terça-feira, 25 de dezembro de 2007
DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO V
No vosso Reino, quando um indígena quer tratar de um assunto junto de uma qualquer instituição, não pode nem deve ter uma conversa normal com o funcionário, sob pena de a sua queixa/ reclamação/direito não serem tomados a sério. Não! O estratagema tem de ser outro: ou o indígena se arma em “coitadinho” (A estratégia do coitadinho) e regateia, se for caso disso, os seus direitos, como se de um bazar afegão se tratasse; ou ergue bem alto a voz (a estratégia do filho-da-putin) de forma a fazer-se ouvir num raio de quinhentos quilómetros.
A Mosca Lizandra Suzuki, omnipresente amiga que tudo vê e tudo escuta, assistiu há dias no BCP (Banco Coelho Português) a duas conversas que ilustram à exaustão as estratégias acima mencionadas. Ei-las:
1) A estratégia do coitadinho:
--Boa tarde. Preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem.
--Que é que o Banco Coelho Português tem a ver com isso?
--Bem…Como você é funcionário do Banco onde tenho o meu dinheiro depositado, pensei que…
--Engano seu. Meio cêntimo!? Não acha que devia ter um pouco mais de vergonha na cara e deixar-se de exigências absurdas?
--Mas meio cêntimo não é nada! Além disso, o dinheiro é meu e preciso dele para…
-- Raios partam o homem! Só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja…Você só se lembra de vir cá levantar o seu dinheiro quando precisa dele, não é verdade?
--Tem toda a razão…No entanto….
--Pois é! E quando não precisa dele? Quando você não precisa do seu rico dinheirinho, deixa-o aqui na sua conta à ordem, vai à sua vidinha e não lhe liga nenhuma! É sempre a mesma coisa! Ó Varela, que é que pensas disto? Não achas que tenho razão?
--Penso que sim, mas acho que não.
--Vê? O meu colega Varela também acha tenho razão...
--Por favor, dê-me o meu dinheiro! Sabe, a minha mulher, que é uma santa, está em risco de morrer em cheiro de santidade…Por outro lado, o meu irmão está farto de apanhar carraspanas devido a problemas financeiros, e quanto ao meu filho mais novo, coitadinho, pecisa de fazer uma operação plástica ao narizito...Como vê, preciso mesmo do meio cêntimo...Caso contrário, estarei perdido!
--Ó Varela, que é que pensas disto?
--Tu vê lá no que te metes. Olha que o tipo não joga com o baralho todo.
--Por favor! Imploro-lhe! Dê-me o meu meio cêntimo! Além do mais, tenho o síndrome de Down.
-- Ó Varela, que é que pensas disto?
--Eh pá, se o gajo tem o síndrome de Down é porque anda a fazer muitos downloads na Net, pá!
-- Por favor! Estou desempregado, a minha prima Maria do Amparo enviuvou recentemente e, para cúmulo do azar, a minha cunhada foi atropelada a semana passada por um camião Sócrates.
--Ó Varela, ele há gente para tudo, não te parece?
-- Afirmativo. Cambada de indigentes. É preciso ter lata! Pensam que isto aqui é um Banco e depois abusam. O que o tipo quer é levantar o seu dinheiro, pá!
2) A estratégia do filho-da-putin:
--Boa tarde. Preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem.
--Importa-se…Bom, importa-se de vir aqui para trás do balcão decidir a quantia que pretende levantar da sua conta à ordem. Sabe, hoje não trouxe cuecas e, por isso…
--O quê!? Julga que nasci ontem? Ou pensa que não me lembro do diálogo anterior? O que você quer é que eu não levante o dinheiro!
-- Nada disso! Assim que o senhor entrou nesta dependência, pensei com os meus botões:” Ei-lo! É mesmo ele! Finalmente, chegou o eleito do meu coração...Finalmente, chegou aquele que me há-de levar para bem longe desta espelunca...
--Perdão?
-- Finalmente, chegou aquele que há-de tirar-me a roupa toda num jacuzzi a transbordar de leite de burra...
--Homem, já estou a perder a paciência! Vá lá! Quero o meu meio cêntimo e é JÁ!
--Está bem! Vamos já desbloquear a situação, não se preocupe. Ó Varela, que me dizes a isto?
--Eh pá, o gajo é o mesmo que esteve no diálogo anterior, não é? Que maçada! Olha, leva-o à Ermelinda.
--O meu colega Varela diz que não há problema nenhum. O senhor esteja descansado que vai já receber o seu dinheirinho.
--Caramba! Estava a ver que nunca mais se resolvia isto! Afinal de contas, vocês têm um excelente serviço de atendimento aos clientes e...
-- Bem, vamos lá então à Ermelinda? Garanto-lhe que é muito boa moça e cobra juros acessíveis em todos os servicinhos que faz.
--PORRA! Homem, já lhe disse que preciso urgentemente do dinheiro!
--Ó Varela, o gajo é mais esperto do que eu julgava. E agora?
--Olha, conta-lhe a estória dos economistas.
--Fico feliz por saber que vou receber o meu dinheiro.Até que enfim. Porra!
--Caro senhor! Tudo o que for possível no Inferno é possível no Banco Coelho Português e fique desde já a saber que a pobreza é o preço que o Homo Sapiens tem de pagar pela existência de economistas. Além disso, a Ermelinda também hoje não trouxe cuecas e adora jacuzzis de leite de burra.
--Mau maria! Temos o caldo entornado! A-M-I-G-O, preciso de levantar meio cêntimo da minha conta à ordem senão PARTO ISTO TUDO! PORRA!
--Tenha calma. Não vale a pena perder as estribeiras. Aliás, o nosso banco também aceita depósitos de estribeiras. Quantas estribeiras pretende então depositar na sua conta?
--OIÇA, VOCÊS ESTÃO A MANGAR COMIGO!? Sou um tipo pacífico, mas quando me sobem os azeites sou capaz de tudo! VÁ,DÊ-ME JÁ O MEU MEIO CÊNTIMO, SENÃO PARTO ESTA MERDA TODA!
--Te-tenha cal-calma! Pronto! Aqui tem o seu meio cêntimo.
--Porra, estava a ver que nunca mais via o meu dinheiro. PORRA!
--Está a ver este coelhinho amoroso que o meu colega Varela me passou para as mãos? Pois fique a saber que é uma oferta do Banco Coelho Português.
--Hã? Um coelho? Um coelho de borla?
--ExactO! E se você carregar com jeitinho no nariz do coelho, accionará um mecanismo que lhe permitirá ouvir as Carmina Burana do Carl Orff. Como vê, não queremos que falte nada aos nossos clientes!
--Sinceramente, nunca pensei que este Banco fosse tão simpático! Olhe, pensando melhor, acho que vou voltar a depositar o meio cêntimo e levar o coelho para casa. E...Quanto...Quanto à sua proposta? A de não ter trazido as cuecas...Ainda se mantém de pé?
--Mas é claro que sim! Não queremos que falte nada aos nossos clientes!
--Caramba! Ainda há bancários simpáticos neste Reino!
Sarja Akmani, repórter iraniano
Só para quem a mania do zapping...O autor deste blogue também está
aqui
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO IV
Depois de muito calcorrear a pé o vosso Reino rectângular, arquitectei uma tipologia do vosso provincianismo. A título de exemplo, irei relatar-vos algumas conversas que ouvi nas mais variadas e distantes terreolas do vosso território imperial:
a) Na vossa Província, ainda existem três grandes tipos de provincianismo:
1º Tipo: um provincianismo de ressentimento que brota de um intenso e injustificado complexo de inferioridade em relação a Lisboa. Este género de mentalidade é típico dos vossos régulos locais e da sua respectiva classe social.
Eis uma conversa que ouvi a dois caciques locais:
--Ó Mendes, que me dizes a isto?
--Quê? Não vês que estou ocupado a enviar cheques-galinha aos nossos eleitores?
--Caga lá nesses frangos depenados que passam o tempo todo a votar na gente. Tenho uma proposta indecente a fazer-te: que tal irmos a Lisboa visitar umas meninas muito simpáticas que trabalham no Elefante Branco?
--Não vou!
--Anda daí. Vais ver que não te vai faltar nada.
--Não vou, porque os elefantes nascidos em Lisboa julgam-se superiores aos nossos.
