certo, acredita em mim. Os japoneses atrasaram-se no pagamento. Telefonaram-me ontem de Hong-Kong, que é uma cidade lá do Japão, a dizer que não sei quê e tal…Olha, não entendi nada porque o homem falava muito depressa.
M. A. – Não sejas asno. Se nunca estudaste japonês, como é que haverias de entender o que dizia o raio do homem?
J. G. – Estudar propriamente o japonês nunca estudei, mas compreendo tudo o que dizem desde que falem pausadamente.
M. A. – Poupa-me, Jaime. Tu e as tuas teorias linguísticas. Estou farta das tuas mentiras e dos teus negócios da China. Fora da minha casa!
J. G. – Co-como assim!? Até parece que és bruxa. Aposto que andaste a espiar os meus negócios da China com os japoneses…Quem foi que te disse que fiz o negócio do século?
M. A. – O negócio do século!? Não sejas ridículo, Jaime. Só sei que andaste a negociar com os japoneses, esses sovinas. Detesto-os. Têm a mania de que podem invadir tudo o que lhes apetece. Além do mais sabes tão bem como eu que nunca receberás um euro que seja daquela gente.
J. G. – Está bem, vou contar-te tudo: vendi a China ao Japão, e fiz um dinheirão. Em suma: fiz o negócio do século. Vamos ser ricos, Maria do Amparo. Uma vez na vida escuta o que tenho para te dizer: vamos ser ricos, ouviste? Em breve, poderemos comprar a casa com que sempre sonhaste: uma mansão em Inglaterra com jacuzzis nos jardins, quartos para os teus cinquenta e cinco filhos, repuxos nas casas de banho, écrãs de plasma por tudo quanto é sítio…Ouve, vem cá, não fiques assim…
M. A. – Lá estás tu a mentir outra vez. Tu vives na lua, Jaime. Raios te partam. Larga-me. Não me toques. Deixa-me em paz. Desaparece desta casa, ouviste?
J. G. – Maria do Amparo…Tu-tu nunca acreditaste cá no rapaz, diga-se em abono da verdade. Passaste a vida a ridicularizar a minha colecção de chineses. Destruíste a minha auto-estima porque me achincalhavas sempre que me vias a frequentar restaurantes chineses com o inocente objectivo de apanhar um deles, recortá-lo bem recortadinho e colá-lo nas cadernetas do Dragon Ball Z...
M. A. – Cadernetas que tu roubavas aos meus cinquenta e cinco filhos.Vou contar tudo aos meus vinte e cinco ex-maridos e pedir-lhes que te tratem da saúde.
J. G. – Os teus ex-maridos? Ora, não me faças rir. Todos os teus ex-maridos eram chineses, não te esqueças disso. Sendo assim, podes estar certa e segura que esses também já estão coladinhos e postos em sossego nas minhas cadernetas…Ora toma!
M. A. – Como te atreves!? Como te atreveste a coleccionar todos os meus ex-maridos? Deves pensar que tens muita graça. Vá, sai da minha vida. Vai-te embora.
J. G. – Maria do Amparo…Fi-lo por nós, entendes? Olha para mim: tenho as mãos aleijadas de tantas tesouradas que dei no diacho dos chinocas. Só assim poderia alguma vez vir a completar as cadernetas e ser dono da China, compreendes?
M. A. – Parker, tu não passas de um merdas de um Parker!
J. G. – Maria do Amparo…Tu por amor de Deus não me chames nomes! Detesto que me confundas com esse actor de meia tijela…Bem sabes que sempre que me chamas Parker, perco a cabeça e desato a falar em estrangeiro…
M. A. – Que raio se passa, Parker? Vá lá, Parker, mostra lá o parvalhão que és. Foste enganado pelos japoneses, essa é que é a verdade. Parker! Parker! Parker!
J. G. – Maria do Amparo…Não queiras pôr à prova os conhecimentos que adquiri no Instituto Jean Piagette…
M. A. – Parker! Parker! Parker!
J. G. – Como está, chinês? Como está usted, chinó? Come stà lei, chinuca? Comment vous portez-vous, chinulu? How do you do, chainote? Wie geht es Ihnen, chinulas? Estou bem, obrigado, chinês, estoy bien, gracias, chinó, sto bene, grazie, chinuca, je me porte bien, merci, chinulu, very well, thank you, chainote, ich befinde mich wohl, danke, chinulas. Pára com isso, Maria do Amparo! Não me tortures mais, por favor.
M. A. – Parker! Parker! Parker!
J. G. – Como não somos marido e mulher, marido y mujer, marito e moglie, mari et femme, husband and wife, Mann und Frau, terei, yo tendré, io avrò, j`aurai, i shall have, ich werde haben todo o dinheiro para mim...Só para mim…E então, entonces, allora, alors, then, dann, adeus, não terás direito a nada, a rien, a nothing…
M. A. – Parker! Parker! Parker da fava! Larga-me!
J. G. – Pára com isso, Maria do Amparo. Não imaginas quanto me custa ir buscar todos estes conhecimentos ao Piagette.
M. A. – Megalómano, parvalhão, chinês filho da mãe! Fora da minha casa!
J. G. – Meio galão, eu!? Eu até nem gosto...
M. A. - Megalómano! Megalómano! Megalómano! Não sabes o que é que isso quer dizer?
J. G.- Meio galómano, eu? Minha, mia, ma, my, meine, lá por seres mais velha que eu, ainda tens muito que aprender. O facto é que a China é minha e vendi-a ontem ao Japão, essa é que é a verdade.
M. A. – Chinês filho da mãe. Como te atreveste a coleccionar compatriotas nossos e a vender o nosso país ao nosso arqui-inimgo? És parvo ou fazes-te? Então já te esqueceste que nós também somos chineses? Parvalhão é o que tu és, chinês de feira. Fora da minha casa, Jaimung Gouchung!
J. G. --Deve haver alguma coisa que me está a escapar...
M. A. – Nunca vi homem tão estúpido como tu. Afinal de contas, como te chamavas antes de emigrarmos para Portugal?
J. G. – Antes de emigrarmos para Portugal? Hum…Bem…O meu verdadeiro nome era Jaimung Gouchung…Mas isso não significa que…
M. A. – Então não sabes que és tão chinês como os chineses, Jaimung Parvalhung?
J. G. – Marong do Amparong, querida, tens toda a razung. 您是母狗的儿子?Xu Li Zong Ma, Yong Ma Jong. Perdoa-mung, por favung. Acho que fiz disparatung. Xu Li Zong Ma…
M. A. – Escusas de falar chinês. 我爱你 Xu Li Zong Ma, Yong Ma Jong parvalhung. Forung da minha casung! Maldito o diung em que te conheçung. Forung da minha casung, forung!
Sarja Akhmani, repórter iraniano
terça-feira, 20 de novembro de 2007
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