sábado, 17 de novembro de 2007

SUA SANTIDADE EL DEPUTADO RAMON CAVALO





Ramon Cavalo é, sem dúvida, um dos mais notáveis e desconcertantes El deputados da nossa praça. Homem de Cultura e de princípios inabaláveis, foi desovado aqui há anos por “Eco-na-erva”, uma égua comanche nada e criada no Alto do Pina.


Criança precoce, cedo se evidenciou pela retórica luzidia dos seus muito cavalares silêncios. De registar que já aos sete anos de idade espairecia todos os dias pelas ruas daquela belíssima aldeia, o cachimbo de cavalo encravado na cultíssima boquinha cor-de-rosa, o narizito de relincho de muito hábil cavalgar, um cravo de Abril a pender-lhe da humana orelhinha direita.


Volvidos alguns anos, o “cachimbo do Alto do Pina” (como era então vulgarmente conhecido) encostou-se às pintinhas cor de laranja do PPD/PSD de José Sócrates.


Como não podia deixar de ser, o pior de entre os piores repórteres iranianos a viver actualmente em Portugal, Sarja Akhmani de seu nome, foi encontrar El deputado Ramon Cavalo nos Passos Perdidos. Desse pouco recomendável encontro resultou a conversa que ora passamos a relatar:


Sarja Akhmani (S.A) — Ora viva, sr. Ramon Cavalo. Bons olhos o vejam!

Ramon Cavalo (R.C.) — Sarja, meu amigo. Já de regresso a Portugal? Espero que desta vez tenha vindo para ficar…Nem sei como consegue conviver com tipos tão incultos como os americanos…

S.A— Amigo Ramon, já alguma vez teve amigos americanos?

R.C. — Ora, toda a gente sabe que os americanos são incultos. Um país provinciano, uma literatura paupérrima. Para tal, basta ler alguns autores americanos actuais: o Paul Auster, o Philip Roth e o Don Delillo, por exemplo…Absolutamente execráveis…Isto para já não falar do Walter Whiteman

S.A—Walt Whitman…

R.C. — Exacto. Não era esse que gostava de engatar marinheiros?

S.A— A sexualidade equídea é muito complexa e todo o cavalo tem direito a escolher o tipo de cavalariça onde deseja dormir.

R.C. — Apesar de ser uma espécie em vias de extinção, prefiro ir pescar baleias ali para as bandas do Cabo Espichel, e depois levá-las a jantar ao Tavares Rico…Coisas de cavalos, não é verdade?

S.A— De qualquer das formas, não é o Whitman que me traz hoje aqui, mas as políticas do governo PPP/PSD de José Sócrates.

R.C. — E lembrou-se de mim, não é verdade? Pois fez muito bem. Venham daí as perguntas que tanto eu como o meu cachimbo teremos muito gosto em responder.

S.A— Amigo Ramon Cavalo, posso saber se já debitaram o subsídio de natal na sua conta bancária?

R.C. — Mas é claro que sim! Os compromissos são para cumprir, não é verdade?
S.A—Sabia que o seu governo achou por bem privar os professores universitários de receber o respectivo subsídio?

R.C. — Sabe, o meu governo tem vindo a desenvolver políticas sociais que visam retirar privilégios a três poderosíssimos lobbies do nosso país: os deficientes, os reformados, e os professores universitários.

S.A— Sempre tive uma visão bastante negativa do academismo balofo de certos “mestres”. No entanto, há excepções, e não se pode negar que, de um modo geral, os professores universitários têm dado um contributo importantíssimo ao nosso país, não lhe parece?

R.C. — Não seja ingénuo, Sarja! O que eles querem é estudar gajos mariconços como o tal de Walter Whiteman.

S.A—Além de fraca, a sua resposta é a prova provada que de nada vale estudar livros sobre o Humor e a escrita humorística de autores como Freud, Henri Bergson e Mel Helitzer…

R.C. — Ahn? Está a falar de escritores americanos, não é verdade? Era o que eu dizia: não prestam para nada.

S.A—E quanto aos reformados, Ramon Cavalo? Parece-lhe bem que o seu PPD/PSD lhes faça a vida negra?

R.C. — Francamente, Sarja, você é básico. Afinal de contas, para que é que precisamos de reformados se somos reformistas? Será que você não se apercebe da contradição?

S.A— Mais uma resposta sem piada nenhuma. Isto vai de mal a pior. Adiante. E os deficientes?

R.C. — Bem, esses são uma questão àparte. Os deficientes constituem uma espécie de síntese social dos reformados e dos professores universitários.

S.A— Como assim!?

R.C. — Repare, se os deficientes não estudarem muito bem a sua deficência não se tornam deficientes, mas reformados, não é verdade? Entretanto, aqueles que concluíram a tese gastaram rios de dinheiro do erário público. Sendo assim, é justo que percam algumas regalias, não acha?

S.A— Já não acho nada. Bom, será que poderíamos mudar de assunto? Podemos falar, por exemplo, das duas vertentes do El deputado Ramon, a do homem e a do cavalo?

R.C. — Com certeza. Venham daí as perguntas que tanto eu como o meu cachimbo teremos muito gosto em responder.

S.A— Qual tem sido a sua actividade equidea e humana na Assembleia da República?

R.C. —Como deve ter tido conhecimento através dos jornais, faço parte de uma comissão que fundou o OPCTS (Observatório Parlamentar das Comissões que Trabalham a Sério). Isto é duro de roer, amigo. Há tipos como o Manuel Alegre, e gajos do PCP e do Bloco de Esquerda que levam isto mesmo muito a sério. Enfim, uma trabalheira dos diabos. Para eles, como é óbvio.

S.A— Um El deputado como você deve ter muito tempo de sobra, não é verdade?

R.C. — Sabe, ver os outros bastante atarefados é uma função duríssima. Vou dar-lhe um exemplo: quando me apercebo que alguns tipos vão ficar aqui a estudar dossiers até tarde, pego em mim, vou até ao cabo Espichel, pesco uma baleia, janto com ela no Tavares Rico, e depois venho até cá observar melhor esses cavalos que mais não fazem senão trabalhar.

S.A.— Já ouvimos essa história. No entanto, noto em si uma diferença assinalável: parece-me um pouco mais calmo, um pouco mais mais adulto, mais compenetrado. Estarei enganado?

R.C.— Tem toda a razão. Sabe, de tanto observar quem trabalha no duro, tornei-me monge budista. A história resume-se a muito pouco. Anteontem, ouvi dizer que o Budismo estava na moda e esta manhã acordei budista. Foi uma coisa bastante rápida, nem sei explicar como é que aconteceu. Por isso, agradeço que me passe a tratar não só por Cavalo, mas também por Sua Santidade. Sua Santidade Ramon Cavalo.

S.A.— Sua Santidade Ramon Cavalo, posso então concluir que você é contra todo o tipo de violência, certo?

S.S.R.C..— Com efeito, o meu cachimbo é visceralmente contra todo e qualquer tipo de violência.

S.A.— Não será, portanto, difícil de inferir que, em caso de agressão, você até iria agradecer…

S.S.R.C.— Exacto.

S.A.— Sendo assim, permita-me, Sua Santidade Ramon Cavalo, que lhe dê uma sova budista por todos os disparates que produziu ao longo desta conversa?

S.S.R.C.— Faça o favor. A sova é sua. Cavalo budista que se preze tem tempo de sobra e lombo onde leve.


Sarja Akhmani, repórter iraniano

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