2º Tipo: um provincianismo patrioteiro que admira tudo o que é estrangeiro mas que, ao contrário do vosso provincianismo lisboeta, não o idolatra. Esta forma de pensar é típica de uma certa classe média baixa.
Eis uma conversa que ouvi a dois rapazolas num bar:
--Eh pá, arranjei agora uma alemã de se lhe tirar o chapéu!
--Ai sim? Conta, conta! A gaja é boa?
--Boa? Tás parvo ou fazes-te? A gaja é um avião! Não queiras tu saber…
--Que tal é a gaja nas aterragens?
--Pá, ela aterra com a mesma facilidade com que descola da pista. Aquilo é material de primeira, que é que tu julgas?
--Não gosto da Lufthansa, prefiro a TAP.
3ºTipo: um provincianismo de bairro que brota de uma profunda baixa auto-estima e desemboca muitas vezes num bairrismo parvalhão e bacoco. Esta “concepção do mundo” é característica da pequena burguesia e, curiosamente, de uma certa classe média alta.
Aqui vai uma conversa que ouvi a dois velhotes:
--A nossa terra é a maióri!
--É sim senhôri!
--O nosso clúbi é o maióri!
--E sim senhôri!
--O pádri da nossa igreja é o mais rico de Portugáli!
--É sim senhôri!
--As nossos campos são as mais bonitos de Portugáli!
--São sim senhôri!
--A tua mulher tem um furúnculo na nádega esquerda que é o mais bonito melhóri di Portugáli!
-- É sim senhôri!
No que toca a Lisboa, deparei-me com dois tipos de provincianismo:
1ºTipo: um provincianismo de poder relativamente à Província, que encerra dois matizes básicos, a saber:
1º Subtipo: a Província ainda é muito antiquada e é um lugar perfeito para passar férias ou ter uma casa de campo que se pode e deve ostentar junto dos amigos. Este modelo de provincianismo, no qual me incluiria se fosse português, é característico de uma certa classe média que imigrou para a capital do vosso Reino há uma ou duas duas gerações.
Eis uma conversa entre dois rastas da Moita:
--Pá, e foi então que o gajo começou a mandar vir comigo….
--Que foi que ele te disse?
--Eh pá, o gajo não abriu a boca, mas tal atitude obrigou-me a manifestar o meu vivo repúdio por tudo o que o gajo parecia que ia dizer mas não disse, não te parece que fiz bem?
--Fizeste bem. E o gajo?
--O gajo acenava que sim com a cabeça, como se pretendesse mandar-me àquela parte, tás a perceber?
--Que é que uma coisa tem a ver com a outra?
-- Não tem nada a ver, mas podia ter tido a ver. Repara, o gajo era da Província e com esses gajos todo o cuidado é pouco.
--Mas que foi que ele te disse?
--Nada, o gajo não disse nada. Mas podia ter dito.
--E tu? Que foi que lhe disseste?
--Pá, foi então que me lembrei daquele episódio d`Os Lusíadas, o do Gigante Amesterdão.
--O Gigante Adamastor, queres tu dizer
--Sim, o do Gigante Amesterdão. Pá, assim que comecei a declamar o episódio, o gajo, que só por ser da Província era muito ignorante, foi-se logo embora…E foi assim que me livrei de uma discussão que podia ter acabado mal, muito mal.
--…Que podia ter começado mal, queres tu dizer…
--Sim, pá, que podia ter acabado mal, muito mal…
2º Subtipo: a Província mudou muito, está mais desenvolvida, mas nós é que somos a Capital e não lhes devemos ceder os nossos pergaminhos. Este tipo de tacanhez é característico de uma certa classe média-alta lisboeta que já perdeu a sua oriundez provinciana e se assume como uma espécie de “aristocracia”
2º Tipo: um provincianismo de submissão parva ao estrangeiro. Este género de provincianismo, característico das vossas “classes dirigentes”, nutre um desprezo total pelo vosso país real, e tem o condão de fazer figuras tristíssimas num mero contacto com alguém de fora.
Esta conversa entre dois lisboetas ilustra grosso modo o tipo e o subtipo anteriores:
--Padre Ambrósio, a Povíncia é muito atrasada, não é?
--Quem me chama? Quem me vê?
--Sou eu, o Alípio Figueira, o seu acólito, padre Ambrósio.
--Dize, meu filho, dize.
--A Povíncia é muito atrasada, não é?
--Dize, meu filho, dize.
--Nós somos muito aristocratas, padre Ambrósio, não é verdade?
-- Dize, meu filho, dize.
-- Padre Ambrósio, as pessoas da Província cheiram todas mal dos pés, não é verdade? E isso é o máximo, não é?
--Cheiram, meu filho, ui se cheiram! Sim, isso é o máximo!
--Padre Ambrósio, é na nossa classe social que é recrutada a elite dirigente, não é verdade?
-- Cheira, meu filho, ui se cheira mal dos pés!
-- Padre Ambrósio, é a nossa classe social que fornece os imbecis que ocupam cargos em Lisboa que não servem para nada, não é verdade?
Eis senão quando se aproxima um estrangeiro qualquer:
--Can you speak English?
--Oh yes, yes, yes, yes yes yessssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
--How may we help you, Sir?
--Pá, cocem-me as costas, nowwwwww!
--Oh yes, yesssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss yes,sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
--Pá, cocem-me aí quelque choseeeeeeeeeee…
Sim! oui! oui! oui! ouiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
--Caramba, tu és mais que nós! Tu és estrangeeeeeiro!
--Sinhe, suou um gaijo de Nanterre nascido no Puerto, carago!
terça-feira, 20 de novembro de 2007
DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO III
Dois amigos conversam animadamente:
--“Pá, sabes como é que as coisas são. Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré!”
De cada vez que vou na rua e ouço alguém a usar esta expressão, fico com a estranha sensação que é de mim que estão a falar.
*Dos slogans sobre o tabagismo:
Ter cancro provoca o tabagismo
Fuma ganza e serás de pedra
Fuma muito e serás pouco
Há fumar e fumar, há ganza e voltar
Quem bem me fuma, meu amigo é
Fuma, fuma, rabbit, fuma!
Finalmente, fumemos Papam!
Cigarrus és, beatus serás!
Fume bem para morrer melhor
A Carmen era o cigarro, o dom José uma beata de fumo
Viver deita fumo
Se tudo é fumo, então deus é a tabaqueira
Meus Irmãos, fumemo-nos uns aos outros!
*Da hipocrisia dos portugueses:
O português é tal modo hipócrita que sempre que diz bem de alguém julga que é de si próprio que está a falar.
*dos deveres das fortezinhas
As mulheres muito fortes, com muitos pneus e que passam o tempo todo a conduzir deveriam pagar imposto multi-pneus.
*Da lucidez matinal
Acordar lúcido é abrir os olhos na firme convicção de que o Pedro Santana Lopes é a última reencarnação do conde Saint-Germain.
Sarja Akhmani, repórter iraniano
DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO II
A camelo dado não se olha a prótese.
*Da traição amorosa
Faz sempre as enxadas com a mulher que te trocou por outro. Relativiza a tua dor e alegra-te com a felicidade deles. Que diabo, temos que ser uns para os outros! Portanto, continua com a tua vida e deixa para trás o ressentimento.
P. S. Uma vez feitas as enxadas com ela, pensa que a cabeça dele é um mundo que merece ser escavado.
*Da incontinência urinária:
Sofrer de incontinência urinária será o mesmo que fazer a continência a um urinol?
*Da discriminação racial
Confesso que fico em estado de choque tecnológico com a discriminação de que têm sido alvo os africanos, os ciganos, os palestinianos, os judeus, os homossexuais, e as lésbicas. Combater os preconceitos contra as minorias não é só um imperativo ético nacional, mas também um ditame estético artur bual.
Acresce a tudo isto uma nova forma de racismo que tem vindo ultimamente a assumir proporções gravíssimas, a saber: a fortíssima discriminação de que têm sido vítimas as formigas rabequistas.De rabeca aos ombros e bigodes lacrimejantes, aí estão elas, magras de dor e aos tombos do desgosto, ignoradas das grandes orquestras da Europa.
Em noites de lua cheia, aos bandos e entre frestas e frinchas e prantos, choramingam as suas patitas nas batutas das patitas de maestros encrespados de preconceitos anti-rabeca.A desoras da vida e da engenharia de Bach, entregam-se umas quantas ao prazer ilusório e traiçoeiro do álcool, enquanto outras tantas se deixam beber pelo real e efectivo prazer do álcool.
Arlequins na tristeza circense da sua pequenez, estes seres diminutos são hoje em dia autênticos anjos de abdicação insecticidal. Ao cabo de muita angústia e ostracismo acabam sempre por sucumbir, inevitáveis e mortas, nas ruas sem música das grandes cidades europeias, sob o silêncio das botas e dos pneus da discriminação racial.
Declaro iranianamente a minha impotência perante tamanha injustiça social. Vítimas de uma sociedade pela qual não são minimamente responsáveis, as formigas rabequistas são, afinal de contas, minúsculas barcaças carregadas de uma dureza rude e preta de vida que poucos conseguem imaginar. Europeus, despertai! As formigas rabequistas são os índios da vossa América!
Sarja Akhmani, repórter iraniano
DÚVIDAS, MÁXIMAS E REFLEXÕES DE SARJA AKHMANI, REPÓRTER IRANIANO I
Assistir a uma reunião chata será o mesmo que viver no interior do intestino grosso do Pedro Santana Lopes?
*Do Ensino Secundário:
Não, os Liceus portugueses não são um inferno. A ministra da educação é que sofre de um acentuado défice de celestialidade.
*Do consumismo:
Uma vez comprei um gato que fazia muuuuu. Dei-lhe um rato a comer. O rato, português esperto, comeu o rato que o gato tinha devorado antes dele. Foi então que o gato se pôs a miar, já com o primeiro rato dentro do bucho do segundo rato.No entanto, o que mais me fez espécie nesta estória foi o facto de o manual de instruções do gato vir em estrangeiro. Acho que fui enganado. Pergunta: a que instituição deverei apresentar queixa?
*Sobre Portugal:
Portugal é um país de brancos costumes ou de brandos curtumes?
*Dos ricos e da riqueza:
Gostaria de ser rico para poder desabafar em privado: “Ah, quem me dera a mim ter os problemas dos pobres para poder sonhar que um dia serei rico”
Sarja Akhmani
OS CHIMPAZÉS
Primo Bisconde, chefe do bando e primo de todos os chimpazés.
Correia Chimarrão, um general do exército chimpazé.
Firmino, tio de Correia Chimarrão.
Algures, na selva….
Primo Bisconde
Fala mais baixo, Correia Chimarrão. Olha que levas! Que é que se passa contigo? Pareces stressado...Sabes, passei a noite toda a arranjar o GPS do teu tio Firmino e preciso de ir descansar.
Correia Chimarrão
Primo Bisconde, Primo Bisconde, eles já sabem de tudo, carago, Primo Bisconde! Morcounhes duma figa, carago, Primo Bisconde! Eles já sabem de tudo, carago, Primo Bisconde! Mooouros duma figa, carago, Primo Bisconde!
Primo Bisconde
Cala-te, tás bêbado! Eles já sabem de tudo…Ó Correia Chimarrão, tem mas é tino nessa cabeça! Essa agora! Eles, quem? Os Dreads?
Correia Chimarrão
De maneira nenhuma, Primo Bisconde! Nomhe! Nom son os Dreads, carago, Primo Bisconde! Son os…
Primo Bisconde
…Os Metálicos?
Correia Chimarrão
Nomhe! Primo Bisconde, nom som os Metálicos, Primo Bisconde! Son os…
Primo Bisconde
Correia Chimarrão, temos de arranjar um bode expiatório. Se assim não for, como poderei justificar o meu poder sobre a nossa tribo? Hum…Aposto que foram os Góticos, esses irresponsáveis que andam pelos nossos cemitérios a ler aquele tipo americano…Ai como é que ele se chama?
Correia Chimarrão
O Ulisses no País das Marabilhas, Primo Bisconde?
Primo Bisconde
Correia Chimarrão
A Alice no País das Mil e uma Noites, primo Bisconde?
Primo Bisconde
Correia Chimarrão
Ah! Já sei: é o Edgar Allan Poenhe.
Primo Bisconde
Correia Chimarrão
CHIMPAZÉS VISTOS A CAÇAR COM LANÇAS DE MADEIRA
Fabricam ferramentas, já sabíamos. Agora vimos que tambem caçam com armas. Fazem lembrar alguém?
Primo Bisconde
Que fazes aí ao pulos, Correia Chimarrão? Até parece que és tão macaco como eles. Hum…Pensando melhor, parece-me que tens razão, Correia Chimarrão. Isto é gravíssimo. Há um traidor entre nós... Repara, o "Público" até traz uma fotografia de um deles com uma lança na mão. Donde diabo conheço eu este bicho?
Correia Chimarrão
Isto é o fim do mundo, Primo Bisconde! Às armas, Primo Bisconde! Estamos perdidos, Primo Bisconde! É a guerra, Primo Bisconde! Eles já sabem que nós também somos chimpazés como eles, Primo Bisconde! Às trincheiras, Primo Bisconde! Isto está bonito está, Primo Bisconde! Sabes, isto cheira-me a esturro, Primo Bisconde! Isto anda aqui marosca e da grossa, Primo Bisconde! Primo Bisconde, achas que isto é o fim da macacada, Primo Bisconde?
Primo Bisconde
Homem, vai morrer longe, Correia Chimarrão. Não comeces a stressar. Chama aí o teu tio Firmino. Estou em crer que ele sabe o que se passa.
Correia Chimarrão
Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino anda cá que o Primo Bisconde quer falar contigo, carago.
Firmino
Sobrinho Correia Chimarromnhe, diz lá ao Primo Bisconde que agora nom posso ir, porque estou a curtir um filme com uma gaija bua como o milho, carago.
Correia Chimarrão
Qual gaija bua, tio Firmino?
Firmino
Aqueja gaija bua que dá porrada nos outros gaijos, carago.
Correia Chimarrão
Mas quale gaija bua, tio Firmino?
Firmino
Primo Bisconde
Correia Chimarrão
Primo Bisconde
Correia Chimarrão
Ó tio Firmino, ó tio Firmino, ó tio Firmino anda cá que o Primo Bisconde quer falar contigo, carago.
Firmino
Sobrinho Correia Chimarromhe, diz aí a esse morcounhe duma figa que se ele nom me deixa ver o filme da gaija bua que bou aí e lhe parto o piano tuodo, carago.
Correia Chimarrão
Hum…Nom disse nada, carago, Primo Bisconde…O tio Firmino diz que está a precisar do GPS, carago, porque o quer ligar ao telemóvel de quinta geraçonhe, Primo Bisconde.
Primo Bisconde
Está bem, deixa-o lá estar sossegado, Correia Chimarão. Não o incomodes mais. Toma lá o GPS do teu tio Firmino. Agora que os chimpazés sabem que somos tão humanos como eles, que é que achas que devemos fazer, Correia Chimarrão?
Correia Chimarrão
Nomhe sei, Primo Bisconde, nomhe sei. Desconheço.
Primo Bisconde
Não te ponhas aos pulos, homem! Até parece impossível, Correia Chimarrão! E logo tu que tens teorias para tudo…Um general sem ideias...Onde é que já se viu isto? Sinceramente estou a ficar desiludido contigo…
Correia Chimarrão
Primo Bisconde, o que se está a passar nom tem explicaçomhe, carago, Primo Bisconde! Só sei é que isto é o fim do moooundo, carago, Primo Bisconde! Estamos perdidos, carago, Primo Bisconde! Eles já sabem que nós também somos chimpazés cuomo eles, Primo Bisconde! Isto está bonito está, carago, Primo Bisconde! Sabes, isto cheira-me a estooourro, carago, Primo Bisconde… Isto anda aqui marosca e da gruossa, carago, Primo Bisconde! Primo Bisconde, achas que eles também concluiron o processo de hominizaçonhe, Primo Bisconde?
Primo Bisconde
Nada de espalhafato! Olha, vem aí o teu tio Firmino. Vou fazer-lhe uma recepção e peras. Bico calado, Correia Chimarrão!
Correia Chimarrão
Já só faltava que esse morcounhe nos viesse chatear, carago, Primo Bisconde. Tá bemnhe, vou calar o bico.
Firmino
Primo Bisconde
Ora viva, Firmino! Com que então por aqui?
Correia Chimarrão
Primo Bisconde
Firmino
Nom senhor, Primo Bisconde, essa agora! Já non leio jornais nem dou conferências de imprensa, Primo Bisconde. Actualmente limito-me a ler o blogue http://obloguedosarja.blogspot.com/ e a ber o “Fiel ou Infiel” na TVI, Primo Bisconde. Son tão bons que até parece que son feitos pela mesma pessuoa, Primo Bisconde.
Correia Chimarrão
Firmino
Primo Bisconde
Firmino
Firmino
Primo Bisconde
Primo Bisconde
Firmino
Primo Bisconde
O NEGÓCIO DO SÉCULO
Jaime Goucha (J. G.) — Que é que tens, querida? Passa-se alguma coisa?
Maria do Amparo (M. A)— Não se passa nada. Está tudo bem.Parvalhão!
J. G. – Que é que estás a fazer? Desligaste a televisão para quê? Que é que te passou pela cabeça, Maria do Amparo? Se tens algo a dizer, diz. Va lá. Desembucha. Fala de uma vez.
M. A.--Depois de tudo o que fiz por ti ainda te atreves a perguntar o que se passa? O que acha o senhor que eu sou? Uma parva? Fora daqui. Fora da minha casa, já!
J. G. – O senhor!? Desde quando é que me tratas por senhor? Maria do Amparo, querida, tem calma…
M. A. – Que foi que fizeste ao dinheiro que recebeste do Japão?
J. G. – Ah, sim...Já suspeitava que fosse isso. Vai dar tudo certo, acredita em mim. Os japoneses atrasaram-se no pagamento. Telefonaram-me ontem de Hong-Kong, que é uma cidade lá do Japão, a dizer que não sei quê e tal…Olha, não entendi nada porque o homem falava muito depressa.
M. A. – Não sejas asno. Se nunca estudaste japonês, como é que haverias de entender o que dizia o raio do homem?
J. G. – Estudar propriamente o japonês nunca estudei, mas compreendo tudo o que dizem desde que falem pausadamente.
M. A. – Poupa-me, Jaime. Tu e as tuas teorias linguísticas. Estou farta das tuas mentiras e dos teus negócios da China. Fora da minha casa!
J. G. – Co-como assim!? Até parece que és bruxa. Aposto que andaste a espiar os meus negócios da China com os japoneses…Quem foi que te disse que fiz o negócio do século?
M. A. – O negócio do século!? Não sejas ridículo, Jaime. Só sei que andaste a negociar com os japoneses, esses sovinas. Detesto-os. Têm a mania de que podem invadir tudo o que lhes apetece. Além do mais sabes tão bem como eu que nunca receberás um euro que seja daquela gente.
J. G. – Está bem, vou contar-te tudo: vendi a China ao Japão, e fiz um dinheirão. Em suma: fiz o negócio do século. Vamos ser ricos, Maria do Amparo. Uma vez na vida escuta o que tenho para te dizer: vamos ser ricos, ouviste? Em breve, poderemos comprar a casa com que sempre sonhaste: uma mansão em Inglaterra com jacuzzis nos jardins, quartos para os teus cinquenta e cinco filhos, repuxos nas casas de banho, écrãs de plasma por tudo quanto é sítio…Ouve, vem cá, não fiques assim…
M. A. – Lá estás tu a mentir outra vez. Tu vives na lua, Jaime. Raios te partam. Larga-me. Não me toques. Deixa-me em paz. Desaparece desta casa, ouviste?
J. G. – Maria do Amparo…Tu-tu nunca acreditaste cá no rapaz, diga-se em abono da verdade. Passaste a vida a ridicularizar a minha colecção de chineses. Destruíste a minha auto-estima porque me achincalhavas sempre que me vias a frequentar restaurantes chineses com o inocente objectivo de apanhar um deles, recortá-lo bem recortadinho e colá-lo nas cadernetas do Dragon Ball Z...
M. A. – Cadernetas que tu roubavas aos meus cinquenta e cinco filhos.Vou contar tudo aos meus vinte e cinco ex-maridos e pedir-lhes que te tratem da saúde.
J. G. – Os teus ex-maridos? Ora, não me faças rir. Todos os teus ex-maridos eram chineses, não te esqueças disso. Sendo assim, podes estar certa e segura que esses também já estão coladinhos e postos em sossego nas minhas cadernetas…Ora toma!
M. A. – Como te atreves!? Como te atreveste a coleccionar todos os meus ex-maridos? Deves pensar que tens muita graça. Vá, sai da minha vida. Vai-te embora.
J. G. – Maria do Amparo…Fi-lo por nós, entendes? Olha para mim: tenho as mãos aleijadas de tantas tesouradas que dei no diacho dos chinocas. Só assim poderia alguma vez vir a completar as cadernetas e ser dono da China, compreendes?
M. A. – Parker, tu não passas de um merdas de um Parker!
J. G. – Maria do Amparo…Tu por amor de Deus não me chames nomes! Detesto que me confundas com esse actor de meia tijela…Bem sabes que sempre que me chamas Parker, perco a cabeça e desato a falar em estrangeiro…
M. A. – Que raio se passa, Parker? Vá lá, Parker, mostra lá o parvalhão que és. Foste enganado pelos japoneses, essa é que é a verdade. Parker! Parker! Parker!
J. G. – Maria do Amparo…Não queiras pôr à prova os conhecimentos que adquiri no Instituto Jean Piagette…
M. A. – Parker! Parker! Parker!
J. G. – Como está, chinês? Como está usted, chinó? Come stà lei, chinuca? Comment vous portez-vous, chinulu? How do you do, chainote? Wie geht es Ihnen, chinulas? Estou bem, obrigado, chinês, estoy bien, gracias, chinó, sto bene, grazie, chinuca, je me porte bien, merci, chinulu, very well, thank you, chainote, ich befinde mich wohl, danke, chinulas. Pára com isso, Maria do Amparo! Não me tortures mais, por favor.
M. A. – Parker! Parker! Parker!
J. G. – Como não somos marido e mulher, marido y mujer, marito e moglie, mari et femme, husband and wife, Mann und Frau, terei, yo tendré, io avrò, j`aurai, i shall have, ich werde haben todo o dinheiro para mim...Só para mim…E então, entonces, allora, alors, then, dann, adeus, não terás direito a nada, a rien, a nothing…
M. A. – Parker! Parker! Parker da fava! Larga-me!
J. G. – Pára com isso, Maria do Amparo. Não imaginas quanto me custa ir buscar todos estes conhecimentos ao Piagette.
M. A. – Megalómano, parvalhão, chinês filho da mãe! Fora da minha casa!
J. G. – Meio galão, eu!? Eu até nem gosto...
M. A. - Megalómano! Megalómano! Megalómano! Não sabes o que é que isso quer dizer?
J. G.- Meio galómano, eu? Minha, mia, ma, my, meine, lá por seres mais velha que eu, ainda tens muito que aprender. O facto é que a China é minha e vendi-a ontem ao Japão, essa é que é a verdade.
M. A. – Chinês filho da mãe. Como te atreveste a coleccionar compatriotas nossos e a vender o nosso país ao nosso arqui-inimgo? És parvo ou fazes-te? Então já te esqueceste que nós também somos chineses? Parvalhão é o que tu és, chinês de feira. Fora da minha casa, Jaimung Gouchung!
J. G. --Deve haver alguma coisa que me está a escapar...
M. A. – Nunca vi homem tão estúpido como tu. Afinal de contas, como te chamavas antes de emigrarmos para Portugal?
J. G. – Antes de emigrarmos para Portugal? Hum…Bem…O meu verdadeiro nome era Jaimung Gouchung…Mas isso não significa que…
M. A. – Então não sabes que és tão chinês como os chineses, Jaimung Parvalhung?
J. G. – Marong do Amparong, querida, tens toda a razung. 您是母狗的儿子?Xu Li Zong Ma, Yong Ma Jong. Perdoa-mung, por favung. Acho que fiz disparatung. Xu Li Zong Ma…
M. A. – Escusas de falar chinês. 我爱你 Xu Li Zong Ma, Yong Ma Jong parvalhung. Forung da minha casung! Maldito o diung em que te conheçung. Forung da minha casung, forung!
Sarja Akhmani, repórter iraniano
ENTREVISTAS A GEORGE BUSH-I--À PROCURA DE BUSH
-- Porra, wake up, man!
--Acorda, Sarja!
--Vá lá acorda, Sarja!
--Wake up, Mr. Sarja Akhmani!
-- Akhmani Sarja, acooooooooooooorda, pá!
--Vá, desperta lá da boçalidade que te é habitual.
--Wahalad Ibib adid, Sarja!
--Wake up, man. There´s lot of work to be done!
--Acoooorda, Sarja!
--Es gibt viel Arbeit fur dir.
--Acor, Sarja, da!
--Sar, Acor, ja, da!
--Aco, Sa, r, da, JÁ!
--Não me chateiem…Quem me chama?
--Os teus patrões.
--Não sabia que tinha tanta gente a trabalhar para mim.
--Foste incumbido de uma missão arriscada.
--Qual? Salvar o planeta do Valentim Loureiro?
--Nada disso. É bem menos arriscada. Vais entrevistar o Presidente dos Estados Unidos.
--Qual deles?
--Qualquer um serve. Excepção feita a um ou a dois, têm sido todos muito parecidos.
--Posso optar pelo George W. Bush?
--Já repararam que o gajo de parvo não tem nada? A ideia é excelente. De mais a mais, o Bush está vivo e as viagens no tempo ainda estão muito caras. Tudo por culpa da Portugal Telecom.
-- Allah Al-akbar! Pois que seja o Bush! Allah Al-akbar!
--Tá bem, então que seja esse tipo!
--Sabes? Também vou entrar nesta coboiada.
--Irra que não ganhei para o susto. Quem és tu, afinal?
--Sou o Alcabideche José, o operador de câmera da TVI que te vai acompanhar nesta grande reportagem.
--Alguém que eu conheça?
--Vá lá, não sejas assim. Sabes tão bem como eu que sou o lado negro da tua alma…
--Ir contigo!? Nem pensar. Antes só que mal acompanhado. Além disso, não dizes coisa com coisa…Não, tu não vais comigo e não se fala mais nisso!
--Mas eu sou o teu pior amigo.
--Meu amigo!? Tu ires comigo? Só por cima do meu cadáver, Alcabideche José, animal.
--Está bem, sou um dos teus melhores inimigos, qual é o problema?
--Nenhum, claro está. O menino dorme com a Celina do Kuwait, que por acaso é minha namorada, e acha que está tudo bem.
--Ora, quem tem boca vai a Roma…
--Que é que estás para aí a dizer?
--Hum, nada que valha a pena ser pensado. Ala que se faz tarde, Sarja. Vamos?
-- E ele a dar-lhe. Já te disse que não vou. Detesto-te com quantas forças tenho na minha alma de reporter iraniano.
--Seja! Não faz mal. Sendo assim, não tenho outro remédio senão telefonar ao José Eduardo Moniz da TVI, ao Abib de Jesus Anwar de Macedo do Jerusalem Post, ao John Fernandes Frost do New York Times, ao José Rilke do die Welt e ao Borges da Time…
--Os meus patrões…Serias capaz de denunciar-me?
-- Claro que sim!
--Tens toda a razão. É sempre bom cumprir ordens dos nossos superiores hierárquicos. Vamos a isso?
Assim que chegámos à Casa Branca, fomos imediatamente recebidos pelo Presidente dos Estados Unidos. Simpático como poucos, George W. Bush desfez-se em cumprimentos. Depois acrescentou que sendo a pontualidade imprópria de um presidente americano, só nos restava esperar por ele. Foi então que se sentou num cadeirão verde, acendeu um charuto que lhe fora oferecido pelo Fidel de Castro, sorriu com a inteligência duns dentes muito brancos, afagou a ponta esquerda do bigode, cruzou e descruzou as pernas, e pôs-se a esperar por nós. E assim se passaram muitos anos. Entretanto, o fumo do charuto do mundo, sempre a subir em espiral, sofrera dolorosas mutações: enquanto a China tentava impor a Democracia e o Capitalismo ao Ocidente, a Europa e os Estados Unidos tinham adoptado um regime ferozmente comunista. Por outro lado, o nosso sistema solar havia sido colonizado não só por capitalistas ultra-liberais, como também por comunistas ortodoxos, que se guerreavam entre si. Enfim, dois perigos ameaçavam outra vez os mundos— a ausência de Utopia e os excessos dela.
--Valha-me Deus, Alcadideche José. Será que que estamos condenados a isto?
--Acorda, Sarja. A isto? A que te referes?
--A “isto”, Alcabideche José. Ao facto de, em 2050, estarmos a cometer novamente os mesmos erros do passado…
--Acorda, Sarja. Tu e a tua sonolência. Estamos em 2007. Olha, o sr. Presidente dos Estados Unidos está a chamar por ti…
--Sarja, sou eu, o Presidente Bush. Recebi o seu email, Sarja. Uma curiosidade, Sarja: como foi que me encontrou, Sarja?
--That´s a long story, Majestade, Mr. President. Calcorreámos a pé a América Latina…Brasil, Argentina, México, Malásia, Peru…foi ou não foi, Alcabideche José?
--Pois foi. E até conhecemos umas peruas de se lhes tirar o chapéu. Sarja...O lado direito do bigode do presidente trocou de lugar com o lado esquerdo do bigo...
--Não digas disparates, Alcabideche.
--Hum…Foi então que se lembraram que eu podia estar na América do Norte, certo?
--Pois foi. O Sarja é que disse que se calhar o sr. Presidente podia estar a viver mais a norte do continente europeu.
--Americano, Alcabideche. Sr. Presidente, Majestade…O caso é o seguinte: viemos cá fazer uma reportagem a mando dos nossos patrões.
--Whom do you work for?
-- Majestade, Mr. President…Sou jornalista do Expresso, da Bola, do Correio da Manhã, da TVI, do New York Times, do Jornal de Letras, do Chade Review of Books e de uma certa rapariga do Kuwait.
--Sarja, muito bem, Sarja. E você…Sarja, como se chama o seu amigo, Sarja?
--Alcabideche José, Mr. President.
--Que é que está ele a fazer aqui?
--É operador de câmera da TVI.
--Muito bem. Posso tratá-lo por Al?
--Claro que sim! Sarja...Já reparaste que o lado esquerdo do bigode do presidente trocou de lugar com o lado diteito do bigo…
--Cala-te. Vamos então ao trabalho, Majestade, Mr. President?
--Sarja, vamos a isso, Sarja. Faça as perguntas que quiser que eu reponderei se quiser, Sarja.
--Com certeza. Mr. President….Parece-lhe justo que morram tantas crianças no Iraque?
--Sabe, Sarja… Antes de responder, Sarja, tente acompanhar o meu raciocíonio e verá que tenho razão, Sarja…A questão é a seguinte: ou todas as crianças islâmicas são terroristas ou então só algumas crianças islâmicas são terroristas, certo, Sarja?
--Certíssimo. Não concordas, Alcabideche?
– Anh? Não me chateies com essa conversa. Não vês que estou a filmar o gato do Presidente?
--Continuando: se todas as crianças islâmicas são terroristas, Abdulah é de certeza terrorista.
--Mas isso é mais que evidente, Mr. President!
--Mas se, pelo contrário, Sarja, nem todas as crianças islâmicas são terroristas, então existe pelo menos uma não terrorista a quem podemos chamar Zeca Abib, Sarja. Logo, se Zeca Abib não é terrorista, todas as crianças islâmicas se chamam Abdulah e são terroristas.
--Bem visto, sim senhor.
--Além disso, sendo o Iraque um país europeu...Veja lá que eles até votaram contra a Constituição Europeia, baluarte dos princípios do Neoliberalismo económico na Europa. Sacanas! Don´t you agree?
--Sarja, o presidente tem toda a razão. Aliás, o Jacques Chirac, o presidente do Iraque, ficou decepcionadíssimo com os resultados do referendo… Sarja, o lado direito do bigode...
--Alcabideche…Cala-te e filma!
--Sarja, o presidente tem toda a razão: os iraquianos são uns ingratos. Uns pulhas. Esqueceram-se do desembarque na Normandia, do resgate do soldado Ryan e de todo o esforço criativo do Spielberg para filmar aquela maravilhoso plano-sequência…
--Sarja, estou a ver que o que o seu amigo Al “got the point”…
--Majestade, Mr. President…Estou em crer que o Alcabideche compreendeu tudo o que foi dito nesta conversa. A minha alma está parva.
--Sarja, a seu tempo o saberá, Sarja.
--Tem toda a razão, Mr. President, Majestade.
Sarja Akhmani, repórter iraniano
ENTREVISTAS A GEORGE BUSH-II--CAPRICHOS DE GATO
--Bem sabes que sou míope.
--Vai ver se estou ali na esquina, Alcabideche José. Não sabes o que estás a fazer. Ainda assim, podias muito bem ter escolhido outra profissão, não achas?
-- Eh, que mau feitio o teu. Piriri pipi…Só sei que vou fazer uns planos lindos.
--Isto não é cinema, pá. É televisão!
-- Com mil diabos, Sarja! Se a raça humana à qual pertences não tivesse irrompido neste nosso pequeno mundo, tal evento seria certamente um bem inestimável para a toda a Humanidade.
Eram exactamente oito horas e sessenta minutos quando entrei pela segunda vez na grande Sala Ovale-Tudo, na Casa Branca. Até aqui, tudo normal. No entanto, de tão comovido que estava, mal sentia o corpo e a alma. Como descrever a vasta complexidade de sentimentos que me acometiam nesse ensejo glorioso? Bem, vejam lá se compreendem esta comparação, porque eu não a entendo: como uma ave a fugir da boca suja de um leão que a não persegue, assim me sentia eu, leão sem corpo e sem asas, a não ser devorado pelo bico limpo de uma corpulenta ave sem juba. C’est pas rigolo?
--Vou começar com um grande plano da sala Ovale-Tudo. Que te parece?
--Não sejas inoportuno, pá. Deixa-me pensar.
Ainda hoje tenho bem presente essa notável manhã de luz e imbecilidade. Enquanto o Bush não chegava, o meu espírito pôs-se então a divagar em inconsciência pura pelo mistério sem destino da vida. Instintivamente, ocorreu ao outro eu que então havia em mim um aforismo por que sempre pautara a minha conduta de eterno-anarquista-sabujo-do-poder. “Bem vistas as coisas, a Vida é a vidinha”--escreveu certa vez o filósofo austríaco – (amigo e confidente de Wittgenstein) --Chico von Ratzinger Barata “e quem não pensa assim é uma bestazinha-quadradinha”. Confesso que levei exactamente oitenta e nove minutos a compreender a dimensão em luz viva deste aforismo. Por outras palavras: passei os últimos dez anos da minha druídica e fabulosa vidinha de anarquista sabujo a folhear com metódica satisfação, aos sábados à tarde, o livro mais conhecido deste inútil e obscuríssimo autor:”Bem vistas as coisas, a Vida é a vidinha”. De qualquer modo, os capítulos que li e reli com especial avidez e acuidade foram “E Quem Não Pensa”; (o Jacques Derrida quê se cuide!); “Assim” (um capítulo que examina a influência de Sartre em Zenão de Eleia) e, por fim, “É uma bestazinha-quadradinha” (o meu favorito).
--Gostava de filmar esse tal de Senão da Ilíada. Que tal começar com um contra-picado em braille?
--Lá estás tu a adivinhar-me os pensamentos. Tu e as tuas telepatias de fancaria míope… Não vês que estou a refectir sobre o sentido da vida?
-- Olha, enquanto o Bush não chega, vou ali ao Kuwait e volto já.
--Que a terra te seja leve, filho das Arábias. Não te esqueças, pois, de levar contigo o camelo de borracha que a TVI pôs à nossa disposição.
--Meu, Já voltei. O camelo era bué de rápido. Estive com a Celina Abdullah Ramallah Infante, a tua namorada…
-- Não acho graça nenhuma a essas brincadeiras. Bem sabes que gosto muito dela, embora já esteja a ficar farto de distâncias. Então, como é que ela está?
--Desde que dormi com ela que está bem melhor.
Daí a três semanas, chegou o Presidente dos Estados Unidos. Naquele dia memórável de intensa tertúlia, George W. Bush entrou mais alto que o costume. Trazia duas tranças louras coladas às têmporas, um bigode de cetim preto, e um gato aninhado ao pescoço. Só mais tarde é que viria a saber que se tratava de um bicho famosissimo na Casa Branca— o Gato-De-Longo-Alcance.Antes de se sentar num cadeirão verde que pedira emprestado ao José Eduardo dos Santos, Bush solicitou aos seguranças que o revistassem, pois tinha medo de estar armado e de correr perigo de vida.
--Sr. Presidente…Excelência…Como bem sabe, sou um eterno-anarquista-sabujo- do-poder. Não resisto a lamber as botas a quem quer que detenha o poder, é mais forte que eu. Pode ser um barbeiro, um porteiro, um alcoviteiro. Pode ser a abelha-mestra de uma numerosa colmeia perdida nos arrebaldes da Amazónia. Olhe, até pode ser a filha de um banqueiro. Qualquer poder serve, está a ver?
--Minúcias, meu caro, minúcias. O poder é o poder, tenha ele a dimensão que tiver. Todo o poder é grande, na medida em que é um ponto de vista que pode ser sempre ampliado até à cegueira total, está a compreender?
--Compreendo tudo, Excelência, vindo de si compreendo tudo. Posso apresentar-lhe o Alcabideche José, actual namorado da minha namorada e operador de câmera da TVI?
--Mas é claro que sim. Muito prazer, sr. Alcabideche. Posso tratá-lo por Al?
--Com certeza, sr. Presidente.O prazer é todo meu. Então, gostou do meu filme?
--De que é que o Al está a falar, Sarja?
--Sr. Presidente, Excelência…Lembra-se da última conversa que tivemos?
--Hum. Vagamente. Deixe-me lá pensar. Ah, sim, estávamos a falar de Steven Spielberg, não é verdade?
--Exactamente.
--What about him?
--O meu amigo e actual namorado da Celina do Kuwait, está convencido que é o Spielberg…
--Ora, minúcias, meu caro, minúcias. Eu também estou convencido de que sou o presidente dos Estados Unidos…
--E não é?!
--Vês? Tu és um parvo, Sarja. Afinal, foste chatear o José Eduardo Moniz para nada. Este gajo não é o presidente!
--Tem calma, Alcabideche José. Sr. Presidente dos Estados Unidos…Afinal, quem é o senhor?
--Ora, meu caro, não me vê aqui aninhado ao pescoço do Gato- De-Longo-Alcance?
--…
--Pois. Como vê, o gato é o presidente e o presidente é o gato.
--Quer então dizer que a pessoa que está sentada no cadeirão verde é o gato e não o senhor?
--Exactamente. Você é perspicaz, Sarja. Quanto a si, Al, que é que tem a dizer de tudo isto?
--Acho muito bem que o presidente dos Estados Unidos esteja disfarçado de Gato-De-Longo Alcance. Assim, já posso fazer um travelling para a frente, tirar os olhos ao gato e usá-los como lentes.
--Cala o bico. Sr. Presidente, o Alcabideche José não é o Spielberg, essa é que é a verdade.
--Então quem é o Al?
--É um operador de câmera gordo e míope que se parece muito com algumas personagens do Edgar Pêra.
--Sendo assim, o Gato-De-Longo-Alcance cessa imediatamente as funções presidenciais e passa a ser o Bush que já foi gato, entende?
--Mas é claro que sim. O óbvio e o obtuso.
--Perdão?
--Nada. Falava com os meus botões. Sr. Pesidente, será que podíamos retomar a conversa que tivemos há dias?
--Sim, claro que sim. Falávamos do Spielberg, o cineasta. O autor de “Encontros Imediatos do Terceiro Grau”, de “Amistad”, “Relatório Minoritário” e desse fabulso filme que o é “Inteligência Artificial”, certo?
--Sim, Excelência. Pelos vistos, gosta muito do Spielberg…
--Hum. Spielberg? Deixe-me pensar melhor. Tem graça. Nunca ouvi falar desse tipo. É famoso?
--Sim, Excelência. Famosíssimo.
--Sarja, já reparaste que as tranças louras do presidente reapareceram nas têmporas do Gato-De-Longo-Alcance?
--Alcabideche José, não interrompas, por favor. Excelência…Quer que lhe fale do Spielberg?
--Hum. Seria interessante. Afinal de contas, como não vou aprender nada consigo, é caso para dizer que a ignorância também não ocupa lugar, certo?
--Tem toda a razão, Excelência. Importa-se que lhe leia uns apontamentos que trago no meu notebook?
--Faça o favor, Sarja.É para isso que servem os jornalistas, não é verdade?
--Ah, claro que sim. Pois então aqui vai:”De origem alemã, Estevão Antunes de Spielberg foi presidente de Israel desde o dia 18 Maio de 1986 até 18 de Maio à tarde do mesmo ano”.
--Sarja, tu topa-me esta cena: reparaste que o bigode de cetim do presidente reapareceu no focinho do Gato-De-Longo-Alcance? Não te parece que o José Eduardo Moniz vai adorar esta reportagem? Afinal, tenho imagens absolutamente inéditas, e não creio…
-- Datze enuff, Alcabideche José! Estou farto das tuas impertinências, sugestões, críticas, alusões, desilusões, queixas, auto-elogios velados, e ingratidões… Estou farto dessas tuas manias, ouviste?
--Bem dizia o presidente que a ignorância não ocupava lugar…
--Com a breca, Alcabideque, deixa-me trabalhar.Além disso, importas-te, por um momento, de descolar da cara do sr. Presidente dos Estados Unidos os teus olhos ramelosos e gorduchos de operador de câmera da TVI?
--No problem, Sarja.O seu amigo míope não constitui uma ameaça séria. Aliás, desde que tomei posse como presidente do mundo que a América está mais segura. Vamos ao Spielberg?
--Com certeza. Acho que me perdi…Ah, já sei onde íamos:” De mais a mais, Spielberg mandou construir um muro em torno das aldeias palestinianas, bombardeou com afecto e simpatia muitas delas, construiu honestos colonatos em território palestiniano, e como se isso não bastasse, aproveitou-se das circunstâncias para os pôr a trabalhar numa fábrica. Foi assim que filmou a “Lista de Schindler”.
--He was a smart guy!
--Claro que era esperto! Acha que o josé Eduardo Moniz me contratou por gostar dos meus lindos olhos?
--Alcabideche, pára com isso!
--Vê lá tu que apesar de míope, consegui ver a boca da Manuela Moura Guedes.
--Essa foi fraca, Alcabideche. Olha, vai lá fora ver se chove.
--Está bem. Acho que vou aproveitar o ensejo para ir até ao Kuwait ver a Celina Ramallah Infante. Olha, já voltei. Este camelo é mesmo bué de rápido.
--Então, que tal está a Celina?
--Está tudo mal... Diz que está arrependida de ter dormido comigo e que continua a gostar do outro que há em ti.
--Ah, óptimo! Sabes, a vida é uma carta fechada para quem tem os olhos bem abertos como ela, e uma carta aberta para aqueles são míopes de espírito como tu, Alcabideche.
--IRRA! Caluda! Datze enuff! Eu, o Gato-De-Longo-Alcance, filho de Isaías e de Jacob, declaro encerradas as tuas conversas com o presidente dos Estados Unidos.
--Chi! Tu… falas como nós?
--Caluda, Alcabideche José! E quanto a ti-mim Bush, bora daqui. Estou cansado de estar parado sem ter país nenhum para bombardear.
domingo, 18 de novembro de 2007
TLEBS DO AMARAL, ÓRFÃO DE PAI AOS 65 ANOS
Professor jubilado da Universidade de Lisboa, Mário Carvalho Tlebs do Amaral é um dos maiores filósofos e linguístas europeus. É autor de obras como “As Origens Sociais dos Disjuntores Mentais--para uma teoria geral dos Gigantes Magnéticos”, e desse inclassificável livro que dá pelo nome de “Introdução Crítica à Teoria dos Incompatíveis Bifurcantes”. Mais recentemente ganhou alguma notoriedade ao criar a Nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário.
Sarja Akhmani (S.A.) – Professor, obrigado por nos receber em sua casa. Talvez seja interessante saber qual foi o motivo que despoletou a criação da Nova Terminologia Linguística (Tlebs).
Tlebs do Amaral (T.A.) – Sabe, vivemos numa época em que os paradigmas mudam todos os dias. O mundo está cheio de paradigmas, é a superstição da novidade. A Austrália, por exemplo, é um paradigma, sabia disso? E a minha vizinha também. O pior é que toda a gente está confusa com os paradigmas da Austrália e esquece os da vizinha. Há uma velhinha que tropeça numa casca de banana e vai-se a ver e é um paradigma.
S.A. -- A sorte dela foi ter escorregado num paradigma.
T.A.--Há coisa de dois ou três meses os paradigmas do meu carro eram redondos e verde-garrafa. A semana passada, porém, o meu filho deu-lhes umas valentes marteladas e pintou-os de azul-bebé. Agora, não só mudaram de cor como são quadrados. Como vê, os paradigmas mudam da noite para o dia, Sarja.
S.A. – O professor deve estar a referir-se aos pára...
T.A. – Não, tanto num caso como no outro os significantes “tropeça/não tropeça na casca de banana” opõem-se estruturalmente a “verde-garrafa/azul-bebé”. O real desliza, está a ver? E tanto assim é que não só deslizou sob os pés da velhinha como não resistiu às marteladas do meu filho…
S.A. – O professor deve estar a referir-se aos pára-lamas do seu carro…
T.A.--O real flutua, essa é que é a verdade. É como se fosse um ídolo de muitos braços, um polvo escorregadio que não só muda de cor quando lhe apraz, como não resiste a umas boas marteladas….
S.A. – Repito: o professor deve estar a referir-se aos pára-lamas do seu carro.
T.A.--Tem toda a razão, Sarja. Normalmente confundo “pára-lamas” com “paradigma”, é um velho hábito meu.
S.A. – Professor Tlebs do Amaral, mesmo assim talvez não seja de todo desinteressante indagar as razões de uma terminologia que tanta celeuma tem provocado nos meios académicos e não só.
T.A.--Sarja, quando se chega a uma certa idade é importante mudar a nossa atitude para com as pessoas e as coisas em geral.
S.A. – A maturidade a tal nos obriga…
T.A.--E não só, Sarja, os paradigmas também. Os paradigmas estão por toda a parte. A Nova Zelândia também é um paradigma, sabia? E a irmã da minha vizinha também. Abre-se o olho esquerdo, e vê-se imediatamente um paradigma. Abre-se o olho direito e lá está outro paradigma a querer espreitar cá para dentro.
S.A.— E a Nova Terminologia, professor?
T.A.--Bom, a criação desta nova terminologia assenta num acontecimento que ocorreu a semana passada. Finalmente fiquei órfão de pai aos sessenta e cinco anos. A verdade é que sempre nos demos mal. Tínhamos discussões brutais. O meu pai estava constantemente a dizer que vivíamos rodeados de parasitas. Para ele, os tipos que não trabalhavam e viviam às custas dos outros eram parasitas, veja-me a cabeça daquele homem. Ele nunca entendeu que era um novo paradigma que estava a emergir. Vai daí, disse de mim para mim: bom, agora que estás morto é que a gente se vai entender….
S.A. – Quer então dizer que criou a Nova Terminologia com o intuito de comunicar com os mortos?
T.A.--Exacto!
S.A. – Com mil diabos! Mas isso é éxtra ór dnário!
T.A.--Na realidade, é um nadinha-ínha espantoso!
S.A. – Daí o facto de aparecerem termos que não lembram ao diabo…
T.A.--Sabe, os mortos falam línguas que não lhe passa pela cabeça. Línguas esquisitíssimas, você nem imagina. Isto é só para lhe dar um exemplo: ainda há dias estava eu todo descansadinho a gozar uma sessão espírita e de repente apareceu-me um fantasma que falava…português.
S.A. – Mas isso é éxtra ór dnário! Para que serve o Espiritismo, Professor?
T.A.--O Espiritismo serve simultaneamente para libertar e retirar. Passo a explicar: se você estiver interessado em progredir espiritualmente, poderá ajudá-lo a libertar a mente do espírito e o corpo da matéria. Por outro lado, se quiser progredir ainda mais, não só o ajudará a libertar a matéria da vizinha, como a retirar o juízo ao marido dela.
S.A. – Mas isso é éxtra ór dnário!
T.A.--Na realidade, o Espiritismo é um nadinha-ínha espantoso.
S.A. – Professor, há quem diga que uma terminologia não tem necessariamente de resolver problemas de descrição de uma língua, na medida em que não é uma gramática. No entanto, não lhe parece que a toda a taxinomia está sempre subjacente uma concepção do objecto que pretende classificar? Sendo assim, não faz muito sentido pôr de parte uma terminologia que deixa muita coisa de fora e substituí-la por outra que também não resolve nada e que ainda se dá ao luxo de complicar o que não explica….
T.A.--Na realidade, a Nova Terminologia é um nadinha-ínha espantosa.
S.A. – O problema é que os professores se deparam a cada passo com incongruências que depois não sabem explicar aos alunos, sobretudo quando estes se lembram de exercer o seu espírito crítico.
T.A.--Engana-se, Sarja. Tal como o meu pai, os professores também já estão mortos. Daí achar que esta Nova Terminologia está perfeitamente adequada a tão afável classe.
S.A. – Professor Tlebs do Amaral, é capaz de especificar melhor a utilidade da Nova Terminologia?
T.A.--Com todo o gosto, Sarja. Veja-se o nome “chaminé.” Dantes dizia-se que era uma nome concreto e mais não sei quê. Ora, que é faz uma chaminé? Expele fumo. Vai daí o ter incluído essa palavra na subclasse dos “tubos de escape das casas”. É bem mais simples, está a ver?
S.A. – Estou a ver…
T.A.--O mesmo ocorre com os clássicos “substantivos colectivos”. As abelhas, por exemplo. A irmã da minha cunhada (que por acaso também é minha mulher) tem uma abelha de estimação que come três quilos de erva por dia. Ora, se a abelha dela está gordíssima e come que nem um alarve, é caso para dizer que o nome que designa um conjunto de abelhas pertence à subclasse dos “Estábulos de vacas de mel”, está a ver. É muito mais simples.
S.A. – E os portugueses, Professor Tlebs do Amaral?
T.A.--Já reparou que ao contrário dos agora entre nós tão propalados nórdicos, os portugueses esqueceram-se do direito à desobediência civil? Veja-se os dinamarqueses. Acha que são atrasados? Que dizer de um povo que vai para a rua manifestar o seu inalienável direito à indignação quando sente que foi enganado?
S.A. –O Fernando Pessoa escreveu algures que os portugueses gostam de governos fortes…
T.A.--Os Portugueses, esses cobardolas ordeiros que se deixam manipular por galos com tiques autoritários? Enquanto os dinamarqueses ainda são vikings, nós não passamos de um nome não animado e nada contável. Por isso, decidi encaixar o substantivo que designa um conjunto de portugueses na subclasse da “Capoeira dos cavalos que comem e calam”. Está a ver? Assim, tudo se torna mais claro.
CONFISSÕES DE UM XIITA DA PAREDE
Sempre de atalaia, este blogue decidiu enviar ao local o repórter em loop permanente Sarja Akhmani, o das mil faces, desta feita sob a opaca identidade de Norberto Chuang Faria, com a finalidade de entrevistar este Brancamp Sobral formado no colégio alemão dos dejectos domingueiros deixados pelos veraneantes.
C. F.—A sua fisionomia não me é de todo estranha…Como é que tudo isso acabou?
C.F.— Inimigos!?
C.F.— Vem a meus braços, Mamute, aliás, Maria Clara, minha rica filha….
ALEXANDRA SOLNADO LIDERA CRUZADA CONTRA O IRLÃO
Entretanto, Sarja Akhmani, o mais-que-perfeito incompetente repórter iraniano a viver actualmente em Portugal, deslocou-se ao local muito antes de tudo isto ter sido concebido:
A CRUZADA DA ALEXANDRA SOLNADO TEM O PATROCÍNIO OFICIAL DO BANCO TOTTA E SATANDER. QUEM É SIMPÁTICO, QUEM É?
--Depois, kiss my pussy, a coisa está feia, pois Jess Cristo tem-me dito amiúde que sim, que vá, que veja, que seja, que intervenha, que reponha, que componha e recomponha aqueles trastes de barba de cereja, herbívoros do haxixe e muleques do deserto, caricaturistas do meu Salvador Peter Pan.
--Nós somos as Solnadas de Cristo! Além disso, dispomos de uma falange, “os Remediados do Tomate”, que irá dar cabo em três tempos dos “Acanhados da Pélvis”, a elite do exército do Irlão….
OS TRÊS CÍRCULOS PERFEITOS
sábado, 17 de novembro de 2007
GOVERNO DÁ PODER À ERC PARA CENSURAR TELEVISÕES
Como é por de mais sabido, Sarja Akhmani encontra-se actualmente nos Estados Unidos numa missão que tem tanto de pioneira quanto de piolheira: estudar o fenómeno George W. Bush.
Uma vez chegado a Portugal, Sarja Akhmani dirigiu-se à Secretaria de Estado da Censura onde foi prontamente informado da ausência do governante. No entanto, a recepcionista, simpática, apressou-se a arranjar-lhe Um Qualquer Senhor Secretário de Estado da Censura:
"Temos cá muito disso. Veja lá, ainda ontem estive a limpar os armários e deitei no lixo alguns secretários de estado da censura. O problema é que eles contaminam de tal maneira os caixotes do lixo onde são depositados que os detritos deixam de poder ser reciclados. Olhe, você está cheio de sorte. Acabei agora mesmo de encontrar um deles no caixote do lixo. Vá, experimente este Um-Qualquer-Senhor-Secretário- de-Estado-da-Censura e vai ver que não se irá arrepender…
"Sarja Akhmani (S.A.) — Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado-da- Censura, qual é o verdadeiro intuito desta lei?
Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado-da-Censura (U.Q.S.S.E.C.) — Repare, esta lei tem o intuito de um dia ter um intuito qualquer.
S.A.— Não lhe parece perigoso atribuir poderes censórios a órgãos presumivelmente independentes, mas que um dia podem ganhar asas e voar?
U.Q.S.S.E.C.-- Como seria de esperar, não poderia estar menos de acordo consigo. A ERC não tem qualquer parceria com a Boeing, nem com a Airbus, pelo que a curto prazo é humanamente impossível que venha a ganhar asas.
S.A— Um dos atributos da ERC é evitar "o incitamento ao ódio político". Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado-da Censura, não lhe parece demasiado ambíguo este tipo de formulação?
U.Q.S.S.E.C. – Repare, nos tempos que correm, só governa quem souber produzir discursos ambíguos. Só assim é que a Direita se moderniza em Esquerda moderna, percebe?
S.A— Posso lembrar-lhe que na RTP já existe para o efeito um Provedor do Espectador?
U.Q.S.S.E.C. -- Sim, já existe, mas ainda não foi criado.Vê? Você também está a ser ambíguo. Além do mais, esta lei visa interromper emissões em directo em que estejam ministros do governo português a produzir discursos pouco claros e enganosos…
S.A— Como!? Terei compreendido bem as suas palavras?
U.Q.S.S.E.C. -- Compreendeu, meu amigo. Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que todos os nossos governantes tomam ou tomaram Prozac com alguma regularidade, pelo que...
S.A.— A minha alma está parva!!! Ainda bem que a simpática da recepcionista me indicou o senhor…
U.Q.S.S.E.C—Em segundo lugar, é preciso proclamar bem alto o que só pode ser dito em voz baixa. Fiz-me entender?
S.A.— Perfeitissimamente, Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de-Estado- da-Censura. No entanto, continuo sem compreender a sua atitude. Afinal de contas, o Sr. é Um-Qualquer-Senhor-Secretário-de Estado-da- Censura e supostamente deveria defender a ERC…
U.S.S.E.C— Sabe, vou ser sincero consigo. Eu não sou Um-Qualquer- Senhor-Secretário-de-Estado-da-Censura….
S.A.— Que estranho…Afinal, quem é o senhor?
U.S.S.E.C— Sou o marido da recepcionista. Este desfecho foi brilhante, não foi?
Wholinkstome
INQUÉRITO: QUE PIENSAS DE LOS GOBIERNOS?
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